Aplicativos adaptam a rotina de treinos durante a pandemia

Uso exige cautela e acompanhamento profissional para evitar lesões

São Paulo

Ter uma alimentação saudável e praticar atividades físicas fazem parte dos cuidados com a saúde. Mas as limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus dificultaram essas tarefas, o que motivou algumas pessoas a procurarem ferramentas para adaptar os hábitos às novas rotinas. Uma solução é o uso de aplicativos que, apesar de úteis, exigem atenção.

“Estratégias para melhorar a saúde sempre levam em conta vários aspectos da vida”, afirma Eduardo Kokubun, professor doutor do Departamento de Educação Física do Instituto de Biociências no Campus de Rio Claro da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Ele diz que fazer exercícios ou dietas isoladamente não bastam, ou seja, o cuidado com a saúde é uma coisa integrada.

Kokubun afirma que a preocupação com o uso de aplicativos é a falta de customização para as necessidades de cada um. Copiar um exercício inadequado pode causar problemas nos músculos e articulações, por exemplo. Isso não significa descartar os aplicativos, pois têm funcionalidades úteis e podem ser usados juntos com o acompanhamento profissional. Para ele, o ideal é fazer exercícios com os quais a pessoa já esteja habituada e começar por aquecimentos.

ilustração do viva bem sobre aplicativos de 12 de julho
Arte Agora

O professor destaca que os apps também podem ser usados para monitorar o próprio desempenho. Há ainda aqueles que alertam sobre comportamento sedentário, lembrando o usuário de se movimentar após passar muito tempo sentado. “Independentemente de aplicativos, qualquer movimento conta”, destaca. Ele afirma que, ao menos, 30 minutos diários de atividade física, como caminhada ou limpar a casa, é o recomendado.

A porcentagem de pessoas que passou a utilizar aplicativos e vídeos para se exercitar foi de 4%, antes da pandemia, para 60%, conforme mostra a pesquisa on-line “Efeitos da atividade física e do exercício sobre o bem-estar no contexto da pandemia de Covid-19”. O estudo foi feito com 592 pessoas de todas as regiões do país e realizada por pesquisadores da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), da Universidade Federal do Ceará e da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).

O músico Vinicius Lourenço, 27, vê vídeos de exercícios básicos, feitos por profissionais de educação física para nortear suas atividades diárias durante cerca de 12 minutos. Além disso, ele conversa regularmente com um amigo formado na área sobre a prática e os cuidados para não fazer algo errado. Morador do Tatuapé (zona leste de SP), Lourenço costumava jogar basquete aos fins de semana até a quarentena. Em casa, ele acredita que o principal desafio é manter a disciplina e compara a prática com a sua profissão. “A música exige um estudo solitário e diário”, afirma.

Patrick Freitas, 21, é auxiliar administrativo e começou a utilizar um aplicativo gratuito com exercícios físicos no mês passado. Ele recorreu a prática para perder peso. Até a quarentena, o morador de Guarulhos (Grande SP) tinha o hábito de caminhar ao ar livre. Além de seguir os exercícios mais simples do aplicativo, ele também começou a pular corda e fazer dieta. “Só não me cobro tanto”, diz. As atividades são feitas seis dias por semana durante trinta minutos. Após a pandemia, ele pretende buscar acompanhamento profissional.

Cuidados com a alimentação

Outro campo que aparece de formas variadas nas lojas de aplicativos é o da alimentação. Segundo Selma de Britto Gonçalves (CRN-3 4375), coordenadora do Setor de Ética do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS, há apps que fazem leitura de rótulo, sugerem cardápios com diferentes valores calóricos e fornecem informações sobre o prato de comida, por exemplo. Além disso, caso o recurso tenha sido construído fora do Brasil, ele pode fazer recomendações que não são compatíveis com os hábitos alimentares nacionais.

A nutricionista explica que é importante entender que o aplicativo é um banco de dados. Nele, é possível encontrar informações nutricionais que facilitam a rotina. No entanto, é preciso estar atento às suas funcionalidades. “Não é uma consulta a distância. Vai ser um facilitador para cumprir as orientações de um profissional”, afirma.

Gonçalves ressalta que é o nutricionista quem faz diagnósticos, ensina a ter hábitos saudáveis e personaliza o plano alimentar (ou dieta) conforme as necessidades individuais, levando em conta características físicas (como peso e altura), de saúde (como doenças crônicas), da rotina (como horário de trabalho e dinâmica familiar) e econômicas (segundo o poder aquisitivo da pessoa).

Gonçalves alerta que estes aplicativos não são recomendados para pessoas que já tenham algum transtorno alimentar, pois podem potencializar comportamentos nocivos à saúde. Ela também destaca que, caso o uso se torne uma fonte de estresse, ansiedade e angústia ou a pessoa não consiga fazer as atividades diárias, por uma fraqueza, são sinais de que há exagero. “A tecnologia veio para nos ajudar, mas não vai substituir o profissional e o atendimento individualizado”, finaliza.

