Confira sete clássicos do cinema brasileiro

Memória cinematográfica do país é rica, mas corre risco com a crise na Cinemateca Brasileira

Cena do filme "O Assalto ao Trem Pagador"
Grande Otelo em cena do filme "O Assalto ao Trem Pagador", de Roberto Farias - Divulgação
São Paulo

O próximo 19 de junho é o Dia do Cinema Brasileiro, mas não há muito o que comemorar diante dos riscos que corre a Cinemateca Brasileira, guardiã da memória cinematográfica do país.

Em grave crise financeira, a instituição sofre com a falta de repasses do governo Jair Bolsonaro para a organização social responsável por administrá-la. Salários de funcionários estão atrasados e, nesta semana, a empresa que presta serviço de refrigeração à Cinemateca, fundamental para a conservação dos mais de 250 mil rolos de filme do acervo, cancelou o contrato por falta de pagamento. O governo diz que a Cinemateca está em fase de reincorporação pela União.

Estão em risco décadas de uma cinematografia rica, importante para o país se reconhecer nas telas. Para lembrar toda essa riqueza, sugiro aqui sete filmes que integram a lista da Abraccine (Associação Brasileira dos Críticos de Cinema), de 2015, com os cem melhores longas brasileiros. Aproveito também para celebrar os 70 anos de Sônia Braga, completados dia 8.

Espero que aproveitem os filmes em mais uma semana de quarentena. Os preços e disponibilidade dos filmes foram consultados no dia 11 de junho.


O ator Leonardo Villar em cena do filme "O Pagador de Promessas", dirigido por Anselmo Duarte - Divulgação

O PAGADOR DE PROMESSAS (1962)
Baseado em uma peça de Dias Gomes, “O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte, é até hoje o único longa brasileiro a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A história é conhecida: ao ver seu animal doente, Zé do Burro (Leonardo Vilar) faz uma promessa a uma mãe de santo. Vai levar uma cruz até uma igreja em Salvador. No entanto, o pagamento da promessa enfrenta resistência do padre da paróquia, e a insistência de Zé chama a atenção da população e da imprensa. No mês passado, completou-se o centenário de Duarte. Apesar da importância do prêmio, sua obra como diretor e ator é pouco lembrada. Em seus últimos anos, o diretor reclamava da falta de reconhecimento.

ONDE VER
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

A atriz Taciana Rei, em cena do filme "Limite", dirigido por Mário Peixoto, em 1931 - Reprodução

LIMITE (1931)
O longa de Mário Peixoto foi considerado pela Abraccine o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Na obra, duas mulheres e um homem, em um barco à deriva, relembram seus passados. Peixoto tinha apenas 22 anos quando rodou o filme. Quando lançado, o longa causou polêmica, mas acabou esquecido e sua cópia se deteriorou com o passar dos anos. Resgatado pela crítica, foi restaurado e se tornou patrimônio nacional em 2007.

ONDE VER
Cinemateca Brasileira: grátis, no Banco de Conteúdos Culturais (www.bcc.org.br)

Da esquerda para direita, os atores Mauro Mendonça, Sônia Braga e José Wilker, em cena do filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" - Divulgação

DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS (1976) 
Por mais de três décadas, o filme foi o recordista de bilheteria no Brasil. Só perdeu o posto para “Tropa de Elite”, em 2010. No longa, Flor, ( Sônia Braga), fica viúva do malandro Vadinho (José Wilker) no Carnaval. Tempos depois, ela se casa com o farmacêutico Teodoro (Mauro Mendonça), mas o fantasma do primeiro aparece, chamado pelas saudades de Flor. O filme tem uma das cenas clássicas do cinema brasileiro: o passeio de Flor com seus dois maridos pelas ruas de Salvador.

ONDE VER
Looke: grátis para assinantes, R$ 3,99 (aluguel) e R$ 14,99 (compra)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Sonia Braga em cena de 'O Beijo de Mulher-Aranha', dirigido por Hector Babenco - Divulgação

BEIJO DA MULHER-ARANHA (1985) 
Hector Babenco fazia sucesso com “Pixote” quando a adaptação da obra do escritor Manuel Puig caiu em suas mãos. Decidiu transferir a trama da Argentina para o Brasil da ditadura militar. Em uma cadeia, Valentin, um preso político, divide a cela com Molina, um homossexual. Em longas conversas, Molina fala de seus filmes preferidos, e realidade e fantasia se fundem na figura de Sônia Braga.

ONDE VER
Spcine Play: gratuito
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Cena do filme 'Cabra Marcado Para Morrer'
Cena do documentário "Cabra Marcado Para Morrer", dirigido por Eduardo Coutinho - Divulgação

CABRA MARCADO PARA MORRER (1984)
Nestas sugestões de clássicos brasileiros não poderia faltar uma obra do mestre em documentários Eduardo Coutinho. Em “Cabra Marcado para Morrer”, ele retoma um projeto interrompido pelo golpe militar. Em 1964, Coutinho filmava a vida e morte de um líder de camponeses no Nordeste, com trabalhadores e a viúva como atores. Após o golpe, a filmagem foi interrompida, parte da equipe e camponeses foram presos e câmeras, holofotes, roteiros foram apreendidos. Dezessete anos depois, Coutinho volta ao local, revê os camponeses e mostra o impacto que a ditadura e o tempo tiveram na vida deles.

ONDE VER
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

A atriz Fernanda Montenegro e o ator Vinícius de Oliveira em cena do filme "Central do Brasil" - Paula Prandini/Divulgação

CENTRAL DO BRASIL (1998) 
“Tenho saudades de tudo”, escreve Dora (Fernando Montenegro) ao menino Josué, após a viagem da dupla pelos rincões do Brasil. É ela renascida quem fala; o encontro com o garoto a fez resgatar a vida. Dora escreve cartas no Rio, e atende a mãe de Josué, Ana. Mas logo depois, Ana sofre um acidente e morre. Dora acaba por levar o órfão Josué para sua casa, e embarca com ele em uma viagem em busca do pai do menino. A história emocionou o mundo. O filme recebeu inúmeros prêmios, entre eles o Urso de Ouro e o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, e foi indicado a dois Oscar.

ONDE VER
Apple TV: R$ 4,90 (aluguel) e R$ 7,90 (compra)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)
Telecine Play: grátis para assinantes

Cena do filme "O Assalto ao Trem Pagador", do diretor Roberto Farias - Divulgação

O ASSALTO AO TREM PAGADOR (1962) 
O longa de Roberto Farias é baseado em um famoso assalto ocorrido na estrada de ferro Central do Brasil, em 1960. O filme começa com a ação em si, quando o bando de Tião Medonho para o trem, em sequência digna de faroeste, e rouba milhões. Depois da partilha da grana, o filme se debruça sobre a vida em uma favela no Rio, onde a maior parte do grupo vive, expondo pobreza e racismo.

ONDE VER
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

Hanuska Bertoia
Hanuska Bertoia

47 anos, é formada e pós-graduada em jornalismo. Gosta de ver filmes em qualquer plataforma (TV, celular, tablet), mas não dispensa uma sala de cinema tradicional.

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.