Descrição de chapéu Zona Norte

Hospital do Mandaqui dispensa paciente e alega falta de médicos

Quem chegava ao pronto-socorro ouvia que só tinha um profissional

São Paulo

A falta de médicos no pronto-socorro adulto do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, na zona norte da capital, implicou no fechamento provisório do setor de triagem dos pacientes nesta segunda-feira.

Pacientes permanecem internados no corredor do Hospital do Mandaqui (zona norte) - Elaine Granconato/Folhapress

Apenas foram atendidas as pessoas que chegavam na emergência pelo resgate do Corpo de Bombeiros e pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

O hospital público atende casos de alta complexidade e pertence à rede estadual, sob gestão de João Doria (PSDB).

Na recepção do pronto-socorro, três funcionárias informavam as pessoas que chegavam ao local de que não seriam atendidas.

"Não temos triagem hoje [nesta segunda-feira], porque só há um clínico restrito à emergência. Estamos com número reduzido de funcionários. Sugiro que procure pelo pronto-socorro de Santana [municipal]", disse uma das atendentes a uma paciente.

A porta da sala de classificação de risco permaneceu fechada por toda manhã e parte da tarde. As cadeiras na recepção, vazias, chamavam à atenção das pessoas no pronto-socorro, conhecido pela alta demanda às segundas-feiras.

Em vão

Em uma cadeira de rodas empurrada pelo namorado Raphael Almeida Freitas, 26 anos, a atendente Beatriz Tamashiro, 22, chegou com o pé esquerdo esticado e inchado, após tombo na escada domingo à noite.

"Me falaram que não tinha ortopedista e que fosse ao PS de Santana. Ou se quisesse voltar às 19h e tentar a sorte”, afirmou Beatriz, que reclamada de dor no pé. A jovem da Casa Verde (zona norte) chegou às 13h30.

Mesma situação da doméstica Sueli Soares Dezuani, 63, da Vila Guilherme (zona norte), que acompanhava o neto Gabriel Henrique Kampf Baptista, 20, para passar por consulta com neurologista.

"Falaram que não tinha médico e era para ir ao AME [Ambulatório Médico de Especialidades]." Ela mostrou pedido para consulta de retorno com neurologista, datado de 15 de maio de 2018. 

Problema crônico

Problema crônico no Hospital do Mandaqui, e mesmo com pacientes sendo dispensados, doentes estavam internados nesta segunda-feira em macas espalhadas nos corredores do pronto-socorro adulto.

Idosos, mulheres e homens dividiam o espaço entre o entra-e-sai dos funcionários de saúde. E também com o pessoal da limpeza com sacos de lixo na mão ao lado dos pacientes, em área bem próxima à porta de entrada da emergência.

A reportagem teve acesso ao local e registrou 14 pacientes em macas, durante o horário de visita. No entanto, o número seria bem maior no início do plantão, a partir das 7h, quando 38 pessoas permaneciam internadas nas macas, segundo o Agora apurou no hospital.

Aos poucos, a direção do hospital foi transferindo os pacientes das macas para outros hospitais referência de retaguarda do Mandaqui ou até mesmo liberando de alta.

Outros foram transferidos para os leitos de internação no 4º andar do hospital, onde ficam os pacientes da clínica médica, ou no 5º andar, que reúne os casos de clínica cirúrgica, ortopedia, neurologia e bucomaxilofacial.

Com a escala defasada de médicos no pronto-socorro adulto ontem, os atendimentos nos consultórios também foram afetados, principalmente na ortopedia, neurologia e clínica médica.

"Só por Deus mesmo. Há cerca de 15 dias estive aqui para passar com o médico à tarde, mas não tinha equipe na triagem", afirmou a educadora Érica Cristina Bernardes, 41 anos.

Histórico

Em 15 de janeiro deste ano, a reportagem do Agora flagrou 48 pacientes internados em macas nos corredores do pronto-socorro adulto do Conjunto Hospitalar do Mandaqui. Um dia depois de o jornal mostrar a superlotação da unidade, a direção reduziu para oito o número dos acamados no local improvisado.

Na época, segundo a reportagem apurou, alguns dos 48 pacientes internados permaneciam nas macas há pelo menos uma semana.

Sem nenhuma privacidade, os pacientes recebiam medicação, eram avaliados pelos médicos e se alimentavam em local de passagem. Muitos deles eram idosos e ficavam acompanhados de familiares sentados em cadeiras.

Na oportunidade, a superlotação levou o secretário Estadual de Saúde, José Henrique Germann Ferreira ao hospital para vistoriar a situação relatada. Ao menos, seis pacientes que estavam nos corredores foram transferidos para internação nos andares superiores do próprio Mandaqui.

De lá para cá, alguns cuidados estariam sendo tomados pela direção do complexo estadual para se evitar a superlotação e a exposição negativa na mídia, segundo a reportagem apurou.

Como, por exemplo, quando a triagem para classificação de risco está ativa no pronto-socorro, apenas seis pacientes são atendidos a cada uma hora.

O atendimento inicial é realizado por um médico, com auxílio de um profissional da enfermagem.

Resposta

A Secretaria de Estado da Saúde, gestão João Doria (PSDB), diz, em nota, que ontem "havia oito médicos, entre clínicos, cirurgiões e demais especialistas atuando no setor" apesar de a reportagem ter constatado o problema no pronto-socorro do Complexo Hospitalar do Mandaqui. E que que o houve reforço de mais dois médicos na triagem.

A pasta afirmou que o hospital, por ser referência em alta complexidade, "prioriza os pacientes mais graves e urgentes".

Sobre os pacientes em macas nos corredores, disse que "o fluxo é dinâmico, e que o hospital encaminha pacientes para os leitos à medida que estes vão sendo liberados".

Em relação ao caso do paciente Gabriel Henrique Kampf Batista, a secretaria afirmou que não consta nenhum pedido de ressonância magnética pela unidade para ele.

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