O número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito na cidade de São Paulo, em março e abril, subiu quase 50% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Nestes dois últimos meses foi implantada a quarentena por causa do novo coronavírus e cresceu o serviço de entregas para as pessoas que passaram a ficar mais tempo em casa.
Segundo o Infosiga, serviço do governo do estado, gestão
Na comparação somente entre os meses de março, o aumento nas mortes é ainda maior, de 87,5%. No estado, os números também cresceram.
A oscilação dos preços do frete, principalmente pagos por aplicativos de entrega, aliados à mão de obra inexperiente, que aumentou a concorrência por causa da crise provocada pela pandemia da Covid-19, teriam influenciado nas mortes em acidentes, segundo Gilberto Almeida Santos, presidente do SindimotoSP (o sindicato dos motoboys).
“Cada aplicativo tem um modelo de remuneração, isso já prejudica a segurança [financeira] do entregador. E como tem muito trabalhador rodando com moto, o valor do frete despenca também. Com isso, os motoboys se arriscam fazendo várias corridas [sem cuidados] para compensar”, diz.
Os dados coincidem com a diminuição no volume de tráfego na cidade que, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da gestão
Em 2 de março, a CET registrou 308 km de lentidão, por volta das 18h30, mesmo horário em que, 14 dias depois, foram constatados 162 km. A partir do dia 24, quando passou a vigorar a quarentena, os índices caíram para abaixo de dois dígitos.
O especialista em trânsito e transporte público Horácio Augusto Figueira atribui à imprudência as mortes de motociclistas na capital, principalmente pelo fato de o volume de veículos ter diminuído na cidade.
“Da varanda de meu apartamento consigo constatar que os motociclistas estão ‘arrepiando’ no trânsito”, afirmou, se referindo à região da Parada Inglesa (zona norte de São Paulo).
Figueira disse que antes da quarentena costumava ir às esquinas do bairro para analisar a conduta dos motoboys. “Posso afirmar que oito em cada dez motociclistas respeitavam o sinal vermelho”, afirmou.
Mesmo os entregadores que passavam no vermelho, acrescentou, ainda reduziam de velocidade, em decorrência do maior volume de veículos antes do isolamento social. Porém, após o início da quarentena, o especialista afirmou já ter testemunhado manobras “piores”, como quando motociclistas não reduziram a velocidade e nem olharam para os lados ao passar por um cruzamento.
“Estes comportamentos indevidos aumentam ainda mais os riscos”, disse.
Crise
Um ex-repositor de estoque, de 35 anos, que pediu para não ter o nome publicado, foi demitido logo após o início da quarentena, com a proibição de abertura da loja onde trabalhava. Não vendo perspectiva de arrumar outro emprego, decidiu transformar sua moto em ferramenta de trabalho.
Em frente a um supermercado da rua Augusta (região central), o agora motoboy afirmou trabalhar, em média, 12 horas por dia. E, mesmo assim, ganhando o suficiente para pagar aluguel, contas e comprar comida. “A concorrência é grande e além das motos, também tem os caras de bike [fazendo entregas].”
O ex-repositor disse testemunhar imprudência de outros motociclistas e confessou burlar regras de trânsito, para concluir rapidamente uma entrega e ficar ponto para outra.
Há cinco anos no ramo de motofrete, Erick Araújo, 27, afirmou que seu faturamento caiu entre 70% e 80%, desde o início a pandemia da Covid-19.
Araújo também notou o aumento de motoboys nas ruas da capital, principalmente novatos. “Os caras basicamente instalam os aplicativos [de entrega] nos celulares e correm, literalmente, para levantar um dinheiro”, afirmou.
Respostas
A Prefeitura de São Paulo, gestão
Segundo o termo, acrescentou, as empresas assumiram o compromisso de não estipular metas e prazos de entrega, “visando a segurança dos condutores”.
A Uber Eats afirmou orientar entregadores sobre as regras de trânsito. Também disse que eles estão cobertos por seguro contra acidentes.
Segundo o Ifood, os entregadores que usam o aplicativo “são independentes”. Apesar disso, a empresa disse que os colaboradores cadastrados, desde o fim de 2019, igualmente contam com seguro contra acidente pessoal, e que não desconta valores dos profissionais.
A Rappi também oferece seguro e afirmou que orienta os entregadores sobre regras de trânsito e a usarem equipamentos de proteção pessoal.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.