Descrição de chapéu Editorial

A mulher julgada

Influenciadora foi submetida a constrangimentos inaceitáveis

Não era Mariana Ferrer que estava sendo julgada, mas assim pareceu. Declarando ter sido vítima de estupro aos 21 anos em 2018, num clube de luxo em Florianópolis, a influenciadora catarinense foi submetida, em audiência da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, a constrangimentos inaceitáveis.

Mulheres de movimentos sociais fazem manifestação por justiça no caso Mariana Ferrer e contra a cultura do estupro, em frente ao STF - Pedro Ladeira/Folhapress

Imagens reveladas pelo site The Intercept mostram passagens da audiência que inocentou o empresário acusado do crime, André de Camargo Aranha. Nas cenas pode-se ver o sistema judicial intimidando a acusadora.

A título de exemplo, o advogado de defesa, Cláudio da Rosa Filho, exibe fotos sensuais produzidas pela jovem quando era modelo, sem relação com a data dos fatos, para reforçar o argumento de que a relação teria sido consensual.

O que estava em jogo naquele momento era a moralidade da mulher, tema que não deveria nem sequer ser debatido por um tribunal.

O advogado de defesa e o Ministério Público de Santa Catarina afirmaram que as cenas foram tiradas de contexto ou editadas, o que precisa ser esclarecido. O que foi exibido, de todo modo, é absurdo em qualquer contexto imaginável.

Viu-se o advogado qualificar fotos da acusadora como “ginecológicas” e afirmar que “jamais teria uma filha do nível” de Mariana Ferrer. Uma humilhação.

Cabe agora a entidades como OAB e conselhos de Justiça e do Ministério Público averiguar eventuais faltas éticas que possam ter sido cometidas durante o julgamento, ouvindo os envolvidos.

Passa da hora de o país levar a sério a violência —física e psicológica— cometida contra as mulheres, que precisa ser prevenida com políticas públicas e punida por uma Justiça digna desse nome.

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