O morador da cidade de São Paulo que aponta à prefeitura possíveis focos e criadouros do mosquito Aedes aegypt, transmissor do vírus da dengue, espera, em média, 35 dias, para ser atendido pelos agentes de saúde.
Porém, há casos extremos em que a demora chega até a 122 dias, como no distrito Anhanguera, no extremo da zona norte.
Os dados são referentes ao primeiro semestre e constam das queixas feitas no portal 156 da prefeitura.
Por outro lado, do ovo à fase adulta, o mosquito leva de 7 a 10 dias, segundo Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC (Instituto Oswaldo Cruz), a Fiocruz.
Segundo o instituto, os ovos do mosquito podem ficar até 450 dias no seco, ou seja, sobreviveriam de um verão a outro.
Em média, o mosquito, também responsável pela transmissão da febre chikungunya e da zika virus, vive um mês.
Na prática, quando os agentes ambientais da Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) chegam ao local com água limpa e parada, situação apontada pela população no Portal 156, os mosquitos já se proliferaram.
"É fundamental que sociedade e poder público ajam semanalmente na vistoria dos espaços que lhe competem", afirma Valle.
O levantamento do Agora, pelo 156, levou em consideração apenas os pedidos feitos e dados como finalizados neste primeiro semestre pela gestão Bruno Covas (PSDB).
Com a demora de mais de 35 dias na média, por exemplo, a prefeitura atendeu a duas em cada três denúncias feitas de janeiro a junho. Algumas poucas foram canceladas ou indeferidas pela administração municipal.
O número de pedidos sobre possíveis criadouros mais que dobrou neste primeiro semestre, em relação a igual período do ano passado. Foram 8.772 chamados abertos, ante 3.590 de 2018 --alta de 144,3.
Só 9 atendimentos foram feitos em região com morte
Depois de três anos, a cidade de São Paulo voltou a registrar mortes por dengue em 2019 --as confirmações ocorreram em maio e junho.
As pessoas mortas eram homens e tiveram o vírus contraído no próprio município (autóctone).
Uma das mortes ocorreu na região do Mandaqui (zona norte), onde 133 chamados foram feitos de janeiro a junho, mas somente nove foram atendidos pela prefeitura, número que representa cobertura de 6,8%.
Os outras duas mortes ocorreram em Cidade Tiradentes e Sapopemba, o último distrito foi o com maior número de denúncias, 188, com média de 39 dias de atendimento.
Segundo a médica Melissa Palmieri, especializada em Vigilância em Saúde pelo Ministério da Saúde, o risco de morte por dengue é de 10%, mas pode cair a menos de 1%.
Ela diz que nos primeiros sinais de sintomas da doença ou mesmo suspeita, a pessoa deve procurar pelo serviço de saúde. "Essa é a chave da redução de mortalidade", afirma .
Doença é um desafio complexo
A pesquisadora Denise Valle diz que a dengue é um desafio complexo, que, há anos, ultrapassa o campo da saúde, o que demanda ações complementares para combate.
"O Aedes é um mosquito doméstico. Ele mora dentro das nossas casas e ao redor delas", afirma.
A especialista afirma que o poder público precisa ficar atento, por exemplo, à limpeza urbana, a fim de evitar que o lixo descartado seja potencial criadouro do mosquito. Também cuidar dos terrenos públicos, evitando que locais fechados ou abandonados virem depósito de ovos.
"É importante que cada prefeitura invista em quantidade e em capacitação de recursos humanos para fiscalização dos focos, além de informar à população como agir contra o Aedes", diz.
Dessa forma, explica, cada agente de saúde "formará" cidadãos que multipliquem o conhecimento por onde passarem, seja na escola, trabalho ou vizinhança.
O fornecimento de coleta de lixo e acesso a água são outros deveres fundamentais do Estado, que contribui para o controle da densidade de mosquitos.
Prevenção, diz, é a palavra-chave no controle da doença. "Na prática, é a grande revolução atual na saúde", afirma.
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), diz, em nota, que as solicitações recebidas pelas 27 Unidades de Vigilância em Saúde, pelo Portal 156, são analisadas pela área técnica e encaminhadas aos agentes para atendimento.
"Uma vez identificados os locais de possível proliferação do Aedes aegypti, os criadouros contendo larvas ou ovos são eliminados impedindo o surgimento de novos mosquitos", diz a nota. "Além disso é feito também um trabalho de conscientização dos moradores."
A prefeitura afirma ainda que as ações de bloqueio de criadouros são desencadeadas a partir da notificação do caso. "Não sendo necessária a confirmação nem mesmo a solicitação pelo 156."
Sobre o córrego da rua Pelicano, diz que ele foi limpo no fim de agosto. E que será feito novo trabalho na próxima semana.
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