Aumento de intervalo entre trens ainda provoca aglomerações em SP

Estado reduziu número de composições por causa a quarentena do coronavírus

São Paulo

O aumento no intervalo entre trens está promovendo aglomerações de pessoas em estações do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Isso contraria orientações de autoridades internacionais de saúde, para que as pessoas mantenham distância umas das outras, por causa do coronavírus.

A reportagem esteve em três estações do metrô e em duas linhas da CPTM, entre o fim da manhã e o início da tarde desta quinta-feira (26).

Por volta do meio-dia, na estação Santa Cecília da linha 3-vermelha do metrô, o intervalo entre trens no local foi de pouco mais de cinco minutos, gerando a aglomeração de algumas pessoas para entrar nos vagões.

Movimentação de passageiros na plataforma de embarque da estação Sé, na linha 1-azul do metrô; redução no transporte provoca aglomeração - Ronny Santos/Folhapress

Na estação Sé, no ponto em que é possível fazer baldeação com a linha 1-azul, sentido Tucuruvi (zona norte), o intervalo entre os trens também era superior a cinco minutos, promovendo a aproximação entre pessoas.

Segurando um teclado de computador e uma caixa de papelão, com equipamentos de escritório dentro, a assistente contábil Daniele Amorim, 26 anos, aguardava para embarcar na linha 1-azul.

Ela afirmou se sentir insegura por conta do fluxo de pessoas que ainda circulam pelas estações. “Eu só estou na rua porque precisei ir ao escritório [no centro de SP] para pegar equipamentos e trabalhar em home office. O computador que eu tinha, quebrou”, justificou, acrescentando que pretende permanecer em quarentena.

Na estação Paraíso, que faz baldeação para a linha 2-verde, o intervalo entre os trens foi de seis minutos e meio, o que também gerou aglomeração de pessoas na plataforma de embarque.

Uma mulher, segundo flagrado pela reportagem, pegou uma caneta emprestada de um desconhecido, fez algumas anotações e se despediu dele apertando uma das mãos.

CPTM

Na CPTM e a situação não era muito diferente. A gerente de operações Ana Carolina Almeida, 26, vai do Jardim Robru, na zona leste, até a Vila Mariana, na zona sul, diariamente. A linha de ônibus que utiliza para chegar até a estação Guaianases da CPTM, também na zona leste, está demorando mais.

“Por causa dessa redução, o transporte fica muito mais cheio”, explica. Para ela, se as partidas continuassem normais, não teria tantas pessoas em pé.

Para continuar o caminho, a passageira utiliza a linha 11-coral, que liga Mogi das Cruzes até a região central de São Paulo. Por volta das 6h desta quinta (26), Ana conta que o trem já chegou cheio em Guaianases e seguiu lotado. “A situação da CPTM é horrível. Eles reduzem a capacidade e mantém o que já era péssimo antes”, diz.

Transporte cheio é um convite ao coronavírus

Marco Aurélio Safadi, professor de Infectologia e Pediatria da Santa Casa, afirmou que aglomeração de pessoas, principalmente em vagões de metrô, “é seguramente um convite para a transmissão do Covid-19.”

Ele afirmou que o momento atual deve ser usado pelas pessoas para que fiquem em isolamento social, respeitando a quarentena. “O objetivo do isolamento é não causar um colapso no sistema de saúde. Vivemos um momento de drama, pois esta medida já é questionada por algumas autoridades no país.”

Ainda sobre as pessoas se aglomerarem em estações de metrô durante a pandemia de Covid-19, o especialista afirmou que a disseminação da doença, que primeiramente ocorreu com classes mais favorecidas economicamente, inevitavelmente começará a ocorrer em pessoas de baixa renda.

“Os primeiros infectados haviam retornado de viagens à Europa e ao Estados Unidos. Agora que a transmissão do vírus já está sustentada no país, vai atingir pessoas em condição de pobreza, que vivem em periferias e usam o transporte público.”

Resposta

A STM (Secretaria dos Transportes Metropolitanos), gestão João Doria (PSDB), afirmou que, quando forem necessários mais trens nas linhas, os veículos serão “imediatamente” disponibilizados “para evitar aglomerações”. “

A pasta acrescentou que desde terça-feira (24), quando a quarentena entrou em vigor no estado de São Paulo, o sistema sobre trilhos garante oferta de 65% da frota.

Ainda segundo a STM, o fluxo de passageiros caiu 83% no metrô, 78% na CPTM e 76% na EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos).

“A utilização do transporte coletivo também deve ocorrer somente se for extremamente necessário”, reforça a pasta em trecho de nota.

Sobre o maior tempo de intervalos no metrô, a pasta o admitiu, acrescentando que poderá tomar “novas ações ao longo dos próximos dias” de acordo com a demanda dos passageiros.

Com relação aos intervalos da CPTM, a secretaria afirmou de que “não houve alteração neles.”

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