Três ônibus foram incendiados após um suposto tumulto entre policiais militares e moradores da comunidade do Sapê, na região do Rio Pequeno (zona oeste da capital paulista), que resultou em dois homens baleados pela PM, na noite deste domingo (20), segundo imagens feitas com celular. Um deles permanecia internado em estado grave até a publicação desta reportagem. O estado de saúde do outro ferido não foi informado.
Uma moradora da região, de 41 anos, afirmou que cerca de 15 pessoas estavam em frente à sua casa, em uma confraternização entre amigos e parentes, incluindo seu marido, um jardineiro de 30 anos, apesar das recomendações para as pessoas não participarem de aglomerações por causa do novo coronavírus. Por volta das 18h40, ela disse que policiais militares “já chegaram atirando”, provocando correria na rua Waldemar. Instantes depois, seu companheiro caiu no chão.
A PM, por sua vez, afirma que "foi hostilizada" ao tentar abordar um grupo de motociclistas, suspeito de envolvimento em supostos roubos de motos na avenida Politécnica, que fica a cerca de dois quilômetros do local da abordagem policial
Imagens feitas com celular mostram um PM apontando a arma em direção ao jardineiro. O som de um disparo pode ser ouvido e o homem cai no chão. Outro teria sido ferido neste momento, segundo apurado pelo Agora.
Após os disparos, ainda segundo as imagens, moradores tentam ajudar o jardineiro, enquanto o PM que o feriu os empurra, apontando sua arma para um homem, que chega a levantar as mãos em sinal de rendição. Em seguida, moradores jogam objetos contra dois PMs, que recuam ainda com suas armas de fogo em punho.
O jardineiro foi socorrido por conhecidos e levado ao Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo), no Butantã (zona oeste). Segundo sua mulher, o estado de saúde do companheiro é grave. A unidade de saúde foi questionada sobre isso, mas não havia dado retorno até a publicação desta reportagem. Não foi informado para qual hospital o segundo ferido a tiros foi encaminhado.
A mulher do jardineiro acrescentou “ser comum” que a PM use de violência para lidar com moradores da comunidade do Sapê. “Infelizmente, eles [policiais] sempre chegam atirando, com balas de borracha. Essa é a primeira vez que usam munição de verdade e nos deixa assustados, pois quando atiraram tinha gente idosa e crianças nas ruas”, destacou a mulher, que está grávida de cinco meses.
Resposta
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), os dois homens baleados tiveram as prisões instauradas pelo 14º DP (Pinheiros), sem justificar o motivo para as detenções.
Sobre a depredação dos ônibus, a pasta acrescentou que o 51º DP (Rio Pequeno) apura as depredações e incêndios provocados durante "o tumulto". "Na ocasião, a PM foi hostilizada, após tentar abordar um grupo de motociclistas que estaria envolvido em roubos a motos na Avenida Politécnica", diz trecho de nota.
A secretaria afirma ainda que, além dos baleados, mais duas pessoas, além da mesma quantidade de PMs, se feriram, sem especificar a gravidade.
A ação dos policiais é acompanhado pela Corregedoria da PM. A corporação também instaurou um IPM (inquérito policial militar) para analisar a contuda dos policiais envolvidos na ocorrência.
A Ouvidoria das políciais também instaurou um procedimento para acompanhar a investigações do caso. "Imagens mostram policiais militares atirando contra moradores. É preciso investigar as circunstâncias da ação dos policiais. A Ouvidoria está à disposição de moradores e líderes comunitários que possam contribuir com informações para subsidiar as investigações", afirma trecho de nota do órgão.
Câmeras vão monitorar ação de policiais
A partir do próximo dia 1º de agosto, 2.000 policiais militares de três batalhões da cidade de São Paulo — (11º e 13º, no centro) e 37º (na zona sul)— vão revezar o uso de 500 câmeras acopladas no uniforme para que as ações dos agentes possam ser gravadas com áudio e vídeos.
O uso da nova tecnologia ocorre no ano em que Policiais Militares mais mataram em serviço no estado. Entre janeiro e março, 218 pessoas morreram em supostos confrontos com PMs, média de 2,3 ao dia.
Este é o maior registro desde 2001, quando a Secretaria da Segurança Pública, da gestão (PSDB), iniciou a contagem.
O uso de câmeras também poderá ajudar a inibir ações violentas de policiais, ou até auxiliar em sua defesa, como na de um soldado que pisou no pescoço de uma mulher no mês de maio, em Paraisópolis (extremo sul da capital).
A comerciante de 51 anos, que foi arrastada no asfalto, conforme mostram imagens feitas por celular, teve uma das pernas fraturada.
O policial militar, assim como os outros agentes que participaram da ocorrência, foi afastado dos serviços de rua. Ele disse que foi ameaçado com uma barra de ferro e um cabo de rodo.
No primeiro semestre deste ano, segundo a SSP, 125 policiais foram presos no estado, sendo que 86,4% deles são militares. No período, 96 agentes foram demitidos e expulsos, sendo que 91,6% eram PMs.
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