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Temperatura negativa em São Paulo deixa camada de gelo em carro e em áreas verdes

Em Marsilac, no extremo sul da capital paulista, mínima foi de -2,3º C, segundo o CGE

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São Paulo

O frio intenso registrado na madrugada desta terça-feira (20), com temperatura negativa, deixou uma camada de gelo em vidros de carro e em áreas verdes no extremo sul da capital paulista, como em Parelheiros e Marsilac.

Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento e Emergências Climáticas), da Prefeitura de São Paulo, a capital registrou a mínima de 5,4ºC de temperatura média, e -2,3ºC de menor temperatura absoluta, fazendo com que esta madrugada seja, até o momento, a mais fria do ano na cidade.

Por volta das 4h, a reportagem saiu da região de Interlagos, na zona sul, onde estava cerca de 7ºC, segundo um termômetro portátil, e foi para Parelheiros. Cerca de 15 minutos depois, o mesmo aparelho marcou 2ºC, na região onde fica a Capela de Santa Cruz, já em Parelheiros, de onde a auxiliar de enfermagem Veronica Roschl, 35, havia acabado de desembarcar de um ônibus.

Moradora de Marsilac, onde são registradas as temperaturas mais baixas da cidade, a profissional da saúde afirmou estar acostumada com o frio. “Lá no meu bairro, há dias em que está tão frio que chega a congelar as coisas que estão ao relento”, afirmou.

Vidros e lataria de carro são tomados por gelo, no início da manhã desta terça-feira (20), em Marsilac (zona sul da capital paulista) - Ronny Santos/ Folhapress

Apesar do costume com as temperaturas congelantes, ela admitiu que usava, na madrugada desta terça-feira, duas calças e a mesma quantidade de blusas de frio e meias.

Ao lado do ponto de ônibus de onde a auxiliar desembarcou, uma fogueira chamava a atenção em um canteiro, ao lado da capela de Parelheiros. Circundando o fogo, havia quatro homens em situação de rua. Dois deles notaram a presença da reportagem e comentarem sobre a dureza de encarar o frio ao relento.

“Sem a fogueira não tem como aguentar a friaca, além dos corotes [cachaça], que também ajudam a esquentar, pelo menos na hora [em] que tomamos. Precisa também se alimentar bem, senão fica igual meu amigo aí”, afirmou Elias Aparecido de Jesus, 37, se referindo ao colega Rodrigo dos Santos Araújo, 42.

Diferentemente de Aparecido, que usava duas blusas de frio, além de um cobertor, Araújo trajava somente uma camiseta de manga curta e se protegia com uma manta fina. “Quem me ajuda a me esquentar mais um pouco é meu cachorro, o Pirata”, disse Araújo, com a voz trêmula, se referindo ao vira-lata que dormia colado ao seu corpo.

Eles afirmaram que não vão para abrigos ou albergues porque não gostam das pessoas que os frequentam. “Também prefiro a liberdade da rua”, acrescentou Aparecido.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, da gestão Ricardo Nunes (MDB), afirmou que foram acolhidas, na madrugada desta terça, 224 pessoas em situação de rua na capital paulista. Também houve, segundo a pasta, 55 recusas e foram distribuídos 200 cobertores.

Por volta das 5h30, o motorista Jean Dias dos Santos, 31 anos, combatia o frio intenso no ponto final do bairro Barragem usando o calor do motor de seu ônibus, mantendo uma portinhola do painel do veículo aberta, pela qual saía um vapor morno.

“Quando o carro está parado, como agora, faço isso para reforçar o calor um pouco. Hoje [quinta], é a madrugada em que mais estou sentindo frio no ano”, afirmou o condutor, que realiza o itinerário Barragem/Parelheiros há cerca de seis anos.

A temperatura estava tão baixa na região que uma ponte, usada por pedestres que vêm dos bairros Jardim Paulista e Vera Cruz, estava com a madeira cristalizada com gelo, da mesma forma que seus corrimões e a vegetação ao redor.

Homem caminha ao lado de vegetação congelada no bairro Barragem (zona sul), no fim da madrugada deste terça-feira (20) - Ronny Santos/ Folhapress

Este mesmo cenário foi constatado em Marsilac, no extremo sul da cidade, onde grandes áreas de mata, assim como a lataria e vidros de veículos, literalmente congelaram.

A sitiante Maria da Piedade Gonçalves, 60, sentiu na pele o frio registrada pelo CGE nesta terça. “Dormi nesta noite com sete cobertas”, revelou, alegando que o frio se intensifica em sua casa por causa das telhas, que são de amianto.

