Tire dúvidas sobre as variantes do coronavírus

Mutações do vírus causaram novas versões que conseguem contaminar com mais facilidade

São Paulo

Depois de um ano de pandemia, a existência de diferentes linhagens do SARS-CoV-2, o novo coronavírus, aumenta a quantidade de dúvidas sobre a Covid-19. A doença, que inicialmente era causada por uma só versão do vírus, já tem mais de 6.000 variantes pelo mundo.

As mutações, que segundo o infectologista Wladimir Queiroz, do Instituto Emílio Ribas, são muito comuns aos vírus e podem trazer vantagens para esses organismos. Em três das variantes já detectadas, a de Manaus, a do Reino Unido e a da África do Sul, essa vantagem em relação ao vírus original é a maior capacidade de se multiplicar.

Apesar dessas diferenças, segundo ele, permanece a importância dos cuidados de prevenção: evitar aglomerações, higienizar as mãos com frequência e usar máscara. O desobedecimento dessas regras, junto a vírus mais eficientes na contaminação, podem explicar o novo aumento dos casos da Covid-19 observado no país desde o fim de 2020.

Tire algumas dúvidas sobre as variantes do coronavírus

O que é variante, linhagem e cepa?
Segundo Adriano Abbud, diretor de Respostas Rápidas do Instituto Adolfo Lutz, esses termos não correspondem a uma hierarquia na classificação dos seres vivos. De acordo com o infectologista Wladimir Queiroz, do Instituto Emílio Ribas, na linguagem informal, esses termos acabam designando o mesmo, sendo que a ideia de "linhagem" está ligada à versão do vírus e seus antecessores, como em uma árvore genealógica, em que cada galho seria uma linhagem. Na linguagem científica, o termo "cepa" é evitado para se referir a vírus.

Como essas alterações acontecem? É um acontecimento normal?
Segundo Queiroz, a ocorrência de variações é algo muito comum aos seres vivos, inclusive os vírus, especialmente os de especialmente os de RNA (a informação genética do vírus), como é o caso do coronavírus.

No organismo humano, o vírus se multiplica criando cópias dele mesmo. Essas cópias têm, ou deveriam ter, o mesmo sequenciamento genético e ser iguais ao vírus, mas ele eventualmente faz cópias com erro. "Variante é uma receita errada do vírus, uma cópia mal feita. Essa cópia mal feita pode ser algo ruim para o vírus, então surge uma variante com defeito que não traz vantagem nenhuma ao vírus", explica o infectologista.

Quando isso acontece, a variante se perde. Contudo, quando uma variação traz vantagens para o vírus, fazendo com que ele fique melhor em algum aspecto, ele passa a se multiplicar com aquela nova receita. Essas mutações são essenciais para a evolução de um ser vivo, e é assim que eles se perpetuam mediante a seleção natural.

Quantas variantes do novo coronavírus já foram identificadas? E quantas delas já foram detectadas no Brasil?
No mundo inteiro, foram identificadas pouco mais de 6.000 linhagens do novo coronavírus, segundo Abbud. Até o momento, no Brasil, há por volta de 45 detectadas.

Queiroz destaca três dessas variantes, as do Reino Unido, da África do Sul e a de Manaus, que têm vantagens em relação ao vírus original, pois conseguem contaminar as pessoas com mais facilidade.

Como essas três variantes conseguiram ter maior transmissibilidade?
Em relação ao vírus original, a mutação dessas três variantes aconteceu na proteína S, que compõe a espícula (estrutura) da coroa do vírus. Esse é o local do vírus que serve como uma "chave" para se conectar à "fechadura" que existe na célula humana.

Um indício de que essas variantes são vantajosas em relação às anteriores, segundo Queiroz, é que, em pouco tempo que ela ocorre, ela se torna predominante na população.

Em termos clínicos para a Covid-19, o que significa a existência dessas variantes?
Até agora, o que já é conhecido indica que essas três versões do vírus conseguem contaminar com mais facilidade. Não há uma definição concreta sobre se elas são mais ou menos letais que o primeiro vírus.

"É uma doença com um leque de apresentações clínicas tão amplo que tem gente com sintomas muito discretos e outros com sintomas muito graves dentro de todas as variantes que se conhece", diz o infectologista.

Qual a relação das novas variantes com as reinfecções?
"Aparentemente", de acordo com Queiroz, as variantes têm uma chance maior para causar a Covid-19 pela segunda vez em uma pessoa. Ainda não há, contudo, certeza sobre isso.

O aumento de casos está ligado a essas novas variantes?
As novas variantes não são o único fator do aumento, afirma o médico. Mas não há dúvida de que, aliadas ao comportamento da população, essas novas variantes podem, sim, provocar mais casos. "Se a população tivesse um comportamento exemplar, não adiantaria o vírus se tornar mais fácil de espalhar, porque a gente não daria chance para se infectar. O que acontece é uma somatória: o desrespeito às normas junto a uma variação que facilita a transmissão", diz Queiroz.

As vacinas que atualmente são aplicadas no Brasil são eficientes contra as variantes do coronavírus?
Só no futuro teremos resposta para essa pergunta. Ainda assim, Queiroz fala que é importante a imunização da população com as vacinas disponíveis atualmente. "Essas variantes só ocorrem porque o vírus está tendo espaço para circular, passando de pessoa pra pessoa. Essas variantes só se multiplicam no organismo humano: se o vírus não atinge o organismo, não tem variante. Reduzindo o número de infectados, reduz muito a possibilidade de ocorrência de novas variantes."

Os testes RT-PCR (exame do cotonete para detectar o vírus) atuais são eficientes para reconhecer uma infecção por variantes do coronavírus?
Sim, mas os fabricantes terão que se adaptar para acompanhar as variantes. Isso porque, quanto mais mutações acontecem ao longo da linhagem, mais o vírus fica diferente do original. Se a sequência do RNA do vírus muda muito, pode tornar o teste falho, já que ele depende da identificação dessas moléculas para realizar o diagnóstico.

As máscaras de pano são eficientes para proteger contra as novas variantes?
A máscara impede que uma pessoa infectada elimine partículas que infectem outras pessoas. As mutações do coronavírus não causaram mudança nas suas dimensões, então, independentemente da versão do vírus que acometeu a pessoa, a máscara de pano é uma barreira eficiente mesmo sem necessidade de ser duplicada.

Isso, contudo, desde que sejam observadas alguns critérios, como o tecido da peça e o posicionamento correto, cobrindo nariz e boca. "A orientação no Brasil é utilizar máscaras de proteção, sejam elas de pano (de preferência com duas camadas) ou cirúrgicas", afirma Abbud.

Queiroz afirma que as máscaras N95 são, "sem dúvidas" as mais eficazes na proteção contra o coronavírus, mas, em situações do dia a dia em que o distanciamento seja preservado, não há necessidade de recorrer a elas. "A máscara isoladamente, ajuda pouco. A máscara com distanciamento é o que ajuda a prevenir mais."

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