Serviço para ajuda nas estações de São Paulo vai acabar, dizem contratados

Estudantes recebem bolsa para ajudar deficientes e idosos; governo diz que mudará programa

São Paulo

Funcionários e passageiros do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) estão apreensivos com o fim do programa Jovem Cidadão, com o qual estudantes com idade entre 16 e 21 anos acompanham deficientes e idosos nas estações.

Usuário é auxiliado por estudante do programa Jovem Cidadão em estação do metrô; contratos não estão sendo renovados, segundo estudante - Rivaldo Gomes/Folhapress

O término do contrato com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, que mantém o programa, foi confirmado por estudantes que fazem parte do programa ouvidos 
pela reportagem. A gestão João Doria (PSDB) diz que no próximo ano letivo o serviço será retomado com outro projeto.

Segundo uma das jovens, que trabalha na linha 3-vermelha do metrô, os contratos com os estudantes não estão sendo renovados e ela diz ter sido informada que até o dia 28 de dezembro mais nenhum dos integrantes do programa estará atuando nas estações. Ela afirma receber uma bolsa mensal de R$ 375.

Segundo a secretaria, ao todo 1.325 estudantes fazem parte do programa, sendo que 163 deles atuam diretamente no metrô —o convênio também ocorre com empresas particulares.  “Além de ser fundamental para pessoas com mobilidade reduzida, o programa também é importante para nós”, diz a estudante. 

Um funcionário da estação Sé, que soube do corte, diz que sem os jovens será “impossível” atender todas as pessoas com deficiência que passam pelo local. 

A aposentada Maria de Lourdes, 56 anos, afirma que o atendimento dos jovens é essencial para sua locomoção nas estações. “Sem eles eu não conseguiria chegar até a plataforma.”

Lourdes afirma que as pessoas com mobilidade reduzida chegam a ter de esperar pela chegada dos funcionários e, por isso, o número de jovens deveria ser aumentado. 

“Às vezes os próprios passageiros se oferecem para auxiliar a gente porque nos veem esperando e isso não deveria acontecer”, diz.

Acessibilidade

Valmir de Souza, do projeto Biomob Soluções Inovadoras para Acessibilidade, afirma que os programas que auxiliam deficientes no transporte público são fundamentais para a locomoção destes usuários.

Quando não ocorre este tipo de investimento, o embarque dos passageiros deficientes e idosos fica comprometido, principalmente em horários de pico, quando há  grande movimentação nas estações.

“Se houver a retirada de um trabalho importante como este, será um retrocesso, pois não há outra iniciativa que auxilie estes 
passageiros”, diz. 

Souza afirma que para lidar com usuários com mobilidade reduzida ou deficiência, os estudantes precisam passar por treinamento adequado. 

“Não basta somente sair empurrando uma cadeira de rodas, é preciso saber conduzir, é um processo complexo”, diz. 

O especialista afirma que além de auxiliar os deficientes, programas voltados a estudantes também auxilia no desenvolvimento dos próprios jovens.

Diferença

Para o funcionário público Vitor Batista, 37 anos, o Jovem Cidadão fará falta aos deficientes que dependem do transporte público se não tiver continuidade. 

Ele tem mobilidade reduzida e afirma que os jovens sempre o auxiliam a passar pela catraca e o acompanham quando desembarca do trem. 

“Esse trabalho é maravilhoso. Para quem é cego, ou cadeirante, a diferença é brutal”, afirma Batista. 
Na estação da Sé, funcionários afirmam que cerca de 15 estudantes do programa atuam no local em cada turno. No entanto, segundo as pessoas que trabalham no metrô ouvidas pela reportagem, é necessário ter o dobro de estudantes para suprir a demanda dos deficientes e idosos que precisam de ajuda.

Resposta

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado afirma que lançou em março o Novotec e que a modalidade estágio do programa vai substituir o Jovem Cidadão, “que passa por reformulação”, a partir do início do próximo ano letivo.

Entre as mudanças, segundo a secretaria, só poderão participar do programa estudantes que estiverem cursando ensino técnico integrado com o médio em período parcial ou que tenham cursos de qualificação profissional em complemento ao ensino médio. 

O valor da bolsa também irá aumentar para R$ 423 ou R$ 634, dependendo se a rotina de trabalho for de quatro ou seis horas diárias. 

Os estudantes do Jovem Cidadão, que atuam no metrô, diz o governo, hoje fazem seis horas de estágio diárias nas estações das linhas 1-azul e 3-vermelha. 

Já o Metrô, também da gestão João Doria, diz que adotará medidas para que o atendimento personalizado aos passageiros com mobilidade reduzida continue sendo realizado. 

A empresa afirma que há 155 jovens integrantes de um convênio firmado entre o Metrô e o Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), que atualmente colaboram no atendimento das linhas 2-verde e 15-prata e que se for necessário, eles serão redistribuídos em todas as estações do sistema.

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