Esperança. Velhice. Vacina.
O sr. João Névio respirava aliviado.
—Chegou a minha vez.
É importante chegar cedo na fila do posto.
—Vai que falta.
A mulher dele se chamava Elizabete.
—Você é sempre tão afobado…
—Acho melhor nem dormir essa noite.
Os hábitos do ancião estavam bem desregulados com a quarentena.
Elizabete balançava a cabeça.
—Não sai do computador.
Os dedos de João Névio acionavam as teclas.
Mas sua mente se perdia no passado.
—Achei um site incrível.
Os vídeos traziam sucessos de outros tempos.
—As Musas do Carnaval de 1969… O concurso de misses...
Muitas novelas também voltam a fazer sucesso.
—Sônia Braga… Betty Faria… ô, meu Brasil.
A madrugada avançava pelo Planalto Paulista.
João Névio procurou o posto na escuridão.
—Nossa… e já tem gente.
Uma senhora muito maquiada aguardava o dose.
—João Névio. Não se lembra de mim?
Rugas. Amargura. Flacidez.
João Névio não conseguia reconhecer.
—Fui a Bibinha. Da novela Vai ou Racha.
Sucesso dos anos 70.
João Névio despertou em casa. Sem entender mais nada.
O fato é que também os sonhos envelhecem.
Voltaire de Souza: A fila anda
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