Tem gente que procura sarna para se coçar, mas, muitas vezes, é a sarna quem encontra a pessoa. E não só ela. Segundo especialistas, a coceira pode ter inúmeras causas, merece atenção detalhada e até mesmo acompanhamento médico, quando o incômodo não desaparece com a passagem do tempo.
Quem pensa que uma coceirinha aqui, outra ali, é um desconforto besta, coisa do dia a dia, pensa errado. "Toda vez que a coceira é importante a ponto de atrapalhar a vida diária ou se torna persistente, um médico deve ser procurado para melhor avaliar e orientar cada caso", afirma a médica dermatologista do Hospital do Servidor Público Municipal da capital, Leticia Arsie Contin.
Segundo a dermatologista, alguns pacientes se coçam tão intensamente que chega a ser algo violento, produzindo feridas pelo corpo. "Acreditam que as feridas são o problema, quando na verdade elas são apenas consequência de algum problema de saúde ou também de um quadro de ansiedade", afirma.
Coordenadora do Departamento Científico de Dermatite Atópica da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), Marcia Carvalho Mallozi afirma que há diferentes causas da coceira --entre os médicos, esse incômodo é também chamado de prurido. Desde um vírus até algum aspecto psicológico. Ou, até mesmo, por pura imitação. "Se você vê alguma pessoa se coçando, começa a se coçar junto. Pode não ser nada. Já pensou quantas vezes você coça a cabeça por dia?"
Inverno
O vai e vem das estações também traz consigo a coceira. Quando o tempo esfria e umidade do ar despenca, é comum o surgimento de incômodo na pele. Principalmente entre os mais velhos. "Uma pele seca pode coçar. O idoso tem coceira na pele e nem é por doença. Não descama direito ou descama muito. Às vezes, você nem consegue saber", diz Marcia.
Não é fácil tirar férias das coceiras, porque também no verão elas aparecem. Quando o tempo fecha e esquenta, quem surge são as micoses, dando uma coceira danada entre os dedos.
Dermatite atópica atinge 1 em cada 5 crianças
A próxima quarta-feira (23) será o Dia de Conscientização da Dermatite Atópica, doença que atinge uma em cada cinco crianças e que, em 5% delas, se manifesta de forma grave. A pele seca e áspera, com muita coceira, é a principal característica.
Segundo especialistas, 60% dos casos ocorrem no ainda primeiro ano de vida. Além da pele, há também alterações imunológicas e fatores ambientais e emocionais envolvidos.
A dermatite atópica é uma doença não contagiosa, com fator hereditário, que pode estar associada à asma e à rinite.
Os sintomas podem ser intervalados, mas, em alguns pacientes, eles ocorrem de maneira permanente, sem trégua.
Coordenadora do Departamento Científico de Dermatite Atópica da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), Marcia Mallozi diz que, apesar da hereditariedade, a doença pode ter vários desencadeantes como alimentos (trigo, ovo e leite são os mais comuns), aeroalérgenos (ácaros, fungos), perfumes e suor.
"Os aspectos emocionais desempenham um importante papel, evoluindo para a auto-reclusão dos pacientes e até depressão", conta.
Em bebês, lesões predominam nas bochechas, pescoço, couro cabeludo. Em crianças, adolescentes e adultos, atinge as dobras dos braços e pernas, face e pescoço. "A hidratação é a base do tratamento e o uso de sabonetes neutros e líquidos são fundamentais, somados aos demais cuidados", diz Marcia.
Causas mais comuns
Alergias
- Picadas de insetos
- Dermatite atópica
- Dermatite de contato
Urticárias
- Vírus
- Alimentação
- Remédios
- Pressão de vestuário
Micoses
- São infecções provocadas pelo crescimento excessivo de fungos e que podem afetar a pele, o couro cabeludo, as unhas e áreas mais úmidas do corpo
- O desenvolvimento das micoses está ligado a fatores como sistema imunológico enfraquecido, consumo excessivo de açúcar ou alergias
Sarnas
- É uma parasitose humana causada por um ácaro
- O contágio se dá por contato direto com pessoa ou roupas e outros objetos contaminados
Doenças hepáticas ou renais
- Ocorre quando há redução na formação ou no fluxo da bile, e as alterações podem acontecer na célula hepática, nos canais biliares ou por obstrução de fluxo nas vias biliares
Problemas psicológicos
- Pode ser causada por doenças como depressão, ansiedade ou dependência de drogas
Pele ressecada
- Geralmente ocorre com o tempo mais seco, com a umidade do ar mais baixa. É mais comum nas dobras dos braços e na parte de trás dos joelhos
Atenção!
- Caso a coceira seja localizada e não passe espontaneamente entre um dia e outro, se atrapalhar a vida diária ou se tornar persistente, um médico deve ser procurado
- Os machucados podem não ser o problema, mas apenas uma consequência do que provoca as coceiras
Para uma pele saudável
- Evite banhos quentes e demorados
- Não se ensaboe demais ou use buchas
- Prefira sabonete líquido ao de barra
- Use hidratante logo após sair do banho, ainda com vapor
- Usar filtro solar diariamente
- Beber no mínimo dois litros de água por dia
Para peles oleosas
- Evite hidratante comum no rosto, usar produtos sem óleo nas áreas de maior oleosidade (rosto e tórax)
- Lábios costumam ressecar no inverno; é importante usar hidratantes específicos para essa região
Dermatite atópica
- Doença multifatorial que tem causas genéticas, ambientais e emocionais
- Manifesta-se ainda na infância e pode desaparecer com o tempo
Tratamento
- Quando a coceira não vai embora rapidamente, é preciso investigar a fundo a causa antes de propor um tratamento, porque as causas podem ser múltiplas
Fontes: Leticia Arsie Contin, médica dermatologista do Hospital do Servidor Público Municipal, e Marcia Carvalho Mallozi, coordenadora do Departamento Científico de Dermatite Atópica da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia)
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