Aplicativos de exercícios e alimentação são só ferramentas

SAÚDE É UM CONJUNTO

  • Estratégias para melhorar a saúde devem levar em consideração diversos aspectos
  • Exercícios sem alimentação saudável, por exemplo, não são efetivos
  • Pandemia dificultou o contato com profissionais de educação física e nutrição
  • Estes profissionais criam um plano personalizado de acordo com a necessidade de cada pessoa
  • Lembre-se que as pessoas têm necessidades diferentes

PARA A ATIVIDADE FÍSICA

  • Diante das necessidades individuais, há profissionais que orientam o paciente em consulta e indicam aplicativos adequados para aquela pessoa
  • Assim, o uso é misto
  • O ideal é que todos tenham alguma supervisão
  • Bons aplicativos monitoram a sua prática
  • Com exercícios simples e metas possíveis de serem alcançadas para quem está começando
  • Eles são interessantes para observar a sua própria prática, é uma forma de autoconhecimento
  • Apesar dessas predefinições, a pessoa deve observar se já está habituada aquele tipo de exercício
  • Caso vá fazer exercícios, faça alongamentos e aquecimentos antes
  • Fazer o que não está acostumado pode levar a problemas articulares, musculares, cardiovasculares e metabólicos

Os bons aplicativos

  • Não compare seus resultados em dois aplicativos diferentes
  • Para acompanhar sua evolução, é melhor usar sempre o mesmo
  • Geralmente, estes aplicativos acompanham seus hábitos por cinco dias antes de começar a dar recomendações
  • É comum que eles tenham uma sequência de alongamentos e aquecimentos até os exercícios
  • Além dos usados para treinos, há apps que informam sobre comportamento sedentário
  • Assim, eles alertam caso a pessoa passe muito tempo sentada e a “lembra” de ficar em pé por alguns minutos

Não exagere

  • Um tempo depois da prática, é possível ficar cansado, mas não exausto
  • Fique atento à respiração forte e coração acelerado
  • Preste atenção se a prática está levando a dores duradouras
  • Geralmente, é comum que a primeira semana de exercícios deixe a pessoa um pouco dolorida
  • Mas se isso persistir ou for muito intenso, pode haver algum problema

Atividade física é importante

  • Qualquer movimento conta
  • Arrumar o armário e limpar a casa também são atividades físicas
  • Não fique totalmente parado
  • Com ou sem apps, é recomendável fazer 30 minutos por dia
  • Esse tempo pode ser dividido em três blocos de 10 minutos
  • Não precisa ser algo difícil, movimentos simples como alongar braços, caminhar, sentar e levantar, por exemplo, já são benéficos
  • Em tempos de pandemia, consulte as recomendações das autoridades de saúde locais para praticar (ou não) atividade física fora de casa

PARA A ALIMENTAÇÃO

  • Aplicativos são ferramentas
  • Eles vieram pra ficar, mas devem ser utilizados sob orientação profissional e sem criar uma relação de dependência
  • Cada aplicativo tem uma característica, não são todos iguais
  • Também há aplicativos nacionais e outros internacionais (estes podem fazer recomendações fora do nosso hábito alimentar)
  • Recursos de sugestão de cardápio, por exemplo, não são recomendados para pessoas com doenças de base como diabetes
  • O uso dessas ferramentas não são recomendadas para pessoas com algum transtorno alimentar ou psicológico, pois podem virar uma fonte adicional de estresse e ansiedade

Pontos positivos

  • São banco de dados que podem fornecer informações nutricionais sobre o alimento
  • Leem rótulos
  • Sugerem cardápios variados
  • Facilitam as escolhas do dia a dia

Pontos negativos

  • Podem potencializar comportamentos compulsivos
  • Nem sempre a propaganda é clara sobre a sua funcionalidade
  • Há apps que passam a ideia de uma consulta nutricional ou de algo personalizado, sendo que não são
  • Apesar de alguns terem um questionário sobre peso, altura, horário, gostos, condição financeira e objetivos, eles não servem como o diagnóstico feito por um nutricionista, por exemplo
  • Nem todos informam que certos grupos de pessoas não podem fazer uso deles, ou precisam de muita cautela

Diferencie o atendimento profissional

  • O nutricionista é quem faz avaliações e diagnósticos
  • Além dos dados pessoais, eles comparam as informações com exames e doenças (como diabetes)
  • Assim, este profissional cria planos alimentares (conhecidos como dietas) próprios para a necessidade de cada um
  • O trabalho também envolve a chamada reeducação alimentar, ou seja, a pessoa aprende a fazer escolhas saudáveis em um processo lento e contínuo
  • Sem orientação profissional, não é possível saber se um eventual emagrecimento está acontecendo corretamente, por exemplo

Fique atento

  • Os apps são apenas complementos da orientação profissional
  • Há aplicativos que fazem restrições severas de calorias
  • São sinais de exagero:
    • Fraqueza
    • Não conseguir fazer as atividades diárias
    • Ter o app como fonte de angústia, ansiedade e estresse

FONTES

  • Eduardo Kokubun, Professor Doutor do Departamento de Educação Física do Instituto de Biociências da Unesp, Câmpus de Rio Claro.
  • Selma de Britto Gonçalves (CRN-3 4375), coordenadora do Setor de Ética do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS
  • Viviani Fontana (CRN-3 8369), vice-presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS
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