Os escudos faciais ainda não são tão comuns, mas já aparecem cobrindo os rostos das pessoas no comércio e nas ruas da capital. O que muitos ainda não sabem é que eles não devem ser usados sozinhos, em hipótese alguma, mas como complemento às máscaras para oferecer uma proteção eficaz contra o coronavírus.
Redondos, de plástico ou acrílico, os faceshields, como são chamados, parecem viseiras, são úteis, mas dão a falsa sensação de segurança para quem deseja usá-los sem máscara. “Uma coisa importante é que o uso de faceshield não elimina a necessidade da máscara. Embora proteja contra as gotículas, ele não é elemento filtrante do ar”, afirma a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês.
A especialista afirma que o uso do faceshield é mais indicado quando o indivíduo se coloca em uma situação onde fica a uma distância menor do que dois metros de outra pessoa. Para Antônio Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia, o escudo facial é uma proteção muito boa e seu uso deve ser incentivado para alguns grupos da população.
“O melhor uso dele é para as pessoas que trabalham diretamente com o público. Por exemplo, recepcionistas, secretárias, cobradores de ônibus. Não adianta estarem apenas com a máscara, porque estão com os olhos descobertos o tempo todo", diz.
Um dos coordenadores do projeto Respire!, o professor da Escola Politécnica da USP Vanderley John afirma que os escudos são eficientes, desde que usados com máscara. “Certamente, eles [sozinhos] não resolvem o problema das nanopartículas de vírus que ficam em suspensão no ar por períodos longos”, afirma.
Professora comprou para proteger mãe
A professora Edjosana Nascimento, 39 anos, encontrou no escudo facial a maneira segura de circular com a mãe, a aposentada Desuíta Nascimento, 78, pela República (região central). As duas foram a uma óptica pela necessidade de fazer um óculos.
“Acabei de comprar para ela, que não está saindo por nada”, diz a filha. “Já estou até amarela de tanto ficar dentro de casa”, afirma Desuíta. Apesar da proteção de acrílico, a aposentada usava também uma máscara.
O comerciante mineiro Corjesus Carvalho, 54, não abre mão do faceshield em suas andanças pela rua 25 de Março (região central). “Acho que é uma proteção a mais. Tem que ter a máscara e esse protetor. Posso me contaminar pelos olhos em lugar com muita aglomeração”, diz. Ele conta que pagou R$ 8 pelo escudo e que está satisfeito.
Poucas pessoas usam o faceshield sem máscara. Uma das exceções encontradas pelo Agora foi um ambulante de 19 anos que vende justamente o produto na 25 de Março. “Digo para as pessoas usarem com máscara. Uso sem porque estou na correria de polícia, então atrapalha”, diz, apontando as constantes fugas do rapa como motivo para manter a boca e o nariz descobertos. Segundo ele, em um bom dia, chega a vender de 30 a 40 peças.
Profissionais adotam a proteção no shopping
Não é apenas no comércio popular que os escudos faciais têm encontrado adeptos. Embora poucas pessoas usem, mesmo no grã-fino Pátio Paulista há quem tenha adotado por segurança. “Na área da beleza, como trabalhamos próximos aos clientes, todos nós devemos usar isso”, diz o barbeiro Gabriel Couto, 24 anos. “É esquisito, aquece muito.”
Na entrada do shopping, a técnica de enfermagem que faz medição de temperatura dos clientes também tem o faceshield. “É ótimo. Protege a mim mesma e aos outros também”, diz Cauanata Guimarães, 19.
Produto salva fábrica de instrumentos
Quando a pandemia atingiu em cheio as vendas, a empresa de instrumentos musicais de Luciana Chen Salata, 38 anos, teve que mudar o ritmo e o tom da produção. Para garantir o emprego dos cerca de 40 funcionários, pandeiros, tantans e surdos ganharam a companhia de faceshields na linha de montagem.
“A gente evitou a demissão das pessoas. Temos funcionários que trabalham há mais de 20 anos conosco”, afirma. “Logo que entrou o isolamento, a gente aderiu à redução de jornada. Quando finalizou a redução, a gente deixou algumas pessoas de férias. Durante esse período, não paramos a produção, mas afetou bastante”, completa.
As vendas da empresa de Luciana não são feitas diretamente para o consumidor, mas para as lojas, que permaneceram fechadas por meses. Com o retorno dos funcionários, houve a necessidade da adaptação. “Providenciamos as máscaras e surgiu a ideia do faceshield. A gente tinha maquinário e pessoas ociosas”, afirma.
A pandemia fez também a empresa notar que parte importante do faceshield, aquela que vai colada à testa, era parecida com o pandeiro meia-lua, um dos instrumentos produzidos na fábrica. No visor transparente, um tipo de propileno. “Parte da matéria-prima é bem parecida”, afirma.
Até o momento, já foram vendidos cerca de 4.000 faceshields pela empresa, sediada no Brás (região central). Apesar dos números positivos, Luciana não vê no futuro uma mudança de foco da empresa. “Muita gente acabou fazendo faceshield e o mercado ficou saturado desse produto. A gente vai manter o foco nos instrumentos, mas, se surgir uma oportunidade, não pode descartar.”
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