Passageiros esquecem dinheiro, celular e até drone no transporte público

Até mesmo uma boneca inflável já foi deixada para trás por um distraído em um ônibus da EMTU

Juca Guimarães
São Paulo

Alguém já esqueceu um drone dentro de um trem da CPTM e uma boneca inflável, esvaziada, em um ônibus da EMTU. No metrô deixaram para trás um vestido de noiva. A história por trás desses objetos ninguém sabe, mas eles estão entre os cerca de 52 mil itens dos postos de Achados e Perdidos dos transportes públicos de SP.

Até junho, foram esquecidos 1.111 objetos nos ônibus da EMTU. A CPTM contabilizou, até novembro, 11.160 objetos perdidos. No metrô, incluindo a linha 4-amarela, foram 49.137 itens em 2020, até novembro.

"Além dos celulares, Bilhete Único, BOM, cartões bancários, carteiras, documentos, chaves e óculos são alguns dos itens mais esquecidos pelos passageiros. Mas há também objetos como dentadura, garrafas de uísque e carrinho de bebê", relata Juliana Alcides, gestora de Comunicação e Sustentabilidade da ViaQuatro, que opera a linha 4-amarela, e da ViaMobilidade, da linha 5-lilás.

Nos ônibus urbanos, o passageiro que perdeu algum objeto precisa procurar a empresa do veículo --os telefones de todas elas estão no site da SPTrans. As empresas guardam os objetos por um período, que varia de acordo com a viação, depois são encaminhados para o terminal Sacomã, na zona sul da capital, onde ficam por mais 45 dias. De acordo com a SPTrans, os itens que não são resgatados acabam sendo doados para entidades que atendem pessoas carentes ou em vulnerabilidade.

Quem perdeu algum objeto dentro de um terminal ou de um ônibus pode, de acordo com a SPTrans, se orientar com a administração de algum terminal no prazo de até cinco dias.

Segundo a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), administrada pela Metra, nesta época do ano, cresce o volume de itens porque os passageiros estão mais apressados e distraídos. Na EMTU, o item mais inusitado nos Achados e Perdidos é uma boneca inflável, encontrada vazia em uma sacola.

São Longuinho dá uma força na 'investigação' do metrô

No posto de Achados e Perdidos do metrô tem uma imagem do são Longuinho. O santo, em troca de três pulinhos, ajuda a achar objetos perdidos, de acordo com a crença popular.

Além do auxílio do santo, a equipe do metrô conta com a tecnologia para reduzir o estoque de artigos perdidos. Os funcionários fazem uma investigação no objeto para achar alguma pista que leve ao dono. Quando conseguem, entram em contato e avisam que o item foi encontrado.

Segundo o metrô, é possível mapear os principais locais e os tipos de objeto mais esquecidos.

Médico encontra fotos antigas da família

No final de 2019, os funcionários do metrô de São Paulo entraram em contato com o médico ortopedista Marcos Corsato para contar que foram encontrados vários álbuns com fotografias antigas da família dele.

A identificação foi possível por causa do sobrenome e de uma carteirinha de visitadora sanitária, de 1982, que estava junto com os álbuns de fotografia.
Corsato, então, decidiu ir atrás da "descoberta" do metrô. Quando foi resgatar o material, o médico se deparou com fotos antigas, da primeira metade do século passado, de amigos e parentes da sua tia Nilza, provavelmente a dona dos álbuns. Tinha até uma foto do tataravô do médico.

"A experiência foi muito boa. Realmente consegui me conectar a vários parentes, alguns que já não me lembrava mais e outros mais 'novinhos'", afirmou Corsato.

Os álbuns que estavam perdidos no metrô registram vários momentos importantes da vida da tia, que até então ninguém da família sabia que tinham sido fotografados. São fotos de viagens e festas com muitos parentes da parte do pai do médico.

Corsato vai usar as imagens como referência para montar a árvore genealógica da família. A pandemia do coronavírus atrapalhou um pouco a ideia de reunir a família toda em volta dos álbuns para tentar identificar as figuras nas fotografias, mas é algo que está nos planos para 2021, no pós-pandemia.

Há um mistério sobre o motivo pelo qual os álbuns de fotografia foram parar no metrô. Marcos tem uma teoria. "Achamos que algum parente do marido dela deixou-as no metrô, de propósito", disse.

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