Começou ensolarado e quente o primeiro dia do megaferiado decretado pela Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), nesta sexta-feira (26). Dessa maneira, algumas pessoas resolveram curtir o dia de folga no entorno de parques, que permanecem fechados ao público por causa da fase vermelha do Plano São Paulo do governo estadual.
A antecipação de dias de folga na capital paulista ocorre para que as pessoas não permaneçam nas ruas e espaços coletivos, diferentemente de um feriado convencional. É mais uma tentativa governamental de frear as infecções, mortes e internações decorrentes da Covid-19, responsável por mais de 300 mil óbitos no Brasil.
Os cinco feriados antecipados são o de Corpus Christi e do Dia da Consciência Negra de 2021 e os feriados do aniversário de São Paulo, de Corpus Christi e do Dia da Consciência Negra de 2022. O dia 2 de abril já é o feriado de Sexta-Feira Santa. As sete cidades do ABC também anteciparam feriados na região.
Ao lado de um carrinho de sorvetes, o aposentado Carlos Gastão, 64 anos, observava as duas netas, de 8 e 10 anos, brincando em um balanço, amarrado em um galho de árvore, em um gramado ao lado do Parque do Carmo, na zona leste de São Paulo.
Todos os portões de acesso ao local estavam fechados, por volta das 14h, pois o acesso aos parques da capital paulista estão proibidos ao público desde o último dia 6.
O homem, de máscara, estava no local para vender sorvetes, atividade que desempenha há cerca de 30 anos, mas que era feita dentro do Parque do Carmo, do qual é vizinho. Mesmo com a queda de aproximadamente 80% nas vendas, ele afirmou ser favorável às maiores restrições da fase emergencial.
“Aproveito para trazer minhas netas [ao gramado externo], para elas se distraírem um pouco também. Como não dá para entrar no parque, venho aqui na parte de fora para vender para as pessoas”, afirmou, se referindo às famílias que também usam o gramado para lazer.
Uma destas famílias é do motorista Felipe Delgado, 29 anos, que mora no Jardim Helian, também bem perto do Parque do Carmo, onde afirmou frequentar com assiduidade "desde que se conhece por gente."
Como o local está fechado ao público, o motorista resolveu aproveitar o primeiro dia do megaferiado, com sol e tempo firme para levar ao gramado externo do parque o filho de 3 anos, a sobrinha, de 4, a irmã, de 31 e a mãe, de 63, os quais, com exceção de Delgado, usavam máscaras de proteção.
“Não deixo nossos meninos interagirem com outras crianças, para evitar infecção [pela Covid-19] e estou sem máscara agora porque estou em uma área aberta, longe das pessoas”, justificou.
Outra família, com cinco pessoas, também usava o mesmo gramado onde estavam os familiares do motorista e o idoso com as netas.
O gramado externo do parque do Ibirapuera, na zona sul, era frequentado por cerca de dez pessoas, no fim da tarde desta sexta. Ao menos quatro ambulantes, que vendiam bebidas, circulavam pelo local. Este tipo de atividade está proibido por causa da atual fase emergencial, que restringe ainda mais o funcionamento do comércio.
O fluxo de veículos também foi intenso nas principais vias da zona leste e no centro de São Paulo entre a manhã e a tarde desta sexta. Já as calçadas, nas regiões onde a reportagem circulou, estavam praticamente vazias, com poucos pedestres caminhando ou aguardando ônibus em pontos.
Este foi o caso do repositor Luís Batista, 32 anos, que havia acabado de sair de seu primeiro serviço, por volta do meio-dia, e aguardava um ônibus, na avenida Aricanduva, de onde rumaria para sua segunda jornada de trabalho, no Carrão.
“Eu moro no Cidade Tiradentes e hoje [sexta] quando estava vindo para meu primeiro serviço do dia, tinha lugar para todos sentarem no ônibus, mas isso já está acontecendo desde que a fase vermelha foi retomada”, ressaltou, se referindo à fase emergencial, iniciada no último dia 15 e que teve o final, previsto para o próximo dia 30, prorrogado para 11 de abril.
