Lixo varrido nas ruas de São Paulo cai quase pela metade

Dados apontam que a quantidade de resíduos recolhidos caiu 45,3% em 7 anos

Elaine Cranconato Willian Cardoso

A quantidade de lixo varrida nas ruas da capital paulista diminuiu em cada primeiro quadrimestre dos últimos sete anos, segundo dados obtidos pela reportagem do Agora via Lei de Acesso à Informação.

O lixo varrido caiu praticamente pela metade (45,3%), nos quadrimestres analisados. Em 2012, foram 49.549 toneladas recolhidas. Neste ano, 27.114.

Por outro lado, a coleta do lixo domiciliar se manteve estável em igual período.

A queda dos números da quantidade de lixo varrida nas ruas tem sido contínua em todos os anos, o que demonstra que os hábitos dos paulistanos têm mudado, e, ao que tudo indica, as pessoas estão mais conscientes na preservação ambiental, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

A cuidadora de idosos Rosa Maria Souza Moreira, 57 anos, moradora em Campo Limpo (zona sul), faz parte do grupo em defesa da sustentabilidade. "De jeito nenhum. Minha bolsa está cheia de papel de bala", diz, ao ser indagada se descarta algum tipo de lixo na rua.

Para o professor de gestão ambiental da Universidade Presbiterana Mackenzie, Rogério Machado, as pessoas têm ouvido mais, por exemplo, que jogar lixo no chão entope bueiro.

Um outro motivo para diminuição do lixo recolhido pelos garis, segundo o especialista em saneamento ambiental, fica por conta do investimento em mais lixeiras pelas ruas.

"Os cestos estão com distâncias menores e quando são alvo de vandalismo acontece a reposição" diz.

"Outra coisa importante é recolher constantemente o lixo. A manutenção de um serviço inibi uma ação errada do outro", aponta. 

Com 20 anos de experiência na varrição das ruas da região da Sé (centro) e 45 de idade, um gari, que pediu para não ser identificado, sentiu que a quantidade de lixo diminuiu. "Vejo muitos jogarem o lixo no cesto, embora também houve aumento no número de equipes nas ruas", afirma. ​

Pai aprende lição dada na escola do filho

O motorista de aplicativo Jeferson Oliveira da Conceição, 23 anos, morador no Jardim Ipê, Vila Nova Cachoeirinha (zona norte), possui um saquinho no carro para colocar o lixo de produtos consumidos pelos clientes.

"Tudo vai na lixeirinha. Quando não cabe, como uma latinha, eu guardo e descarto em casa. Jamais na rua", afirma o jovem, que se casou aos 17 anos e tem filho hoje com 5.

É exatamente o pequeno Davi Motta Oliveira que chama a atenção dos pais para não jogarem papel na rua. O aprendizado é adquirido na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Professora Cleide Moreira dos Santos, onde estuda. "Falam muito de reciclagem de lixo", conta o pai, orgulhoso.

A turma de Davi tem levado panela velha, CDs antigos e latinhas de leite para produção dos instrumentos musicais na escola, a partir do reaproveitamento do material reciclado.

Isso vem ao encontro do que ensina ​o professor de gestão ambiental Rogério Machado, também especialista em saúde pública pela USP (Universidade de São Paulo). "Lixo na rua atrai doença. Um simples pote de sorvete jogado pode ser um criadouro do mosquito da dengue a céu aberto", afirma. 

Há mais opções

Mestre em ciência ambiental pela USP (Universidade de São Paulo) e presidente do Instituto Gea - Ética e Meio Ambiente, Ana Maria Domingues Luz avalia que os programas públicos e privados de coleta seletiva podem ter contribuído para diminuição da quantidade de lixo recolhido nas ruas na capital paulista. "As pessoas estão hoje mais motivadas para separar os materiais reciclados", diz. 

Outro aspecto citado é que existem mais caminhos para operacionalização do serviço, segundo Ana Maria. "Há lixeiras mais próximas, além de cooperativas de catadores para a evolução ambiental e inserção no mercado desse público", aponta.

A especialista acredita ainda que a queda da economia no Brasil possa ser um dos fatores de redução do lixo recolhido pelos garis na capital, embora a quantidade de lixo domiciliar gerado siga estável (veja abaixo).

Tanto Ana Maria quanto o professor de gestão ambiental Rogério Machado ressaltam que a tendência é diminuir mais ao longo dos anos por conta da nova geração de jovens mais conscientes com as causas da natureza. 

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), por meio da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), diz que "não houve redução de quilometragem e frequência de varrição na cidade".

Os contratos de limpeza incluem serviços de instalação de lixeiras, varrição, retirada de entulho, limpeza de bueiro, operação de ecopontos e pátios de compostagem. Ao menos, 11.000 funcionários atuam em 7.800 quilômetros.
 

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