Medo. Emergência. Fiscalização.
É a variante indiana.
Nos aeroportos paulistas, os testes são feitos com rigor.
O enfermeiro Rafael seguia as instruções.
—Desembarcou, é cotonete na goela.
O sufoco é geral.
Em Congonhas, um ônibus foi adaptado.
Virou nossa primeira Unidade Laboratorial de Testagem e Investigação Muco-Aeroviária.
Rafael já estava de luvas e máscara.
—Parece que tem um indiano nesse voo.
De fato.
O sr. Javi Kenanvaidaar apareceu com um atestado.
—Covid negativa.
Rafael deu um risinho superior.
—Papel aqui não vale nada.
A longa haste do cotonete aproximou-se do viajante.
—O que vale é cuspe.
O sr. Javi ligou o celular.
Uma voz autoritária se fez ouvir do outro lado.
Era um general falando.
—Quem é o cretino responsável?
O cotonete tremeu nas mãos de Rafael.
As ordens foram incontornáveis.
—Deixa o indiano entrar. Em nome do presidente Bolsonaro.
Javi estava encarregado de vender um tratamento alternativo para o governo brasileiro.
Pó de cabelo queimado na brasa.
Dizem que faz sucesso em Bombaim.
Ordens são ordens.
E, por vezes, manda mais quem cospe mais forte.
Voltaire de Souza: O que vale é o cuspe
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