Propagação de notícias falsas sobre coronavírus desafia governos

Secretaria de SP e Ministério da Saúde criam centrais para combater "promessas milagrosas"

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São Paulo

O governo João Doria (PSDB) criou uma central digital de combate a informações falsas, as chamadas fake news, sobre o novo coronavírus, e lançou nesta sexta-feira (28) um manual que poderá ser baixado pela internet e compartilhado pelas redes sociais.

O objetivo é conscientizar a população com informações oficiais, checadas pelas autoridades de saúde.
O Ministério da Saúde também tem combatido o compartilhamento de fake news sobre o coronavírus pelas redes sociais. 

Somente até 12 de fevereiro, a pasta checou 28 notícias com receitas milagrosas para combater a nova doença, como beber água quente ou substituir álcool gel por vinagre (veja casos ao lado). Destas, só uma que falava sobre formas de prevenção estava correta. As outras eram todas falsas.

Em entrevista coletiva na quinta-feira em São Paulo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou sobre o desafio de se combater as notícias falsas. 

Funcionária de companhia aérea orienta passageiros no terminal do aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo - Zanone Fraissat - 26.fev.20/Folhapress

"As fake news, a informação malfeita, a informação precipitada, o 'eu acho que é', 'eu ouvi falar, dizer que alguém falou que isso aconteceu em tal lugar', hoje é o principal elemento que a gente tem que combater.,"

O infectologista Marcos Cyrillo, da Sociedade Brasileira de Infectologia, disse que antes de compartilhar uma notícia recebida pelas redes sociais ou aplicativo de mensagens, é preciso checar se ela é verdadeira e a fonte da informação. 

E a verificação deve ser feita em órgãos oficiais, como os sites criados pelo governo de São Paulo ou o próprio Ministério da Saúde. 

"Só devemos passar adiante uma notícia se tivermos certeza da informação. Uma notícia tem que citar a fonte, seja um médico, uma entidade ou um órgão oficial", afirmou Cyrillo.

Outro perigo de divulgar uma fake news é fazer o que é sugerido. "Dependendo do que fizer ou ingerir, a pessoa pode ter problemas de saúde ou complicar um quadro infeccioso, por exemplo", disse o infectologista. 

Central tenta evitar pânico em escolas

O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, fez um alerta nesta sexta-feira (28) para que não seja criado pânico nas escolas. 

O médico disse estar sendo procurado por diretores de colégios sobre recomendação para alunos gripados não irem para as aulas. 

"Isso tem que ficar muito claro: política pública, decisão, é federal, é Ministério da Saúde. Se cada um começar a fazer o que quer, isso vai acabar mal. [...] A decisão tem que ser pública, não individual. Por isso, acho que tem que ter muito cuidado com isso, afirmou, negando a determinação.

Na véspera, a Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares) divulgou orientação às suas associadas. No documento, recomenda ao aluno que estiver com sintomas de gripe e que tenha realizado viagem recente à Europa ou da Ásia a não frequentar as aulas.

A Secretaria Estadual da Educação está orientando as escolas para que realizem um "Dia D" com palestras de especialistas, dicas de higiene e cuidados à comunidade escolar.

Fake News que estão circulando nas redes sociais

Mensagem:

  • Produtos vindos da China estão contaminados com a doença

Explicação:

  • Não há evidência de que produtos tragam o novo coronavírus

Mensagens:

  • Chá de abacate com hortelã evita a contaminação pelo coronavírus
  • Médicos tailandeses curam paciente com coronavírus em 48 horas
  • Cientistas indianos acabaram de encontrar inserções semelhantes ao vírus HIV no coronavírus que não são encontradas em nenhum outro coronavírus do passado. Eles sugerem a possibilidade de que esse vírus chinês tenha sido criado em laboratório
  • Britânico que contraiu coronavírus em Wuhan diz que venceu doença com uísque e mel
  • Receita de chá imunológico contra o coronavírus
  • Médico francês Jean-Pierre Willem ensina receita de óleos essenciais para combater o coronavírus

Explicação:

  • Até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo novo coronavírus

Mensagem:

  • Médico diz que China perdeu o controle sobre o coronavírus e recomenda aumentar a imunidade

Explicação:

  • Não há qualquer comprovação da veracidade do que ele diz sobre a China

Mensagem:

  • Todos devem garantir que sua boca e garganta estejam úmidas, nunca seca. Tome alguns goles de água ou outros líquidos para lavar os vírus para o esôfago e estômago

Explicação:

  • Manter a hidratação do nariz e da boca realmente dificulta a infecção pelo vírus, mas não tem a ver com "lavar" o vírus pelo esôfago ou estômago

Mensagem:

  • Beber água quente ou chás quentes para matar o vírus

Explicação:

  • Chá quente não vai matar o vírus. O vírus infecta os pulmões, mas o chá não chega até lá

ALERTA: Antes de compartilhar uma notícia, verifique a veracidade nos órgãos oficiais: Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde.
 

Fonte: Ministério da Saúde e farmacêutica-bioquímica e pesquisadora da USP Laura de Freitas

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