Uso de vale-transporte sobe até 306% após mudanças

Pessoas estão passando mais vezes o cartão para ir trabalhar

Algumas linhas de ônibus municipais, como Estação Hebraica-Rebouças/Ana Rosa, sofreram aumento de até 305,9% no volume de pagamentos de passagens com vale-transporte entre fevereiro e março, na comparação com igual período do ano passado, segundo o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Passageiros aguardam ônibus em ponto na avenida Paulista (região central) - Ronny Santos/Folhapress

Na prática, as pessoas estão passando mais vezes o cartão no transporte público para ir trabalhar. Isso porque desde 1º de março, a gestão Bruno Covas (PSDB) reduziu o número de embarques em ônibus e a integração com metrô e trem.

Antes, a integração dava direito de o usuário embarcar em até quatro ônibus ou três, mais um trem ou metrô, no período de duas horas.

Com a nova regra, o passageiro pode fazer duas viagens de ônibus em três horas, por R$ 4,30. Ou um embarque em um ônibus e em um trem ou metrô na integração, por R$ 7,95.

O estudo do Idec apontou que o número de passagens pagas com vale-transporte aumentou, em média, 41,9% entre fevereiro e março. No ano passado, em igual período, o acréscimo foi bem menor: 15%, de acordo com Rafael Calabria, 32 anos, pesquisador em mobilidade urbana do instituto.

Os dados foram copilados do site da SPTrans, empresa que administra o transporte público na cidade, e da pesquisa Mobilidade do Metrô de São Paulo.

Perfil

Para Calabria, a medida imposta pela prefeitura impacta a população que vive mais distante dos pontos de trabalho, ou seja, em regiões periféricas. Segundo ele, 75% receberem de um a cinco salários mínimos.
No levantamento, o Idec apontou que 44% dos usuários prejudicados vêm do extremo da zona leste, principalmente Cidade Tiradentes e Guaianazes.

"A análise é apenas uma parte do problema, ou seja, das pessoas que estão gastando a mais do vale-transporte. Não incluímos os usuários que estão pagando do próprio bolso nem as que fazem trechos a pé para economizar", afirma.

Caso do vendedor Francisco de Oliveira, 40 anos, que mora em Guaianases e trabalha no Bom Retiro (centro). "Pago R$ 3,18 a mais", diz.

Defensoria

O Idec, em parceria com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, estuda a possibilidade de instaurar ação judicial contra o decreto do prefeito Bruno Covas (PSDB) em relação ao bilhete único, modalidade vale-transporte.

"A SPTrans já deveria ter universalizado a medida que a própria Justiça apontou como irregular", afirma o pesquisador em mobilidade urbana do Idec, o géografo Rafael Calabria.

O especialista se refere à decisão de desembargador do Tribunal de Justiça que barra as mudanças anunciadas pela prefeitura, mas ainda não cumpridas pelo poder público municipal.

A liminar concedida, via mandado de segurança coletivo, é de 26 de março. A decisão, no entanto, beneficia apenas quatro pessoas que integram a ação interposta pelo vereador Alfredinho (PT). A prefeitura recorreu.

Nesta terça-feira (30), audiência pública na Câmara Municipal, discutiu o PDL (Projeto de Decreto Legislativo), de autoria do vereador petista, que revoga a redução do número de embarques nos ônibus do transporte público municipal.

"Vamos brigar politicamente para derrubar o decreto", diz Alfredinho. Nesta terça-feira, só o presidente do Legislativo, Gilson Barreto (PSDB), esteve no local.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Cavas (PSDB), diz, em nota, que já orientou a SPTrans para que cumpra as decisões judiciais.

Também diz que não cabe ao município arcar com custos que, por lei, são de responsabilidade do empregador.

"O que implicaria em menos dinheiro para áreas, como saúde, educação e habitação, entre outras." A prefeitura não comentou a pesquisa do Idec.

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