Descrição de chapéu Zona Sul

Família diz que jovem foi morto pela polícia enquanto comia marmita na zona sul de SP

Rapaz de 19 anos foi baleado no dia 20; manifestantes protestaram nesta terça (26) em frente ao Masp

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São Paulo

Familiares de Gabriel Augusto Hoytil Araújo, 19 anos, jovem que foi morto com três tiros durante uma ação da Polícia Civil no morro do Piolho, no Campo Belo (zona sul da capital paulista), se juntaram a ONGs de direitos humanos e realizaram um ato na avenida Paulista na manhã desta terça-feira (26). Eles acusam os policiais de terem baleado o rapaz enquanto ele comia uma marmita, no último dia 20.

Foram espalhadas 200 marmitas recheadas com areia vermelha na calçada em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo). Fabiana Hoytil Araújo, mãe de Gabriel, passou mal durante o ato desta terça-feira e precisou ser levada às pressas ao Hospital das Clínicas. Segundo a aposentada Ana Lúcia Custódio, 56, irmã de Fabiana e tia de Gabriel, ela estava bem e foi liberada pelos médicos no final da tarde para voltar para casa.

A manifestação foi uma iniciativa das ONGs Mochileiros de Cristo, que atua em favelas da região do Jardim Aeroporto, e Rio de Paz.

A Secretaria de Segurança Pública informou que o caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e acompanhado pela Corregedoria da Polícia Civil.

Familiares de Gabriel Hoytil de Araújo, 19, protestam em frente ao Mas, na região central de SP - Zanone Fraissat/Folhapress

"As 200 marmitas simbolizam o sangue do Gabriel que espirrou dentro da marmita que ele comia no momento em que foi baleado", disse ao Agora a coordenadora da Rio de Paz em São Paulo, Fernanda Vallim Martos.

Segundo ela, a intenção da manifestação é cobrar elucidação rápida e imparcial da morte do jovem, além da alteração na política de ingresso nas comunidades e indenização para a família.

Ao Agora Ana Lúcia Custódio confirmou que o sobrinho tinha deficiência intelectual, mas não soube detalhar o grau. "Ele estudou em escola especial. Ele até fez acompanhamento pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)".

A aposentada também relatou que a família tem certeza que o menino se alimentava no momento em que foi baleado. "Ele estava com a marmita na mão. Tem foto com a marmita cheia de sangue". A imagem a qual a tia menciona foi registrada pela Ponte Jornalismo.

O professor Juneo Videira, 44, fundador da Mochileiros de Cristo, estava no local no momento do crime. Ele disse que se encontrava em uma das vielas da favela, ajudando a construir uma casa para uma família sem-teto, quando ouviu dois disparos. Ele também viu a marmita no chão, que, de acordo com ele, estava próxima à cabeça de Gabriel.

A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência elaborado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o documento, Gabriel portava uma arma de brinquedo, o que é refutado por Videira, que afirmou ter visto o corpo do jovem e a cena do crime minutos depois dos tiros.

A tia do jovem também não acredita que o sobrinho estava armado, e que tal objeto serve para inserir uma culpa que não é dele. "Estão tentando colocar nas costas dele uma culpa que ele não tem. Confundir um marmitex com uma arma é pesado, né? Eu até agora estou sem entender. Mesmo que seja uma pessoa que deva, que tenha passagem, o importante é você prender o indivíduo para fazer uma averiguação, não chegar atirando".

No boletim de ocorrência não consta o depoimento dos policiais que participaram da ação, mas as armas utilizadas por dois agentes foram apreendidas, uma de um policial civil de 40 anos e outra de um agente de 34 anos. Ambos atuam no 96° DP (Monções), no Brooklin (zona sul da capital paulista). O documento também diz que Gabriel tinha passagens pela polícia. O histórico também não relata os motivos para os tiros.

Segundo o documento, Gabriel, que morava na Vila Fachini (zona sul da capital paulista), foi encontrado vestindo uma bermuda sob a calça jeans azul, camiseta e blusa de moletom. De acordo com o exame necroscópico, ele foi atingido por três tiros, todos do lado esquerdo do corpo, sendo um deles na mandíbula, um no glúteo e outro na coxa.

A Ouvidoria da Policia informou que acompanha o fato. Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), informou que o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A pasta ainda explicou que a Corregedoria da Polícia Civil também apura todas as circunstâncias da ocorrência e, se constatadas irregularidades, medidas cabíveis serão tomadas.

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