Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (18) pela Apeoesp, o sindicato dos professores de escolas estaduais de SP, diz que mais da metade dos docentes ouvidos foi alvo de agressão.
Realizada pelo Instituto Locomotiva, a pesquisa aponta que 54% dos professores entrevistados sofreram algum tipo de violência dentro das escolas. No estudo anterior, de 2017, o número era de 51%.
Em relação aos alunos, houve queda. Em 2019, 37% dos estudantes afirmaram ter sofrido alguma violência na escola, contra 39%.
As principais queixas de agressão são verbais (veja mais abaixo).
A pesquisa entrevistou mil alunos presencialmente e 701 professores por telefone, entre setembro e outubro. Foram escolhidas 14 regionais para as amostras.
O grau de percepção da violência pelos professores também cresceu. De 61%, em 2017, passou para 71%. Entre os alunos, o número caiu de 72% para 71%.
Sobre a liberdade de opinião, 34% dos docentes disseram ter sofrido discriminação em sala de aula. O número é maior entre os estudantes: 38%.
"Houve um acréscimo [da violência contra professores] e ele apresenta o tom da naturalização da violência nas escolas", afirma Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp e deputada estadual (PT).
Análise
Não existe solução no curto prazo para a violência nas escolas, avalia Neide de Aquino Noffs, doutora em educação pela USP (Universidade de São Paulo). A questão para ser resolvida, diz, precisa de medidas que surtirão efeito somente no médio e longo prazo.
"A violência na escola não deveria acontecer, claro, mas, por outro lado, a população está muito vulnerável. E a escola é um reduto de pessoas, que carregam todos os seus problemas para dentro, como saúde, pais desempregados ou violência", afirma ela, que é diretora e professora da Faculdade de Educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
"Em primeiro lugar, a escola precisa melhorar as condições dos professores. Não é só financeira. É horário de trabalho, apoio, tudo, porque muitos problemas sociais de outras esferas vão desembocar na escola. E o professor precisa estar preparado para intermediar e incentivar o diálogo", afirma.
Segundo Neide, é fundamental pensar de forma ampla, em infraestrutura, como espaço físico para laboratórios e quadras esportivas, por exemplo. "Mas é importante também entender as especificidades de cada unidade e praticar a compreensão. O aluno, atualmente, não se sente parte da escola", diz. "Por isso é preciso envolver a comunidade e a família. A parte do governo é criar as condições para que isso aconteça, se desenvolva. Cada escola tem uma gestão própria, mas está ligada a uma diretoria de ensino, que está ligada a secretaria de Educação", afirma.
Para a professora Neide Noffs, o policiamento nos arredores da escola é apenas uma parte. "Isso é segurança, mas dentro das escolas é outra questão. É preciso entender cada região e os problemas que os alunos têm. Levar para dentro da escola psicopedagogos, psicólogos, pessoas democráticas para fazer uma gestão compartilhada", diz.
Resposta
A Secretaria Estadual de Educação, da gestão João Doria (PSDB), contestou a pesquisa da Apeoesp. Em nota, a pasta afirmou que o levantamento "não tem credibilidade técnica por estar ligado a uma entidade que possui interesses políticos partidários".
Segundo a secretaria, além de ouvir somente mil estudantes, "o que corresponde a ínfimos 0,028% dos 3,5 milhões de alunos da rede", a pesquisa "induz respostas que só dão margem ao que a Apeoesp deseja legitimar. O mesmo acontece com as supostas entrevistas feitas com professores por telefone".
Veja números
Agressões sofridas
Professores | |
---|---|
2014 | 44% |
2017 | 51% |
201 | 54% |
Estudantes | |
---|---|
2014 | 28% |
2017 | 39% |
2019 | 37% |
Quais tipos de violência
Professores | 2017 | 2019 |
---|---|---|
Verbal | 44% | 48% |
Física | 5% | 5% |
Furto/roubo | 6% | 8% |
Bullying | 8% | 16% |
Discriminação | 9% | 9% |
Estudantes | 2017 | 2019 |
---|---|---|
Verbal | 27% | 17% |
Física | 9% | 7% |
Furto/roubo | 6% | 4% |
Bullying | 13% | 22% |
Discriminação | 3% | 6% |
Fonte: Apeoesp
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.