No Brasil, segundo um levantamento de 2019 do Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda, são 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva; e dessa população, 2,3 milhões têm deficiência severa. Médicos alertam para a importância do tratamento, já que, além da dificuldade em ouvir os sons e compreender a fala dos outros, a perda auditiva pode trazer consequências mais graves.
"Quando fazemos a audiometria, que é o exame básico de audição, os limiares de audição são reconhecidos como normais até 20 decibéis. Toda vez que a gente tem necessidade de uma intensidade sonora maior de 20 decibéis para a pessoa detectar o som, isso é considerado uma perda auditiva", explica Edson Ibrahim Mitre, médico otorrinolaringologista e presidente da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO).
Segundo o médico, há uma classificação feita aproximadamente a cada 20 decibéis. Só conseguir ouvir sons a partir de 20 a 40 decibéis é considerado perda auditiva leve; a partir de 40 a 60 decibéis, uma perda moderada; a partir 60 a 80, uma perda profunda; e, acima de 80 decibéis, perda severa ou bastante profunda.
Diversas causas podem diminuir ou afetar a audição, explica o otorrinolaringologista. O envelhecimento aparece como uma das principais. "Com o passar do tempo, vamos perdendo algumas células da cóclea, da parte nervosa da audição e isto vai gradualmente provocando uma perda auditiva, que costuma ser lentamente progressiva e em idades mais avançadas", diz.
Fatores genéticos, alterações metabólicas, hormonais e certas doenças, como diabetes e colesterol alto, podem gerar um agravamento da perda auditiva, além de doenças hereditárias e infecções nos ouvidos.
Mitre relata casos de pacientes entre 12 e 14 anos de idade com perdas auditivas irreversíveis por causa do uso de fone de ouvido com música alta. "Enquanto você está com fones de ouvido, se alguém te chamar com a voz normal, você deve conseguir ouvir o chamado. Se a pessoa precisar falar mais alto, o seu volume está alto demais", recomenda.
Qualquer um pode ter perda auditiva, esclarece Jamal Azzam, otorrinolaringologista e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF). "Ela pode se manifestar em qualquer fase da vida, desde o momento intraútero até crianças, jovens, adultos e idosos", diz.
Os sinais costumam ser diferentes de acordo com a faixa etária. Segundo o médico, bebês e crianças apresentam sinais indiretos, como comportamento distraído e menor vontade de conversar. Além disso, a criança pode ter dificuldades de aprendizado e desenvolver o costume de ficar muito próxima à TV.
Já em adultos e idosos, a perda auditiva pode manifestar-se em dificuldade para ouvir sons, entender falas, mexer no celular ou falar ao telefone.
"Outro sintoma é o isolamento social. Epecialmente os idosos que não escutam bem têm uma tendência em se isolar. Nem sempre os sintomas são óbvios", explica Azzam, complementando que, com a diminuição da socialização, há um alto grau de predisposição de depressão em quem não escuta bem.
Outra consequência da perda de audição é a diminuição dos estímulos cerebrais, já que o ouvido não capta as ondas sonoras para transmití-las ao cérebro. "Existe vários estudos que comprovam que perdas auditivas por tempo prolongado podem predispor a Alzheimer precoce", relata o otorrinolaringologista.
Aparelhos auditivos podem ser solução
"A reabilitação auditiva consegue, na grande maioria nas vezes, obter sucesso. Em outras palavras, praticamente não existe mais surdez", explica o otorrinolaringologista Jamal Azzam.
Segundo o médico, o tratamento depende da causa da perda auditiva e é feito basicamente através de cirurgia ou uso de aparelho de amplificação sonora individual, o aparelho auditivo. "Hoje, os aparelhos têm tecnologia avançada, tamanho diminuído e estética favorável. É preciso somente procurar um profissional correto para colocá-lo", diz.
A fonoaudióloga Patrícia Camargo Neves, da Telex Soluções Auditivas, reforça a importância de buscar um médico otorrinolaringologista ao perceber qualquer sinal de perda auditiva. Uma vez detectada a dificuldade, um profissional da fonoaudiologia poderá avaliar o caso para indicar o melhor aparelho.
"O aparelho é individualizado. O fonoaudiólogo vai fazer uma análise, detectar quais pontos mais prejudicam o paciente, orientar em relação ao uso. Também é preciso medir a orelha do paciente para colocar o aparelho adequado", explica Patrícia.
De acordo com ela, há uma gama enorme de aparelhos disponíveis no mercado, com preços que podem variar de R$2 mil até R$20 mil. O Sistema Único de Saúde (SUS) também fornece aparelhos gratuitamente, informa a profissional.
"Às vezes, nem todo paciente precisa usar o aparelho mais sofisticado e nem todo paciente pode usar o aparelho mais simples. O fonoaudiólogo vai entender realmente quais as necessidades da pessoa, avaliando quais são suas atividades diárias", complementa.
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