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Lotados, hospitais privados solicitam 30 vagas no SUS em São Paulo, diz secretário

Unidades particulares dizem que prática é comum

São Paulo

Por falta de vagas para o tratamento de pacientes com a Covid-19, os hospitais privados da capital paulista solicitaram, nos últimos quatro dias, 30 vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) à rede pública de saúde da cidade de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB). A informação foi dada nesta terça-feira (16) pelo secretário de Saúde do município, Edson Aparecido, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

"Olha só: hospital privado pedindo leito no Sistema Único de Saúde [SUS]. Quem poderia imaginar que isso alguma vez fosse acontecer? Nunca aconteceu isso no país", disse Aparecido ao jornalista José Luiz Datena.

Aparecido não soube informar todos os hospitais particulares da cidade que fizeram pedido pelas vagas. Ele citou apenas um, o São Camilo. Porém, a assessoria de imprensa do hospital diz que "desconhece a informação" e que está com ocupação de 99% de suas vagas de UTI e enfermaria destinadas ao tratamento da Covid-19.

Profissionais do MSF (Médicos Sem Fronteiras), durante trabalho na UTI do Hospital Tide Setubal, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo - Eduardo Anizelli - 23.jul.20/Folhapress

O Agora solicitou a lista completa dos hospitais à Secretaria Municipal de Saúde, mas a pasta não confirmou quais são.

"Momento mais difícil da pandemia"

Ainda na entrevista à Rádio Bandeirantes, Aparecido disse que considera este o pior momento que a capital paulista já atravessou desde o início da pandemia. Na segunda-feira (15), a taxa de ocupação de leitos municipais era de 85% na UTI e 81% na enfermaria.

Para tentar absorver a alta demanda, ele afirmou que a prefeitura tem investido na criação de novos leitos. "Estamos abrindo nesta semana mais 130 leitos de UTI, sendo 100 no M'Boi Mirim, 20 no Guarapiranga e dez no São Luiz Gonzaga, e 425 leitos de enfermaria", afirmou.

"Todo esse esforço está sendo insuficiente para o momento muito grave que nós estamos vivendo da pandemia no estado e aqui na cidade, porque, além de tratar as pessoas que são da capital, nós temos recebido muitos pacientes de fora da cidade. E obviamente não podemos deixar de tratar também essas pessoas. Então, é talvez o momento mais difícil da pandemia, desde janeiro do ano passado. Estamos com uma pressão muito grande", acrescentou.

Ele citou ainda que, no fim de semana, as 19 AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) da cidade passaram a receber pacientes que precisavam de oxigenação. Nos 16 hospitais-dia do município, as cirurgias eletivas foram suspensas e os centros cirúrgicos foram transformados em UTI.

"O perfil do paciente mudou muito. É o jovem adulto, entre 20 e 45 anos. Ele demora um pouco mais para procurar o serviço de saúde. Quando procura, já está normalmente agravado e precisa de um serviço de oxigenação muito maior. Por isso que a gente está pedindo a todo mundo que quando apresentar qualquer sintoma corre, vai imediatamente a um serviço de saúde para poder ser acompanhado, monitorado, eventualmente já poder ocupar algum espaço dentro das nossas unidades", completou Aparecido.

O que dizem os hospitais

A reportagem entrou em contato com hospitais privados de São Paulo. Os que responderam afirmam que é normal este tipo de solicitação.

Os hospitais 9 de Julho e Santa Paula dizem que a solicitação de leitos à rede pública de Saúde "é um procedimento comum quando o paciente que ingressa ao pronto-atendimento não tem plano de saúde ou não pode arcar com os custos como particular".

A rede diz que houve um caso de solicitação de leito ao SUS por uma paciente com Covid-19 internada no 9 de Julho e de 3 vagas para pacientes do Hospital Santa Paula. "Todos seguem internados, sob cuidados da equipe médica dos hospitais, até que a transferência seja feita em segurança", diz nota enviada pelas empresas.

O Grupo São Cristóvão diz que os leitos solicitados para o SUS não foram destinados a seus beneficiários. "É importante ressaltar que os leitos solicitados foram destinados a pacientes que não são beneficiários do São Cristóvão Saúde, mas que devido a emergências, receberam os primeiros socorros no pronto-socorro da Instituição e após estabilização de seus quadros de saúde, optaram pela transferência para o SUS", afirma o hospital.

O Hospital Nipo-Brasileiro diz que os pedidos de leitos ao SUS "em razão de problemas de superlotação em sua rotina de atendimento" e que a prática é "comum em todos os hospitais privados e cumpre o protocolo de atendimento de pacientes que não dispõem de convênio particular".

A Prefeitura de São Paulo diz que "as solicitações das unidades privadas refletem a pressão sobre os sistemas público e privado em função do recrudescimento da pandemia em São Paulo e em praticamente todas as regiões do país", mas que "ainda não indica o esgotamento da rede privada".

"Essas solicitações de transferências para a rede municipal de São Paulo podem estar ligadas ao fato do paciente não ter condições de concluir o tratamento integral na rede particular", acrescenta a Secretaria Municipal de Saúde.

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