Ela acrescentou ainda que, desde que começou a morar em Marsilac, vinda de Sorocaba (99 km de SP) há cerca de seis anos, na época do frio ela “sai de casa quando o sol nasce e entra em casa quando o sol vai embora”.

Com ela moram mais seis pessoas, incluindo o neto, de 10 anos. Pelo fato de ele ser asmático e por estar muito frio, dona Maria afirmou que o menino não iria para a escola nesta terça.

Com o sol começando a ganhar força, por volta das 8h, a temperatura na região era de 7ºC, segundo o termômetro portátil usado pela reportagem. Neste momento, o autônomo Lucas Almeida Lima, 24 anos, caminhava por uma estrada de terra para ir trabalhar em Santo Amaro (zona sul).

Nascido e criado no Grajaú, bairro populoso do extremo sul da capital, o rapaz se mudou para Marsilac com a mãe em 2017 com o objetivo de terem mais qualidade de vida. "No Grajaú se você olha para a janela, alguém já reclama que está olhando para a pessoa. Já aqui é [uma cidade do] interior dentro da capital. É uma calmaria, tranquilidade demais. Só saio daqui para ir trabalhar."

Lima afirmou estar mais acostumado com o frio de Marsilac, mas admitiu que durante o primeiro inverno com o qual se deparou no bairro, "pensou que iria empacotar [morrer]". "Mano, comecei a não sentir minhas mãos, meus pés, não senti até a cartilagem do meu nariz de tanto frio que estava. De boa, fiquei com o maior medo, pois pensei que ia empacotar. Liguei para uns parentes, que falaram para eu me agasalhar bem que daria tudo certo, e deu", afirmou, às gargalhadas.

Ele ainda disse que, da mesma forma que no frio, a região também esquenta além da média em épocas de calor. "Aqui é 8 ou 80, mas vale a pena por causa da tranquilidade de viver em meio à natureza", disse.

Gelo toma gramado de casa em Marsilac, no extremo sul da capital paulista - Ronny Santos/Folhapress

Baixas temperaturas continuam

Segundo o CGE, a terça-feira terá sol e céu claro com poucas nuvens. Porém, o ar frio e seco de origem polar com vento vai proporcionar um dia com sensação de frio para o paulistano. A temperatura máxima prevista é de 18°C e índices de umidade do ar com valores mínimos em torno dos 27% a abaixo dos 20% em algumas regiões.

Mesmo com o predomínio de sol entre céu claro e poucas nuvens no decorrer do dia, o ar frio e seco de origem polar, com vento predominante de sudeste vai proporcionar um dia com sensação de frio para o paulistano. A temperatura máxima prevista é de apenas 18°C e índices de umidade do ar com valores mínimos em torno dos 27% a abaixo dos 20% em algumas regiões.

“Essa condição meteorológica de céu claro na madrugada com vento calmo e temperaturas baixas é ideal para que haja a formação de geada na capital, bem como em algumas cidades do estado paulista, lembrando que este fenômeno é comum nessa época do ano”, diz a nota do CGE.

A previsão para o restante da semana é de tempo estável e frio devido ao predomínio da massa de ar frio e seco de origem polar. As madrugadas seguem geladas, inclusive com potencial para formação de geada entre a madrugada e o amanhecer, principalmente nas regiões mais afastadas do centro expandido e nos municípios vizinhos da capital. As tardes devem registrar baixos índices de umidade do ar, próximos ou abaixo dos 30%.

Nesta quarta-feira (21), a previsão é de uma madrugada gelada, com termômetros em torno dos 7°C, segundo o CGE. No decorrer do dia o predomínio será de sol entre poucas nuvens, o que ameniza um pouco a sensação de frio. A máxima atinge os 22°C enquanto os percentuais mínimos de umidade do ar sem mantêm ao redor dos 30% a ligeiramente abaixo.

Clima de deserto

Marcelo Schneider,meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), afirmou que o tempo seco desta segunda-feira (19), de 9%, se assemelhou a um “clima de deserto”, sendo o responsável para que as temperaturas caíssem na madrugada, principalmente na zona sul paulista.

“No mirante de Interlagos, foram registrados 4,7ºC, a segunda temperatura mais baixa dos últimos cinco anos na cidade, perdendo somente para os 4,6ºC registrados no último dia 30”, explicou.

Ele acrescentou que, a partir desta terça, as temperaturas tendem a aumentar, mas sem espantar o frio. “Até domingo, podem ocorrer momentos mais agradáveis, com uma ‘temperatura clássica’, com máximas que podem oscular entre 25ºC e 27ºC, mas com mínimas entre 7ºC e 10ºC, o que é frio ainda”, ressaltou.

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