Oito cidades da Grande São Paulo optaram por suspender até o dia 15 de setembro a aplicação da terceira dose da vacina contra Covid-19. A decisão anunciada pela Prefeitura de Taboão da Serra tem como motivo a divergência sobre qual marca do imunizante usar para a dose de reforço.
Em nota à reportagem, a cidade da Região Metropolitana de São Paulo diz que a entrega de mais doses do imunizante da Pfizer por parte do Ministério da Saúde está prevista para o próximo dia 15. Os outros municípios que aderiram ao movimento foram Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Embu Guaçu, Cotia e Vargem Grande Paulista.
“Caso os imunizantes não sejam entregues até a data, a Secretaria Municipal de Saúde seguirá a orientação do governo estadual e fará a aplicação das doses de reforço com o imunizante Coronavac”, escreve, em nota.
O impasse surge, pois a gestão João Dória (PSDB) autorizou, além das demais marcas, o uso da vacina Coronovac para a dose de reforço, enquanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a imunização deveria ser feita preferencialmente com a Pfizer.
Tanto Doria quanto Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, já criticaram o que chamaram de "descredenciamento" da Coronovac para pessoas acima de 60 anos.
Em Taboão da Serra, por exemplo, a terceira dose estava programada para começar na última quarta-feira (8), iniciando pelos idosos com mais de 90 anos. Segundo a cidade, adolescentes com mais de 12 anos e segunda dose do público em geral e dos profissionais de educação, de 18 a 44 anos, seguem normalmente.
“Não vejo obrigatoriedade de ser um tipo de vacina como terceira dose. Eu diria que esse problema é eminentemente político, não tem nada científico”, diz Robert Fabian Crespo Rosas, médico e professor de Infectologia do Centro Universitário São Camilo.
“A diferença é sobre o momento da terceira dose, já que quem tomou Coronovac teve uma queda mais acentuada de anticorpos, mas a marca do imunizante não tem diferença científica para a dose de reforço”, completa o especialista.
O líder médico do departamento de infectologia do Hcor, de São Paulo, Guilherme Furtado diz que, apesar de poucos estudos, a vacinação heteróloga, quando você muda a vacina de uma dose para outra, poderia ser uma boa saída.
“A princípio, usar a Coronovac como terceira dose não é uma contraindicação formal, mas a ideia da dose é usar uma mais potente com Pfizer ou AstraZeneca para tentar um aumento do número de anticorpos e da resposta imunológica”, diz.
“Apesar disso, creio que qualquer imunizante dará um novo estímulo imunológico, principalmente pela distância entre as doses da vacina”, completa.
Outras cidades estão usando Coronovac
Por outro lado, algumas cidades da Grande São Paulo optaram por seguir o cronograma do governo estadual e estão aplicando a Coronovac como terceira dose da vacina contra Covid-19. Atualmente, os idosos são o grupo prioritário.
No interior, Bauru, Sorocaba, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto já estão aplicando o imunizante do Instituto Butantan. Ainda na região, Campinas dará início à dose de reforço com a Coronovac no próximo sábado (11), sendo que o público de acamados será o primeiro.
Rio Preto, por exemplo, afirma que recebeu 5.580 doses da vacina Coronavac destinada ao público de 85 anos ou mais que tenham recebido a segunda dose há seis meses para a dose adicional, e que a vacinação está sendo feita desde a última terça-feira (7).
Vizinhos da capital paulista, Osasco e Guarulhos também estão usando o imunizante do Butantan como terceira dose. Osasco diz que vai seguir o cronograma de acordo com as vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde e governo do estado.
Resposta
Em nota à reportagem, o Governo de São Paulo, gestão João Doria (PSDB), por meio da Secretaria de Estado da Saúde, critica a não aplicação das terceiras doses pelas cidades.
“Os oito municípios citados têm, juntos, cerca de 4 mil doses de vacinas contra Covid-19 ‘paradas’ que já poderiam estar em uso para aplicação da dose adicional, reforçando a proteção dos idosos contra a doença”, diz.
Segundo o governo, que destaca recomendação das autoridades de saúde internacionais e do Comitê Científico de São Paulo, as doses foram entregues na sexta-feira (3) e estão disponíveis para uso desde segunda-feira (6).
“Infelizmente, estas cidades optaram por ignorar a orientação do PEI (Plano Estadual de Imunização), que é clara e indica a adoção de todos os imunizantes em uso na rede pública de saúde para a aplicação da dose adicional, visto que todos são seguros e eficazes”, afirma.
Por fim, o estado diz que todas as vacinas enviadas aos municípios contêm a orientação de uso segundo as diretrizes publicadas no portal do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.