As apreensões de cocaína feitas em postagens remetidas por traficantes nos Correios no estado de São Paulo explodiram 1.675% em um ano. Segundo dados da Polícia Federal, foram apreendidos 3,6 kg da droga, em 2017, e 63,9 kg em 2018.
O volume de cocaína remetido em correspondências em São Paulo, no ano passado, representa 45,7% dos 140 quilos localizados em envelopes e caixas por todo o país no período. Além da cocaína, outras drogas também circulam pelo Brasil em postagens físicas, como maconha e ecstasy (droga sintética feita em laboratórios no exterior).
No primeiro trimestre deste ano, ainda segundo a PF, São Paulo registrou a localização de 15 kg de cocaína em encomendas, 83% dos 18 kg apreendidos no Brasil durante o período. Os 17% restantes da droga foram apreendidos em Roraima.
Para o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Guaracy Mingardi, o aumento das apreensões de drogas em correspondências não significa que a prática tenha crescido, mas há mais eficiência na investigação. "A polícia precisa de informantes para este tipo de apreensão. É igual roubo de carga, eles [policiais] vão no veículo que sabem que transporta algo ilegal porque alguém informou. Não acontece por sorte", disse.
Ainda segundo a PF, a quantidade de comprimidos de ecstasy encontrados em correspondências no estado (16.455), ainda no ano passado, corresponde a 52% dos 31.434 comprimidos apreendidos no Brasil. No ano anterior, a PF não apreendeu nenhuma droga do tipo em São Paulo.
São Paulo seguiu a tendência de todo o Brasil, que registrou aumentos consideráveis na quantidade de drogas apreendidas em correspondências, entre 2017 e 2018, segundo a PF.
Considerando o período, no país houve aumento de 677% na apreensão de cocaína (de 17,9 kg para 140 kg); 1.405% de comprimidos de ecstasy (de 2.008 para 31.434) e 221% de maconha (de 28 kg para 91 kg).
"O ecstasy é uma droga que faz o caminho inverso. Vem da Europa para os consumidores brasileiros, em sua maioria de classe média alta. É um tráfico, diria, que artesanal", afirmou Mingardi.
Setor de correspondência
O delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Drogas do estado de São Paulo, da Polícia Federal, atribui o aumento de apreensões de cocaína no estado ao fato de os Correios e a Receita Federal, que trabalham em conjunto com a PF, manterem um setor de correspondência.
"Traficantes migram para outros estados vizinhos, fazendo remessas de cocaína, imaginando que o contingenciamento da droga será feito de maneira diferente", afirmou.
Ele acrescenta que a PF dá apoio aos Correios e Receita para a identificação da droga que, se for positiva, faz com que a instituição investigue a procedência e suspeitos envolvidos.
"Há um projeto em andamento para que, até o fim deste ano, sofistiquemos ações de inteligência para melhorar nossas informações, para chegar aos alvos [suspeitos]", disse o delegado. Ele acrescenta que criminosos foram identificados e que, no prazo mencionado, serão presos.
Resposta
Os Correios afirmam que aprimoram periodicamente seus métodos de fiscalização de correspondências. "Toda encomenda identificada com conteúdo ilícito é retirada do fluxo postal e a Polícia Federal é acionada", diz em nota.
Algumas das ferramentas usadas para fiscalização "não invasiva" durante o fluxo postal, explica a empresa, é o aparelho de raio-X.
Questionado, os Correios afirmam que "até o momento" nenhum funcionário foi flagrado facilitando a postagem de drogas. "As encomendas são postadas fechadas e posteriormente submetidas à fiscalização, em outra unidade dos Correios", finaliza.
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