Seguranças fazem de parto a atendimento cardiológico no metrô

Em 11 meses de 2019, foram quase 14 mil casos em trens e estações administrados pelo estado

São Paulo

A auxiliar de limpeza Francisca Josivane Feitosa dos Santos, 31 anos, contou com a ajuda de seguranças do Metrô para trazer ao mundo o caçula de seus quatro filhos, Samuel, no ano passado.

A criança nasceu no dia 7 de julho de 2019, na estação Bresser-Mooca, da linha 3-vermelha, com o apoio de agentes da companhia.

A auxiliar de limpeza Francisca Josivane Feitosa dos Santos, com o filho Samuel, que nasceu na estação Bresser-Mooca, da linha 3-vermelha, com a ajuda de um agente de segurança do Metrô - Rubens Cavallari/Folhapress

Francisca e o bebê fazem parte de uma estatística. A cada 30 minutos, uma pessoa recebeu atendimento de primeiros socorros no metrô entre janeiro e novembro do ano passado. 

O levantamento exclusivo feito pela reportagem mostra que acidentes, mal-estar e até mesmo casos envolvendo a segurança pública que terminam com algum ferido não são incomuns nos trens e estações.

Os dados foram fornecidos pela companhia via Lei de Acesso à Informação e levam em consideração apenas as linhas administradas pelo governo estadual. Não entram na conta a 4-amarela e a 5-lilás, concedidas à iniciativa privada. Ao todo, foram 13.902 casos nos 11 primeiros meses de 2019.

Entre todos os atendimentos de primeiros socorros no metrô nos 11 primeiros meses do ano passado, 7 em cada 10 foram classificados como mal-estar, que provoca, por exemplo desmaios e enjoos. 

Embora sejam casos considerados simples, nem tudo acabou na própria estação ou trem. Quase metade das emergências (45%) terminaram no hospital, segundo a companhia.

Alguns casos, porém, foram particularmente graves e exigiram toda a atenção e treinamento dos funcionários para salvar a vida da vítima. Em 36 atendimentos, foi necessário o uso de desfibrilador (um a cada nove dias, em média).

"A minha bolsa estourou no vagão. Me tiraram do trem e dei à luz na escada da estação. Para mim, foi ótimo. Melhor até do que em alguns hospitais", afirma Francisca.

Moradora de Cidade Ademar (zona sul), a auxiliar de limpeza cruzou a cidade para ser atendida em um hospital no Brás, quando entrou em trabalho de parto. "Eu acho importante, porque eles acabam sendo um anjo para dar uma força e ajudar. É a hora que você mais precisa de uma ajuda."

O agente de segurança Márcio Pivoto, 49, foi um dos dois funcionários que prestaram auxílio à mamãe. "A sensação que tem ali não se compara com nenhuma outra ocorrência no metrô. Talvez, só quando se faz uma massagem cardíaca até a chegada do auxílio do Samu e do resgate", afirma.

Pai de duas filhas, Pivoto conta que o foco do treinamento está no controle de situações de risco, segurança pública e primeiros socorros de pessoas machucadas. "Na questão do parto, você tem um treinamento teórico, vídeos. Você nunca está esperando que vá acontecer de fato", conta. "Na hora, você faz porque tem que fazer. No fim, a natureza fez a maior parte do trabalho e o parto dela foi tranquilo."

Treinamento

Agentes de segurança e funcionários que trabalham no atendimento direto de primeiro socorro aos passageiros passam por treinamento a cada dois anos no Incor (Instituto do Coração) e a cada ano por uma reciclagem interna na própria companhia.

O agente de segurança Márcio Pivoto, 49, foi um dos dois funcionários que ajudaram na realização de parto no metrô; a cada dois anos ele passa por treinamento no Incor - Rubens Cavallari/Folhapress

“O que mais causa impacto é a possibilidades de salvar vidas com o uso do desfibrilador. Se não houvesse esse recurso, não tinha alternativa. Por mais que seja chamado o Samu, como se faz em casos graves, tendo essa possibilidade aumenta a chance de sobrevivência”, afirma Cecília Guedes, chefe do departamento de relacionamento com passageiro há quase dez anos.

Cecília afirma que todas as estações contam com salas preparadas para realizar os primeiros socorros, bem como kits inclusive para a realização de parto. Também há 17 carros do corpo de segurança e até verba disponível para chamar táxi para as vítimas, caso seja necessária a remoção 
da pessoa.

O capitão dos bombeiros Marcos Palumbo afirma que o trabalho de primeiros socorros feito pelos funcionários do Metrô é fundamental para salvar vidas, principalmente quando a pessoa sofre uma parada cardíaca. 

“A cada minuto que passa, perde-se 10% de chance de salvar a pessoa. Depois de 10 minutos, é muito mais difícil fazer um socorro, manter um batimento cardíaco”, afirma. 

Chances

Palumbo conta que a presença de desfibriladores em todas as estações é de grande importância.
O capitão do Corpo de Bombeiros diz que ele mesmo, como passageiro, já prestou socorro dentro dos trens e que atuação dos funcionários da companhia foi relevante. “Já vieram com prancha, luvas, o suporte para tirar a vítima de dentro do trem.”

Segundo Palumbo, o treinamento é importante e não apenas para os metroviários. “Alguém treinado consegue identificar os sinais de que a pessoa vai enfartar, como uma dor forte no peito que irradia para o braço, e consegue parar um táxi e levá-la para o hospital mais rapidamente.”

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