Com o fim das restrições, cemitérios têm fila e homenagens a vítimas da Covid-19

São Luiz e Vila Formosa tiveram procura intensa no Dia de Finados

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Mariane Ribeiro
São Paulo

Com o fim das restrições, o avanço da vacinação e a queda no número de casos e mortes por Covid-19, esta terça-feira (2), Dia de Finados, foi de grande movimentação nos cemitérios da capital paulista.

O Cemitério São Luiz, na zona sul de São Paulo, teve fluxo intenso de visitantes, fila no portão de entrada e grande circulação de pessoas nas floriculturas ao redor.

Protocolos contra a Covid-19 como aferição de temperatura, obrigatoriedade do uso de máscara e uso de álcool em gel foram mantidos.

O cemitério, que é o segundo maior da cidade, teve a celebração de um ato ecumênico às 10h, em um espaço no centro da necrópole. Em sua 26ª edição, o ato chamado de Caminhada Para a Vida e Para a Paz fazia uma homenagem aos mortos pela Covid-19, mas também pelos jovens vítimas da violência.

Movimentação no cemitério São Luiz, na zona sul de SP - Rivaldo Gomes/Folhapress

"Esse cemitério é um marco, não só pelas vítimas da Covid, mas também pelos jovens pretos, pobres, periféricos que estão enterrados assassinados. Temos toda uma história de luta por vida, dignidade e melhores políticas públicas no território", afirma Osnir Gomes, de 49 anos, um dos organizadores do ato.

Entre os milhares de visitantes estava a dona de casa Maria Lúcia, de 55 anos. Acompanhada de duas amigas, ela aproveitou a data para visitar o túmulo do esposo, José Gonçalves, que faleceu em 2021, aos 51 anos, de Covid-19.

"Amanhã faz seis meses que ele faleceu e nem teve velório. Éramos só nós dois. Tem sido muito difícil para mim", diz Maria Lúcia, emocionada.

A amiga Caroline Marques Oliveira da Rocha, 29 anos, é agente comunitária de saúde e diz que, por causa da profissão, viu de perto muitas pessoas passarem pelo que Maria está vivenciando.

"Perdi vários pacientes, foi muito triste. Mas graças a Deus está melhorando um pouco", afirma Caroline.

Já no cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina, a movimentação fez jus ao título. A fila de carros na avenida João 23 se estendia por todo o muro. Do lado de dentro, milhares de pessoas se distribuíam pelas quadras com velas e flores.

O economista Edson Silva, 66 anos, e mais três membros da família, foram ao cemitério para visitar o túmulo de dois parentes que faleceram neste ano.

Grupo de candomblé Caboclo Pena Verde Vó Luiza, celebra dia de finados no cemitério da Vila Formosa, na zona leste de SP - Eduardo Knapp/Folhapress

"Estamos aqui visitando o túmulo do meu primo Marcos. Ele faleceu de insuficiência renal no mês passado. Hoje ele faria 55 anos. Mas antes fomos ao local onde meu irmão está enterrado", afirma Silva.

O irmão de Edson, Renato Silva, faleceu em fevereiro deste ano vítima da Covid-19. "A filha dele, que trabalha da área da saúde, pegou a doença e teve que se tratar em casa. Ele não se cuidou e acabou ficando doente também". Silva conta que o irmão morreu apenas dez dias após receber o diagnóstico da doença. "Foi uma coisa que até agora a gente não se conforma, muito rápido. Não tivemos velório, ele saiu de uma sala fechada direto para o sepultamento. Fizemos apenas uma oração com o caixão dentro do carro da funerária e depois já sepultou", revela o economista.

Diferente de Edson, o operador de loja Jeferson dos Santos, de 24 anos, preferiu ir visitar o túmulo de sua mãe sozinho. Zuleide dos Santos tinha 48 anos quando se tornou uma das primeiras vítimas da pandemia no Brasil.

"Ela faleceu logo no começo da pandemia, em 2020. Venho aqui sempre que posso. A gente até contratou um serviço para cuidar e deixar sempre bonito", afirma o rapaz.

Santos diz que demorou para a mãe receber o diagnóstico da doença. Ela foi diversas vezes ao AMA próximo à sua casa e ao Hospital em Cidade Tiradentes, mas, mesmo com sintomas, voltou para casa.

"Depois da penúltima ida ao hospital, voltou para casa, dormiu e dia seguinte já começou com falta de ar. Foi para o hospital, ficou internada três dias e faleceu", lamenta Jeferson.

O maior cemitério da América Latina tem espaço para as mais diversas crenças. Inclusive para as vindas de fora do Brasil.

O modelista de roupas boliviano Oscar Condori, de 34 anos, estava com toda sua família ao redor do túmulo de seu pai. Severo, de 74 anos, faleceu de Covid em 2020 e agora recebia uma homenagem no cemitério da Vila Formosa.

"Segundo nossas crenças, ele veio ontem para ficar com a gente, e hoje ele volta para o outro plano. A gente faz a coroa de flores, comida e bebida e traz para cá, onde fazemos uma oração para que ele volte para o outro plano em paz", afirma Condori, que chegou junto com o pai ao Brasil há 18 anos.

Assim como no cemitério São Luiz, os visitantes do Vila Formosa também tiveram suas temperaturas aferidas na entrada e precisaram usar máscaras e álcool em gel.

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