Cidade de São Paulo tem 13 celulares roubados por hora

Roubos dos aparelhos representam 63% dos assaltos registrados em São Paulo

São Paulo

Nos quatro primeiros meses deste ano, cerca de 13 celulares caíram nas mãos de bandidos, por hora, na capital paulista. Segundo dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), no período foram roubados 27.949 aparelhos e furtados 10.131, totalizando 38.080 casos.

Venda de celulares suspeitos na região da Santa Ifigênia (centro de SP) - Rubens Cavallari/Folhapress

Os roubos de celular correspondem a 63% de todos os assaltos registrados entre janeiro e abril deste ano. Os furtos dos aparelhos representam 24,3% do total.

Comparando os dados deste ano com o mesmo período de 2018, os roubos (23.245) e furtos (7.399) dos aparelhos aumentaram, respectivamente, de 20% e 37%.

Alguns celulares suspeitos são vendidos bem abaixo do preço de tabela. O Agora flagrou, na tarde de terça-feira (4), ambulantes comercializando aparelhos no largo São Bento e no viaduto Santa Ifigênia, na região central. Os locais ficam ao lado de uma base da PM. 

Entre às 15h e às 16h45 foi verificado que os ambulantes permanecem na região até a chegada de policiais, que fazem rondas a pé. Após a passagem dos PMs, os vendedores retornam com suas caixas de papelão, onde são depositados aparelhos para venda. 

Um aparelho, que nas lojas custa cerca de R$ 1.100, foi oferecido por R$ 400 à reportagem. Os vendedores também aceitam cartões de débito e crédito. 

No momento em que a reportagem falava com dois vendedores, ambos ficaram tensos, pois um policial passava pelo viaduto. "Não dá nada, relaxa, relaxa", disse um deles depois de constatar que o policial, apesar de fardado, ia embora do serviço e não iria os abordar. 

Os ambulantes costumam agir em duplas e, ainda segundo apurado, contam com apoio de pessoas que circulam pela região para alertar sobre a chegada de policiais.

Vítima

A bartender Louise Cardwell, 34 anos, afirmou que foi vítima de ao menos cinco furtos e dois roubos sofridos nos últimos cinco anos.

O furto mais recente de que se recorda ocorreu em setembro do ano passado, na Vila Gustavo (zona norte), em uma loja de conveniência de um posto de combustível. "Comprei uma bebida e deixei o celular no balcão, enquanto pagava a conta. Pedi para usar o banheiro, peguei a chave e esqueci o aparelho na loja". Quando ela voltou, o aparelho tinha sumido.

A dona do celular solicitou imagens da câmera de vigilância. "Quem pegou meu celular foi o cara que estava atrás de mim na fila", relatou a vítima. O suspeito, segundo ela, ainda não foi identificado.

Um dos roubos que ela sofreu ocorreu também na zona norte, na Parada Inglesa. Quando Louise foi ligar para uma amiga, duas pessoas em uma moto a abordaram e levaram seu celular. "Depois deste caso, resolvi fazer um seguro."

Zona sul

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, entre janeiro e abril foram roubados 4.756 celulares na zona sul da capital, o maior número de toda a cidade. Isso representa quase 40 crimes diários na região.

A reportagem usou como critério os casos registrados pessoalmente, não considerando os realizados por meio da delegacia eletrônica. 

O Capão Redondo foi o bairro com maior índices do tipo de crime (531), seguido pelo Jardim Miriam (329) e Parque Santo Antônio (300). 

Já a região central foi a que mais concentrou registros de furtos de aparelhos, totalizando 6.802 casos, uma média de 56 ocorrências por dia, considerando o período . Respectivamente os bairros de Campos Elísios, Consolação e Jardins lideram os furtos, com 204, 147 e 116 registros.

Volume

Para Sérgio Adorno, sociólogo e membro do Núcleo de Estudos de Violência da USP (Universidade de São Paulo), em cidades com elevadas taxas de furtos e roubos, as pessoas precisam adotar precauções pessoais.

"Campanhas públicas não resolvem o problema, mas podem disseminar essas precauções e reduzir taxas tão elevadas", afirmou. 

O coronel da reserva da Polícia Militar e especialista em segurança pública, José Vicente da Silva Filho, afirmou que os celulares se tornaram um alvo conveniente para "criminosos de rua", inclusive para serem comercializados. "Há um grande público que consome produtos de origem criminosa como drogas, pirataria, contrabando, além de celulares roubados ou furtados". 

Vicente também diz que, o fácil acesso a aparelhos ajuda o criminoso a ser bem-sucedido. "Em lugares movimentados, criminosos se aproveitam para conseguir os aparelhos". 

Resposta

A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que a Polícia Civil realiza operações constantes para combater roubos e furtos de celulares. Segundo a pasta, neste ano foram apreendidos 4.080 aparelhos, presos 160 suspeitos, além de 746 comércios vistoriados. 

A pasta acrescentou que, desde 2015, sistematizou o registro do IMEI (número de identificação de celulares) nos boletins de ocorrência, ajudando no bloqueio imediato dos aparelhos. 

Sobre a comercialização de celulares por ambulantes ao lado de uma base da PM, a corporação afirmou fazer policiamento diário na região.

"A PM também analisa os indicadores criminais e denúncias dos moradores para reorientar o patrulhamento e traçar novas ações de combate à criminalidade", diz trecho de nota.

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