Batista afirmou ser favorável às medidas mais rígidas, acrescentando estar na rua por causa dos dois trabalhos. Ele disse ainda que irá ter folga somente neste domingo (28), trabalhando todos os demais dias da próxima semana, além deste sábado (27). "Este feriadão, para mim, não existe", afirmou.
Além da avenida Aricanduva, o Agora circulou pelas avenidas Ragueb Chohfi e Mateo Bei, também na zona leste, nas quais o fluxo de veículos era intenso, entre o fim da manhã e início da tarde, e as calçadas permaneciam praticamente vazias. Somente comércios essenciais mantinham o atendimento ao público.
Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o número de passageiros nos ônibus da capital paulista diminuiu em 24,7%, entre o último dia 5, véspera da decretação da fase vermelha na cidade, quando circularam 1,98 milhão de pessoas em ônibus, e esta quinta-feira (25), data com dados mais recentes, quando 1,49 milhão de usuários circularam em coletivos.
O fluxo de veículos e a lentidão do trânsito também reduziram durante o mesmo período. Foram, respectivamente, 78 km e 32 km (-59%) e 6,4 milhões e 5,7 milhões (-11%).
As gestões dos tucanos Bruno Covas e João Doria não haviam se manifestado sobre eventuais autuações, neste primeiro dia do megaferiado na capital paulista, até a publicação deste texto.
Fila em frente à agência dos Correios
Uma fila com 13 pessoas aglomeradas aguardava atendimento em frente a uma agência dos Correios, por volta das 13h40 desta sexta-feira (26), na avenida Ragueb Chohfi, região do Parque Boa Esperança, zona leste.
A autônoma Eliene Antunes, 53 anos, era uma das últimas da fila, mas aguardava a sua vez para comprar selos, com a mesma calma e paciência com as quais escreve cartas para familiares que moram em Ibiracatu (MG), também sua cidade de origem, que fica a cerca de 610 quilômetros de distância da capital Belo Horizonte.
“Antes da pandemia, já nos falávamos por meio de cartas. Agora com este isolamento todo, nos escrevemos mais um tiquinho ainda”, explicou.
Eliene redige em média duas missivas por semana, recebendo a mesma quantidade de cartas como resposta. Ela garantiu usar a internet, mas preferir as cartas, pois demonstram “dedicação e zelo” para com o destinatário das palavras.
Logo à frente dela, a estudante Vitória Tiburcio, 18 anos, também aguardava sua vez, com mais ansiedade, para retirar uma encomenda que não lhe foi entregue em casa. Sem informar o que iria retirar na agência, a jovem garantiu permanecer em casa desde o início da pandemia, acrescentando concordar com as medidas mais restritivas de isolamento decretadas pelo governo estadual.
“Só tenho uma coisa para criticar, que é a situação das pessoas que precisam ir para a rua trabalhar. Elas acabam se expondo [à Covid-19] e, em minha opinião, o governo poderia oferecer uma ajuda para esse pessoal mais humilde, que acaba se arriscando para poder pagar as contas”, ponderou.
Correios
Os Correios informaram que "a maioria" de suas agências na capital paulista estarão abertas ao público, durante o megaferiado de nove dias na cidade, que começou nesta sexta-feira.
A unidade onde uma fila com pessoas aglomeradas foi vista pelo Agora, na tarde desta sexta, pode atender ao público, respeitando protocolos como o distanciamento entre as pessoas, acrescentou. Para conferir quais agências estão abertas, clique aqui.
"O serviço de entrega de cartas e encomendas também será mantido, reforçando o compromisso dos Correios em prover à população e empresas soluções de comunicação e logística", diz trecho de nota.
A empresa pública federal disse ainda realizar o controle de fluxo de atendimento nas unidades, com a demarcação de espaço para o cumprimento do distanciamento entre pessoas. "Além disso, os clientes são orientados a aguardarem do lado de fora da unidade para não ocorrer aglomerações", acrescentou.
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