Seca. Falta de chuva. Estiagem.
Cai o nível das represas paulistas.
O risco, já se sabe.
Apagão.
Algumas autoridades se preocupam.
—Calma, pessoal. Está tudo dentro do previsto.
O engenheiro Milton explicava.
—A sub-adutora da Cantareira ganhou um entroncamento em Jacu-Pêssego.
O chefe dele sorriu com paciência.
—O problema não está aí, engenheiro.
—Mas então, coronel…
—O caso é de polícia, engenheiro.
—Como assim, coronel?
O coronel Ranieri fez cara séria.
—Quer saber? Ponha-se daqui para fora.
Ranieri teclou o celular.
—Me liga com a aeronáutica.
As instruções eram precisas.
—Represa seca. Quero um levantamento completo.
—Positivo.
—Fotos de tudo. Com drone.
As informações chegaram rápido.
—Vinte e dois cadáveres na região 45Z.
—Hum. São aqueles do Presídio Modelo?
—Não… esses a Justiça já resolveu.
Tratava-se de um massacre mais recente.
—Precisa dar um jeito nesses aí.
—Enterra mais fundo, coronel?
Ranieri tinha outra solução.
—Pega o carregamento de cloroquina. Joga por cima.
A energia tem seus apagões.
Outros apagões, por vezes, são mais seletivos.
Voltaire de Souza: No fundo da represa
Voltaire de Souza
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