Indignados com a greve de ferroviários da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), iniciada 0h desta quinta-feira (15), cerca de 200 passageiros se concentram na saída do terminal de ônibus Grajaú, na zona sul de São Paulo, onde fica a estação de mesmo nome da linha 9-esmeralda. A manifestação impede a circulação de ônibus e carros desde por volta das 6h.
Já na estação Francisco Morato, da linha 7-rubi, passageiros tentaram invadir o local por volta das 6h. Segundo a Polícia Militar, policiais precisaram agir para dispersar os manifestantes, e quatro deles foram detidos e levados à delegacia para prestar esclarecimentos.
Uma mulher, ainda não identificada, foi ferida com uma pedra, segundo a PM, atirada supostamente por um dos manifestantes durante a dispersão. A corporação diz que dá apoio em todas as regiões onde há estações afetadas pela greve.
No terminal do Grajaú, os ônibus que vão para a região central da capital estão impedidos de partir do terminal por causa do protesto. Somente no sentido bairro, com grandes intervalos, é que alguns coletivos trafegam, segundo apurado pelo Agora.
Por volta das 8h30, mais de 30 coletivos aguardavam em fila na avenida Belmira Marin para acessar o terminal, prejudicando o trânsito da região. Somente motociclistas conseguem furar o bloqueio de passageiros, que se concentram na esquina entre a avenida e a rua Doutor Oscar Andrade Lemos Cruz.
Dentro de um dos coletivos parado na fila, estava a ajudante de higiene Maria dos Remédios, 33 anos. Moradora do Jardim Miriam, também na zona sul, ela vai de ônibus até a estação Grajaú da CPTM, de segunda a sábado, de onde ruma para seu trabalho, no bairro Cidade Jardim, na zona oeste.
“Fiquei sabendo dessa greve quando já estava dentro do ônibus, olhando no celular. Não sei qual horário vou chegar no serviço, era para eu entrar 7h”, afirmou.
Essa é a mesma situação de sua colega de trabalho, a também agente de higiene Betânia Marques da Silva, 44. Ela também soube que a estação estava fechada, por causa da greve, a caminho do terminal. “Meu maior receio agora é como irei chegar no serviço. E para piorar, não saber se vai dar para voltar para casa. A gente não tem como pagar aplicativo [de transporte de passageiros].”
Após aguardar por mais de duas horas dentro do ônibus, a cozinheira Jasmira dos Santos Gonçalves, 57, perdeu a paciência e resolveu desembarcar na avenida Belmira Marin. Ela pretendia levar a neta, de 6 anos, à escola, em Santo Amaro, na zona sul.
“Estou sabendo sobre essa greve por você [reportagem]. Minha neta já perdeu a aula, que começa às 7h. O jeito vai ser ela ficar comigo durante o dia todo, enquanto faço minhas coisas.”
Paralisação
A paralisação ocorre nas linhas 7-rubi, 8-diamante, 9-esmeralda, 10-turquesa e em parte da linha 13-jade. Cerca de 3 milhões de passageiros são afetados.
Por meio de uma nota conjunta, os sindicatos que representam a categoria afirmam que a companhia não aceitou uma proposta feita pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) em uma audiência de conciliação realizada nesta quarta-feira (14) para que os salários dos trabalhadores fossem reajustados em 6,22%.
A CPTM afirmou em nota que os grevistas paralisaram em 100% as operações nas linhas 9 e 10, descumprindo determinação judicial.
"A companhia tem uma decisão da Justiça do Trabalho que determina a manutenção de 80% dos trabalhadores no horário de pico e 60% nos demais horários, sob pena de multa diária de R$ 100 mil", informou, em nota.
Em nota, a SPTrans (que administra o transporte de ônibus na capital) afirmou que até por volta das 7h não recebeu solicitação para acionamento do sistema Paese (plano de atendimento entre empresas em situação de emergência ) para atender os passageiros. Disse ainda que acompanha a movimentação de passageiros nas linhas municipais e determinou as empresas de ônibus para que mantenham a operação da frota operacional em 100% ao longo do dia.
O presidente interino do Sindicato da Sorocabana, José Claudinei Messias, afirmou que a paralisação foi comunicada à CPTM no último dia 7. “Não foi informado de última hora, como estão afirmando a CPTM e Secretaria Estadual se Transportes Metropolitanos. Isso resulta da omissão deles, que prejudicam a população”, afirmou.
Ele acrescentou que o sindicato negociou por dois meses o reajuste, que não aconteceu, gerando a greve. “Isso é uma falta de respeito com os ferroviários que não pararam de trabalhar na pandemia “
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