Celebrações online, ligações telefônicas e ceias só entre pessoas que dividem a mesma casa foram algumas alternativas encontradas por famílias que preferiram não se reunir presencialmente no fim de 2020, devido ao risco de contágio pelo coronavírus. Com o avanço da vacinação e a queda no número de casos, todavia, o fim deste ano promete o retorno de encontros familiares para celebrar as festividades, principalmente o Natal.
Antes da pandemia, o almoço no dia 25 de dezembro era uma tradição da família da estudante de pedagogia Anita Vargas, 26 anos, e de seu irmão, o coordenador administrativo João Vargas, 29. A celebração se estendia para um lanche da tarde e durava até a hora do jantar. Entre tios, tias, primos e primas, cerca de 20 pessoas se reuniam todo ano na data.
Para Anita, que gosta do Natal desde pequena, o momento passou a ser ainda mais especial com o nascimento de seus primos mais novos, já que tornou-se uma oportunidade de vê-los e descobrir sua paixão por crianças.
Em 2020, no entanto, não houve reunião entre os primos. "Minha mãe e meus tios são idosos, então não nos sentimos seguros. No dia 25, minha mãe fez um almoço na nossa casa apenas para mim e para o meu irmão", explica Anita.
Neste ano, a celebração em família vai voltar a acontecer, mas ainda com cuidados. Uma semana antes da data do Natal, eles farão uma semana de recesso, buscando se proteger para poder fazer a reunião com segurança.
"A vacina nos trouxe um pouco mais de segurança", conta Anita. Segundo ela, sua mãe e seus tios já tomaram a terceira dose, o que reforça a proteção deles.
Para a funcionária pública Sirlene Cristina de Almeida Nunes, 51, o Natal do ano passado também foi diferente. A ceia de 2020 foi um jantar em casa junto a seu marido e seu filho, diferente das celebrações anteriores, nas quais seus irmãos, pais e sobrinhos se reuniam para festejar.
"Eu e meu esposo somos da área da saúde e a pandemia estava em alta no ano passado. Por ficarmos muito expostos, preferimos não ir visitar, nem se reunir com ninguém, mais pela segurança dos nossos familiares do que a nossa", explica.
Sirlene conta que teve Covid-19, mas o quadro de sintomas foi leve e a recuperação, tranquila. No entanto, perdeu um tio, irmão de seu pai, que faleceu em decorrência da doença. Neste ano, a família já se planeja reunir novamente na casa de um dos irmãos dela, o que, segundo Sirlene, será um momento de celebrar a vida.
"Não foi um ano fácil. Foi muito dolorido, com muitas perdas. Então, a família que conseguiu sobreviver a essa pandemia tem muito que celebrar", diz.
Família pegou Covid-19 no Natal passado
Na casa da estudante de audiovisual Maria Luisa Ferreira, 22, o fim de ano em 2020, além de atípico, foi preocupante. Exatamente uma semana antes do Natal, Suze Ferreira, 64, mãe de Maria Luisa, começou a apresentar sintomas de Covid-19.
Seu pai, Vander Ferreira, 60, começou com os sintomas alguns dias depois. No dia 22 de dezembro, ambos estavam com o resultado positivo para a doença.
Cada um deles ficou separado em um cômodo da casa. "Fiquei fechada no meu quarto, meu pai colocou um colchão na sala e minha mãe ficou no quarto deles", explica Maria Luisa. "Minha ceia de Natal foi um pacote de Ruffles que estava perdido na dispensa."
Sem poder sair de casa ou interagir com os pais, a estudante disse ter passado o Natal preocupada com uma possível piora do quadro dos dois. "Foi uma semana difícil. No Instagram, eu via gente se reunindo, enquanto queria estar comemorando com meus pais e não podia", conta.
No Ano-Novo, explica Maria Luisa, já havia passado duas semanas do início dos sintomas, o que permitiu que os três se reunissem em casa para almoçar e jantar juntos. "A gente ainda estava com receio, não nos tocamos e nem nos abraçamos, mas pelo menos deu para não passar sem nada."
Agora, os planos para o fim de 2021 incluem reunir a família que não se vê há quase dois anos. Maria Luisa e seus pais vão celebrar o Natal com uma parte da família e o Ano Novo com outra, no interior de São Paulo. "Vivemos a pandemia muito isolados. Está todo mundo muito animado e empolgado para rever os familiares e passar um final de ano tranquilo."
Especialista dá dicas de segurança para se reunir
O cenário atual da pandemia de Covid-19 favorece que as festas de fim de ano aconteçam com maior tranquilidade do que no ano passado, afirma Wladimir Queiroz, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
"Nossa condição epidemiológica é muito favorável, só que a gente não deve abusar demais. Temos que ter um certo medo e um certo cuidado", defende o médico.
O mais importante é tomar precauções em relação à transmissão do vírus pelo ar, explica Queiroz, como buscar ambientes abertos, bem ventilados e ainda fazer uso de máscara, só tirar na hora de comer ou beber. Procurar deixar os convidados mais distantes entre si na mesa de jantar ou almoço e não dividir talheres e copos também são recomendações.
"Vai ser difícil fugir dos abraços em uma reunião de Natal ou de Ano-Novo. Então, vamos tentar abraçar usando máscaras e passar álcool em gel nas mãos após o contato físico", pontua o infectologista.
Outro ponto importante é garantir que todos os convidados da festa tenham tomado a vacina contra Covid-19. "Passaporte para entrada na festa deve ser a vacinação", argumenta Queiroz.
"Não tem mais aquela de limpar os pés ou tirar o sapato para entrar em casa. A gente já viu que isso não é uma coisa tão importante. O essencial é se preocupar com a transmissão aérea", complementa o médico.
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