Descrição de chapéu Centro cracolândia

Polícia prende 'Abelha Rainha', mulher apontada como líder do tráfico na cracolândia, em SP

Suspeita é investigada por supostamente fornecer e também comercializar drogas no centro da capital há cerca de 20 anos

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São Paulo

A Polícia Civil prendeu uma mulher chamada de "Abelha Rainha", na manhã desta sexta-feira (24), suspeita de fornecer drogas, além de comercializá-las, na cracolândia, centro da capital paulista. Ela é apontada como uma das líderes do tráfico no local.

O apelido da mulher é uma referência à metáfora de uma colmeia de abelhas, usada por dependentes da região para ilustrar quando usuários se confrontaram com agentes de segurança para proteger a "feira da droga" que acontece na cracolândia.

Além da mulher de 51 anos, que segundo investigações da 1ª Delegacia Seccional do centro vende e fornece drogas na região há cerca de 20 anos, outros cinco suspeitos de tráfico também foram detidos. A defesa deles não havia sido localizada até a publicação desta reportagem.

A mulher é uma pessoa que, segundo a polícia, impõe respeito e também garante a "disciplina" na região.

O chefe de investigações da 1ª Seccional, o policial civil Luiz Carlos Zapparoli, disse que as investigações apontaram que a traficante, além de abastecer a região com drogas, também as comercializava em uma das barracas que compõem a chamada "feira da droga". O investigador acrescentou que a polícia agora apura quanto ela faturava na região.

De acordo com a polícia, a "Abelha Rainha" permanecia na região, nos "momentos de descanso", geralmente à noite, sem ostentar o eventual lucro. Ela inclusive, aparece em fotos feitas por policiais, durante as investigações, com roupas simples. "Quando ela não ficava nos hotéis [administrados por traficantes], se hospedava em pensões do entorno", acrescentou Zapparoli.

Ação da polícia na manhã desta sexta-feira (24) prendeu uma da líderes do tráfico na região da cracolândia, no centro de São Paulo, chamada de "Abelha Rainha". A operação envolveu as polícias Civil e Militar, além da Guarda Civil Metropolitana. - TV Globo/Reprodução

As prisões ocorreram em cumprimento a mandados de prisão expedidos pela Justiça. Ao todo, foram 23 deles. Policiais continuam na região, para encontrar os outros 17 criminosos foragidos.

"Há um trabalho constante de repressão ao tráfico. Sem ele, não tem usuário", afirmou o delegado Roberto Monteiro ao Agora, na manhã desta sexta.

Agentes da delegacia central, incluindo policiais do 77º DP (Santa Cecília), investigaram a rotina de traficantes e usuários na região por cerca de seis meses. Durante as apurações, eles identificaram Lorraine Cutier Bauer Romeiro, 19 anos, a "Gatinha da Cracolândia", uma liderança do tráfico, que está presa. Ela nega as acusações, segundo seu advogado José Almir.

Investigações anteriores sobre a região apontaram que a barraca da jovem faturava em média R$ 500 mil mensais.

Durante as apurações, foi constatada a existência de uma "feira da droga", que funcionava 24 horas por dia, além dos serviços de hospedagem e entrega de drogas nos cômodos alugados por e para traficantes.

Zapparoli ressaltou que o fluxo de usuários baixou entre 40% e 60% na região, desde que a polícia passou a intensificar as ações de combate aos traficantes da cracolândia.

No início das investigações, há pouco mais de seis meses, foi constatado que o fluxo de usuários de drogas oscilava na região entre 500 e 600 pessoas, nos períodos da manhã e da tarde, podendo chegar a 2.000 dependentes à noite.

Hotéis

Nesta sexta também foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em prédios degradados utilizados por usuários de drogas e traficantes como se fosse um hotel. Além do pagamento de diárias, nos locais, de acordo com as investigações, eram oferecidos serviços de entrega de drogas e comida.

Segundo um vídeo enviado pela polícia, em um desses imóveis havia quartos, todos sem porta, somente com um colchão no chão. Já em outros, havia televisão, beliche e até poltrona. Em um dos prédios vistoriados, policiais encontraram câmeras de monitoramento, usadas pelos criminosos para acompanhar a movimentação de pessoas nos imóveis.

“Dependentes pagam para se hospedar na região e ficam em quartos como se fossem em hotéis, mas em edifícios insalubres, em 'muquifos'", afirmou Luiz Carlos Zaparoli ao Agora, quando este tipo de serviço foi identificado pela Polícia Civil, em julho deste ano.

"Nestes quartos eles usam drogas, recebem encomendas e, ao fim de cada semana, pagam pelos serviços prestados aos criminosos que administram as ações ilegais na região. Os valores podem chegar a R$ 10 mil ou R$ 15 mil por semana, o que nos surpreendeu”, disse o policial na ocasião.

A Prefeitura de São Paulo avalia a lacração dos prédios usados pelos criminosos. A gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que 34 imóveis foram recebidos, das quadras 37 e 38 da região da Luz, onde está em andamento uma Parceria Público-Privada. "Dos 34 [imóveis] recebidos pela Prefeitura, 22 foram demolidos e outros 12 estão trancados ou emparedados", afirma trecho de nota.

O governo municipal acrescentou que, diariamente, são recolhidas cerca de 20 toneladas de lixo na região da cracolândia, tanto no fluxo de usuários de drogas como em seu entorno, enchendo cinco caminhões. "Equipes de limpeza realizam varrição três vezes e lavagem duas vezes ao dia", acrescentou a gestão Nunes.

A polícia apreendeu durante a operação desta sexta uma arma de brinquedo, um facão, pneus, três máquinas de cartão de débito e crédito, uma bicicleta elétrica, roubada, segundo a polícia, seringas e drogas. A quantidade de entorpecente apreendida ainda era avaliada até a publicação desta reportagem.

Participaram da ação 277 agentes de segurança, sendo 160 policiais civis, 90 policiais militares e 27 guardas-civis metropolitanos, além de quatro cães farejadores, e dois carros blindados da Polícia Civil.


Quase 4 toneladas de drogas em dois anos

Ações policiais realizadas entre 2019 e novembro de 2020 resultaram na apreensão de 3,6 toneladas de drogas na região da cracolândia, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Em média, é como se a polícia apreendesse 5 kg de entorpecentes por dia na região. Em termos de comparação, a quantidade de drogas retiradas da cracolândia, não especificadas por tipo, representa quase 13% das mais de 28 toneladas de entorpecentes apreendidos pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em rodovias entre janeiro de 2019 e outubro do ano passado.

As apreensões ocorridas na cracolândia são, em sua maioria, da droga que dá nome à região do centro paulistano.

A SSP acrescentou que, em quase dois anos, também foram apreendidos na cracolândia cerca de R$ 700 mil em espécie, 15 armas de fogo, 76 facas, oito simulacros (armas de brinquedo), 503 munições e 336 balanças de precisão. Também foram presos 1.276 suspeitos.​

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