Em um ano, o volume de água acumulado nos mananciais que abastecem a Grande São Paulo teve queda de 21,2%, segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). As represas responsáveis por servir a população da região metropolitana perderam 286 hm³ (hectômetros cúbicos) de água, o equivalente a 286 bilhões de litros. Isso é suficiente para encher mais de 114 mil piscinas olímpicas.
No dia 9 de setembro do ano passado, os sete sistemas de mananciais responsáveis pelo abastecimento na Grande SP estavam com um total de 1.346,44 hm³ de água, volume que chegou ontem a 1.060,44 hm³ .
Para especialistas, a diminuição nos volumes se deve, principalmente, a dois fatores. O primeiro é a pandemia da Covid-19: durante boa parte do período de quarentena do novo coronavírus, grande parte da população ficou em casa e aumentou o consumo, inclusive para se higienizar.
"Na pandemia, as pessoas ficaram em casa e aumentaram o consumo, até para se higienizar. A própria Sabesp andou instalando torneiras públicas para essa finalidade", diz o engenheiro hídrico Antônio Eduardo Giansante, professor da da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Outro motivo foi a estiagem. Segundo dados da própria Sabesp, os dois principais sistemas da Grande São Paulo (Cantareira e Alto Tietê) tiveram precipitação bem abaixo do esperado nos meses de março, abril, maio e julho, além do início de setembro. Em julho, por exemplo, choveu 6,9 milímetros no Cantareira, enquanto a média histórica para o mês é de 47,7 milímetros.
Apesar da queda, o nível acumulado nas represas ainda é bastante superior ao que foi registrado em setembro de 2014, quando o estado foi fortemente afetado pela crise hídrica. Na ocasião, os seis mananciais que abastecem a região metropolitana somavam um total de 199,54 hm³ - o que representa 18,82% do volume atual.
Em 2014, a Grande São Paulo ainda não contava com o sistema São Lourenço, que foi inaugurado em 2018 pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), e que tem capacidade para fornecer até 6.400 litros de água por segundo.
Do ano passado para cá, o sistema que teve maior queda no volume armazenado foi o Alto Tietê, que hoje tem 151,51 hm³ de água a menos do que em setembro do ano passado. Esse conjunto de reservatórios é responsável por levar água à zona leste da capital, além de municípios como Santo André, Mogi das Cruzes, Suzano, Itaquaquecetuba, Arujá, Ferraz de Vasconcelos e Poá.
Proporcionalmente, o manancial que registrou maior queda foi o Rio Claro, cujo nível atual é 38,1% inferior ao do mesmo período de 2019.
O sistema Cantareira, que esteve no centro da crise hídrica de 2014, teve uma variação pequena na comparação com setembro do ano passado. O volume armazenado atualmente é de 452,43 hm³, 3,8% menos do que há 12 meses. Isso equivale a 46,1% de sua capacidade. Para se ter ideia, em 2014 o nível era considerado negativo, já que a água utilizada vinha das chamadas reservas técnicas conhecidas popularmente como volume morto.
O problema também preocupa municípios do interior paulista. Na cidade de Tanabi (530 km de SP), a prefeitura criou uma multa de R$ 272 para moradores que forem flagrados desperdiçando água. Também na região noroeste de São Paulo, há possibilidade de implantação de um racionamento.
Cautela
Especialistas em gestão de recursos hídricos ainda não consideram a situação dos mananciais na Grande São Paulo como alarmante. Entretanto, avaliam que as autoridades do setor devem se manter em alerta para evitar situação semelhante à de 2014.
O professor de Engenharia José Roberto Kachel dos Santos, da Universidade de Mogi das Cruzes, explica que, se a partir de outubro, chover com forte intensidade as represas deverão se recuperar. "Porém, se a estação chuvosa for fraca e chegarmos a março de 2021 com esses índices, começa a ficar preocupante, podendo se agravar ainda mais em 2022", comenta.
Ele avalia, entretanto, que atualmente a Grande São Paulo tem melhores condições para enfrentar uma eventual nova crise hídrica, em razão das melhorias feitas nos sistemas, como as interligações entre represas. "Isso faz com que um sistema ajude o outro", acrescenta Kachel.
O engenheiro hídrico Antônio Eduardo Giansante, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ressalta as melhorias feitas. "Porém, temos que ficar atentos. É fundamental que sejam mantidas as campanhas para incentivar o consumo consciente", analisa.
Resposta
A Sabesp (Companhia de Abastecimento do Estado de São Paulo), do governo João Doria (PSDB), cita melhorias feitas nos sistemas de abastecimento da Grande São Paulo e descarta risco de racionamento na região metropolitana.
Segundo a empresa, as obras feitas demandaram investimento de mais de R$ 20 bilhões. Entre as intervenções estão o aumento nas interligações entre os mananciais e a criação do sistema São Lourenço, entregue em 2018.
A companhia cita ainda que a situação das represas neste ano é melhor do que em 2018, ano em que, segundo a Sabesp, "houve seca severa sem riscos ao abastecimento". Entretanto, a empresa destaca a importância do "uso consciente" da água.
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