Empenho. Seringas. Missão.
É São Paulo contra a Covid.
A enfermeira Alméria tinha orgulho.
—Nós, paulistas, somos mais sérios.
Ela dava um suspiro.
—Se fosse só gente daqui mesmo…
Ela tinha certeza.
—Já estava todo mundo vacinado.
Vidrinhos. Agulhas. Algodões.
—Mas vem gente de todo lugar.
Era grande o seu cansaço.
—Já estou com calo entre os dedos.
De noite, ela tinha dificuldade para dormir.
Braços e moléculas dançavam pelo teto.
—Qualquer hora eu tenho um treco.
Agitava-se o posto de saúde.
—O que é agora?
Uma van estacionava.
—É o pessoal da aldeia indígena.
Alméria deu o cavaco.
—Só me faltava essa. Acho abuso.
Ela foi vacinando automaticamente.
—Ai que fraqueza…
A agulha lutava contra um braço excepcionalmente forte.
—Xi. Quebrou. Como é possível?
A voz do paciente reboou pelas paredes.
—Exijo minha vacina.
A barba preta. As botas. O chapelão.
—Ninguém haverá de acabar comigo.
—Borba Gato?
O braço de cimento se desfez como fumaça.
O indígena Parandu Naminhanhora ficou sem entender.
—Ela desmaiou na minha frente.
Bacamartes ou tacapes, pouco importa.
A luta é uma só.
Voltaire de Souza: São Paulo em marcha
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