Em cerca de 24 horas, policiais militarem em serviço mataram seis pessoas na capital e duas na grande SP, totalizando oito casos entre sexta-feira (29) e sábado (30).
Na capital, segundo a SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), sob gestão João Doria (PSDB), foram registradas 72 mortes por policiais em serviço no primeiro trimestre do ano passado. Na Grande SP foram 27.
Foram registrados confrontos entre PMs e suspeitos nos bairros Jardim Arpoador (zona oeste), Cangaíba e Penha (zona leste), além de Marsilac, Sacomã e Ipiranga (zona sul). Além da capital, também foram registradas duas mortes, em supostos tiroteios com policiais, em Itapecerica da Serra e Mauá, ambas na Grande São Paulo. A reportagem teve acesso a alguns dos casos.
Na sexta-feira (29), segundo a PM, “dois homens estavam em atitude suspeita”, quando caminhavam pela rua Siqueira Bulcão, na região do Ipiranga (zona sul). Após os policiais darem sinal para que os dois parassem, eles teriam atirado contra os agentes.
Um deles, identidade não informada, foi ferido e encaminhado ao pronto-socorro de Heliópolis, onde não resistiu. Com ele, a polícia aprendeu uma pistola 9 milímetros, com numeração.
O outro suspeito fugiu para dentro de uma favela, onde a PM afirma ter localizado um revólver calibre 32, numeração raspada, que teria sido usado na troca de tiros. O caso foi encaminhado ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).
Ainda na sexta-feira (29), na região da Penha (zona leste), a polícia abordou a um Hyundai Santa Fé prata, com quatro ocupantes. Segundo a PM, após o veículo parar, um dos ocupantes desceu atirando. Os policiais revidaram. O suposto atirador foi ferido, encaminhado ao Hospital do Tatuapé (zona leste), onde acabou morrendo. Os outros três suspeitos conseguiram fugir, ainda segundo a PM.
No sábado (30), no bairro de Cangaíba (zona leste) policiais militares entraram na casa de um acusado por tráfico de drogas, por volta das 11h. Dentro do imóvel, os PMs afirmam que foram alvo de tiros, de uma pistola calibre 45. O suspeito foi ferido pelos policiais e levado ao pronto-socorro Hermelino Matarazzo, onde morreu.
Rafael Alcadipani, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que “infelizmente” no Brasil o histórico de ações inadequadas, feitas por policiais militares em serviço, faz com que casos de morte por intervenção demandem investigações. “Não temos certeza, infelizmente, do que de fato ocorre nestes casos [de troca de tiros entre policiais e suspeitos]”.
Alcadipani ponderou também que “há casos legítimos” em que policiais acabam matando criminosos. “Não podemos ser irresponsáveis de dizer que as ações são ilegítimas. Porém, há um limbo [de compreensão] quando ocorre uma morte por intervenção policial.”
Resposta
A SSP afirma que os casos mencionados pela reportagem são investigados pelo DHPP. A pasta acrescentou que foram requisitados exames periciais e residuográficos “aos envolvidos”. “Todas as armas, tanto as dos suspeitos quanto as dos policiais, foram apreendidas e encaminhadas para balística”, diz trecho de nota.
A PM instaurou um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar os fatos. A Corregedoria da corporação acompanha as investigações.
A Ouvidoria das polícias afirmou que vai instaurar um procedimento nesta segunda-feira (1º) para acompanhar as investigações sobre as oito mortes registradas em 24 horas na capital e Grande São Paulo.
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