Descrição de chapéu Zona Leste

Subprefeitura na zona leste de SP cerca viaduto para afastar moradores de rua

Administração de Guaianases diz que ação faz parte de processo de "revitalização" da área

A Subprefeitura de Guaianases, na zona leste de São Paulo, colocou pedras e grades nas calçadas sob o viaduto Deputado Antônio Sylvio Bueno para coibir a presença de moradores de rua.

Apesar do obstáculo, ainda é possível encontrar quem permaneça na região.

Primeiro, pedras grandes foram colocadas de maneira irregular no trecho coberto do canteiro central da rua Salvador Gianetti, localizada embaixo do viaduto. 

Depois, portões e grades cercaram as pedras, um jardim recém-criado na calçada paralela à rua e um amplo espaço também sob o viaduto. Isolando as pilastras e as áreas cobertas.

Uma mulher de 39 anos, que vive nas ruas da região há aproximadamente três anos, diz que pelo menos 20 pessoas dormiam por ali regularmente. Ela diz que a área coberta é importante para se protegerem da chuva e da ventania.

O jornaleiro Ademar Chapim, 56, há 15 anos trabalhando na região, conta que o trecho costumava acumular sujeira e concentrar pessoas há muito tempo.

Grades colocadas embaixo do viaduto Deputado Antônio Sylvio Bueno, na região de Guaianases, na zona leste de São Paulo; ação da prefeitura é para inibir a ocupação por moradores de rua no local - Rubens Cavallari/Folhapress

No último dia 7, a reportagem viu funcionários da prefeitura acompanhados por guardas civis metropolitanos recolhendo colchões e outros objetos do local. Após a saída, algumas pessoas voltaram a ocupar as calçadas abaixo do viaduto.

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Guaianases tem 274 pessoas em situação de rua. Destas, 188 estão em centros de acolhimento e outras 86 estão vivendo na rua.

Um auxiliar de limpeza que mora em um abrigo na região conta que já viu algumas pessoas pularem a área cercada para dormir.

A instalação de grades e portões rendeu até publicação em rede social. Uma página que publica as ações da subprefeitura escreveu no dia 21 de janeiro que foi "iniciada ação contra ocupação e instalação de tendas nas imediações do viaduto da Vila Minerva. Essa é a primeira etapa".

Assistente social critica a cerca

De acordo com Rosalina Santa Cruz, assistente social e professora de serviços sociais na PUC-SP, medidas como essa, que colocam pedras e grades debaixo de viaduto, não resolvem o problema do morador de rua. 

Quem estava lá, irá para outra calçada, viaduto ou bairro. "É desumano", resume a assistente social.

Segundo Rosalina, ações relacionadas à população de rua devem ser feitas junto às assistências social e de saúde. Além disso, é necessário ter uma equipe para dialogar com as pessoas e fazer um trabalho mais receptivo e de acolhida a longo prazo. As atitudes também devem ter propostas de emprego e moradia a fim de criar condições para que saiam dessa situação.

A professora conta que as pessoas chegam nas ruas por diversas razões, como familiares, psicológicas e econômicas. Assim, "é necessário que sejam individualizadas no atendimento", afirma Rosalina.

Apenas transfere o problema para outro lugar, diz urbanista

Professor da Faculdade de Arquitetura de Urbanismo da USP, Nabil Bonduki diz que uma ação de "revitalização" significa "dar vida", o que não acontece quando se restringe acessos. 

"Apenas transfere o problema para outro lugar", diz.

Bonduki afirma que a cidade não tem uma política pública adequada para a população de rua. Para ele, a prefeitura deveria criar possibilidades adequadas de alojamento e de condições de vida, como reintegração econômica, familiar e social. "As pessoas têm o direito de se alojar em algum lugar frente a falta de alternativas", afirma.

Além disso, Bonduki ressalta que os locais ociosos, como a área embaixo de um viaduto, deveriam receber uma função social. Ele exemplifica com a ciclovia feita sob o Minhocão, na região central de SP, que atribui uma utilidade para o trecho e não impede que as pessoas vivam ali.

Resposta

A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), disse, em nota, que o gradil faz parte de um "projeto de revitalização" iniciado em dezembro de 2019. 

O seu objetivo é oferecer mais segurança à população, pois a área está próxima a vias públicas, sendo "imprópria para passagem ou permanência de pessoa".

Segundo a administração, o projeto está na fase final. "A área sob o viaduto foi limpa e cercada para receber eventos de interesse da comunidade." Além disso, alargamento de calçadas e intervenções foram feitas na região. O custo total da obra é de R$ 567.381,33.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou que das 539 abordagens sociais feitas em Guaianases, 89% foram próximas do viaduto Deputado Cunha Bueno. 

A Secretaria Municipal de Assistência Social diz que vai reforçar o monitoramento socioassistencial e que realiza busca ativa para abordar pessoas em situação de rua.

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