A partir do dia 15 de junho, o governo estadual dará início a uma série de dez eventos-piloto onde os participantes passarão por exames para detectar se estão ou não com Covid-19. A lista inclui desde feiras corporativas a reuniões sociais, como casamentos.
Cada um desses eventos terá um número restrito de pessoas e todas elas serão acompanhadas durante duas semanas.
“Isso já foi realizado em outros países, em iniciativa semelhante, e aqui vamos fazer de forma segura, controlada e com testagem rápida”, afirmou o governador João Doria (PSDB), durante entrevista à imprensa na tarde desta quarta-feira para anunciar medidas de combate ao coronavírus.
Essa será a primeira vez que o estado realiza grandes testagens em pessoas assintomáticas. O governo paulista diz que segue a diretriz do Ministério da Saúde, que prioriza testes em pessoas que venham a apresentar sintomas, medida que é alvo de críticas por diversos especialistas.
Segundo Michelle Melgarejo da Rosa, da Universidade Federal de Pernambuco, o maior problema de testar apenas os sintomáticos e seus contatos diretos é criar uma subnotificação de casos, já que para cada um sintomático, podem existir ao menos outros dez assintomáticos.
Os testes a serem usados nesses eventos fazem parte do lote de 1 milhão que o governo estadual comprará, conforme antecipou o Agora na quarta-feira (25).
Segundo o secretário estadual de saúde, Jean Gorinchteyn, os testes a serem adquiridos serão os de antígeno.
“O antígeno é um teste dez vezes mais barato do que o teste de PCR. Ele sai em 15 minutos e tem uma sensibilidade e especificidade de 97% a 98%, e muito próximo ao próprio PCR”, afirmou Gorinchteyn a deputados estaduais integrantes da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Os detalhes desses eventos não foram divulgados, mas eles incluem uma feira corporativa; duas feiras de economia criativa que terá a participação de artesãos de diversas feiras da capital; três festas e quatro cerimônias sociais, sendo uma delas um casamento e outra, um jantar corporativo.
Paralelo a realização da testagem para saber se poderá ou não fazer a liberação de eventos em todo o estado, o governo estadual também anunciou a criação de curso de biossegurança de protocolos sanitários em parceria com o Centro Paula Souza.
O curso será voltado para profissionais do setor de eventos, festas, bares e restaurantes, e terá duração de 84 horas. A partir de agosto as serão abertas 3.000 vagas pelo site www.viarapida.sp.gov.br
Oscilação
Esses testes serão disponibilizados aos municípios paulistas. A medida, que visa ampliar as políticas de testagem e o monitoramento dos casos de Covid-19, foi anunciada após uma queda acentuada do número de testes realizados pelo estado de São Paulo, segundo dados do próprio governo Doria.
Em abril deste ano foram realizados um total de 672.701 testes para detectar Covid-19 no estado de São Paulo, quantidade 62,9% inferior ao realizado no mês anterior, março, quando foram feitos 1.812.145 exames.
O uso de diagnóstico é uma das principais recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para identificar como, onde e qual é a extensão do contágio. Ele é fundamental, para nortear estratégias de combate à pandemia e permitir flexibilizações, tais como a abertura das atividades comerciais.
“O estado deveria fazer muito mais [testes]”, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor de saúde pública da USP (Universidade de São Paulo).
Se forem analisados apenas RT-PCR, também chamado de teste molecular, que detecta a presença do material genético do vírus SARS-CoV-2, e é o de referência da OMS, percebe-se uma queda de 34,4% entre abril e março (passaram de 546.148 para 358.327).
Outro ponto que chama a atenção de pesquisadores que se debruçam sobre esses dados, entre eles o médico sanitarista Jorge Kayano, do Instituto Polis, é que o índice de resultados positivos é de 34%, na média, independente da quantidade de exames realizados. “Isso comprova que não se está procurando casos, e que o contágio é muito alto”, diz Kayano.
Kayano critica a demora na atualização dos dados, que começa desde a realização do exame até a sua divulgação para o paciente, dez dias depois. “Do que interessa saber tanto tempo depois? A pessoa já estará curada ou muito doente”, afirma.
A demora no repasse dos resultados foi um dos problemas relatados pelo secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn a deputados estaduais integrantes da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na última quarta-feira (25).
“Muitas vezes, algumas regiões têm um tempo de fornecimento dessas testagens que acaba sendo de oito ou nove dias. Isso é muito ruim”, afirmou.
Marcos Boulos, professor sênior da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), e um dos 21 integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus, disse que, embora os dados possam vir a sofrer alteração, ele se diz preocupado com a redução da quantidade de exames realizados.
“A diferença nossa em relação aos países europeus é a testagem. Aqui se testa muito pouco. Havendo diminuição, fica pior ainda”, afirma.
Em entrevista ao Agora, Regiane de Paula, coordenadora do Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde, afirmou que os dados estão em constante atualização e devem sofrer uma alteração para mais.
Ela alega que embora os números já tenham sido divulgados no próprio portal mantido pelo governo estadual, eles são preliminares. “Fazemos uma verificação de consistência”, afirmou.
Regiane não disse quantos dados ainda faltam ser analisados para atualizar a ferramenta e quando haverá a atualização dos números de abril.
Embora o secretário Jean Gorinchteyn tenha falado a deputados que enfrenta essa dificuldade nas regiões, a coordenadora negou enfrentar problemas relativos aos testes.
“Não existe um problema. O que temos é a transparência e visibilidade do que é feito na rede. Os dados passam por apuração e nós recebemos a lista e avaliamos se há duplicidade ou se não há duplicidade”, disse.
Ela disse ainda que o objetivo do estado é o de sempre aprimorar a questão da testagem.
Os eventos-teste
O que são?
- O governo estadual acompanhará dez eventos para saber se pode ou não fazer a liberação desse tipo de atividade econômica, uma das mais afetadas pelas regras de restrições.
Quem será testado?
- Todos os participantes, desde os participantes, pessoas que trabalharão e prestadores de serviço.
Como será feito?
- Os dez eventos serão definidos previamente. As pessoas só poderão participar caso se submetam ao teste de antígeno –uma espécie de teste rápido para detectar se a pessoa tem ou não Covid. Depois disso, elas serão acompanhadas durante duas semanas.
Programação
Data | Evento | Local |
a partir de 15 de junho |
Eventos eventos sociais (casamento incluído) |
capital e interior |
a partir de 19 de junho | feira de negócios | capital e interior |
29 a 30 de junho | feira de negócios | Santos |
3 de julho, 17 e 18 de julho | festas | Campinas e Memorial da América Latina |
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