No dia a dia, abrir um pacote de bolachas ou descongelar uma refeição pronta para consumo pode ser a opção mais rápida e cômoda para se alimentar. Todavia, especialistas alertam que o consumo desse tipo de alimento, chamado de ultraprocessado, está associado a doenças crônicas, cardiovasculares e outras consequências negativas à saúde.
"Alimentos ultraprocessados não são propriamente alimentos, mas sim formulações de substâncias derivadas de alimentos, frequentemente modificadas quimicamente e de uso exclusivamente industrial, contendo pouco ou nenhum alimento inteiro", explica Carlos Monteiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP.
Usualmente, os ultraprocessados contam com corantes, aromatizantes, emulsificantes e outros aditivos para que se tornem palatáveis ou hiper palatáveis, complementa Monteiro. Entre os exemplos, estão sorvetes, balas, guloseimas, bebidas adoçadas, produtos congelados prontos para consumo (pizzas, massas), nuggets, salsicha e outros embutidos.
De acordo com o pesquisador da USP, um maior consumo de ultraprocessados está associado a um aumento do risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, obesidade e câncer.
"Evidências científicas têm mostrado que o consumo desses alimentos também está associado a outros desfechos negativos de saúde, como a depressão", diz Monteiro.
A obesidade é um dos primeiros efeitos do consumo a longo prazo para se destacar, pontua Ricardo Rienzo, médico endocrinologista do Hospital Santa Catarina. "São alimentos que possuem pouquíssima composição nutricional e, por serem atrativos no cheiro, no sabor e na embalagem, eles favorecem um consumo excessivo de calorias."
Segundo Rienzo, o alto consumo de corantes, muito frequentes nos ultraprocessados, relaciona-se a osteoporose, condição que se caracteriza pela perda progressiva de massa óssea e aumento do risco de fraturas.
Esse tipo de alimento também altera a flora intestinal, causando um desequilíbrio do corpo e uma condição chamada disbiose intestinal, diz o médico. "Isso é uma condição fantástica para o desenvolvimento de doenças como diabetes, por exemplo."
Com isso, pessoas que comem ultraprocessados em excesso têm risco de desenvolver síndrome metabólica, um conjunto de sinais e sintomas que tem como causa principal a obesidade. "Diabetes tipo 2, hipertensão, excesso de gordura abdominal e aumento dos triglicerídeos são critérios que caracterizam a síndrome metabólica", esclarece Rienzo.
Outra condição cardiovascular tem maior risco com o consumo desses alimentos, a aterosclerose. "É o depósito de gordura nos vasos sanguíneos, que acaba resultando na obstrução desses vasos", explica José Francisco Kerr Saraiva, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Segundo o pesquisador da USP, Carlos Monteiro, não existe nível seguro de consumo de ultraprocessados e a recomendação é evitá-los sempre que possível.
Troque os ultraprocessados por in natura, dizem os especialistas
A recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira é preferir sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados.
Segundo médicos e nutricionistas, a base da alimentação deve ser composta por alimentos obtidos diretamente de plantas e animais, como frutas legumes, ovos, verduras, castanhas, carnes e pescados, ou alimentos que passaram por processos que não envolvam adição de sal, açúcar, óleos ou outras substâncias, como grãos, leguminosas, farinhas, frutas secas, leite, café e chá.
O pesquisador Carlos Monteiro reforça que os ultraprocessados têm agressivas estratégias de marketing e embalagens que frequentemente exibem alegações de saúde já desmentidas pela ciência. "Como um possível benefício da adição de fibras ou vitaminas, por exemplo, em um cereal matinal. Essas e outras estratégias acabam facilitando o consumo", diz.
"Na vida corrida que a gente tem hoje, o ultraprocessado vem atender a uma necessidade da sociedade, já que às vezes as pessoas estão com pressa, mas precisam comer algo", pontua José Francisco Kerr Saraiva, médico cardiologista. Por isso, o especialista recomenda, sempre que possível, trocar os alimentos que vêm em embalagens por opções como frutas, verduras e legumes.
"O mais importante é estar preparado para cozinhar, porque não tem nada mais saudável que comida preparada em casa", defende o endocrinologista Ricardo Rienzo. Na hora de cozinhar, diz o médico, é possível evitar o uso de ultraprocessados e controlar o excesso de sal, açúcar e gordura nas preparações.
Rienzo relembra que a ingestão de ultraprocessados pode gerar inchaço, azia, gases e outras sensações imediatas que podem incomodar e acrescenta que não se deve passar muitas horas sem comer. "Quanto você fica muito tempo sem comer, há uma tendência e vontade de comer alimentos não saudáveis", relata.
Saiba mais | consequências dos ultraprocessados
Classificação dos alimentos:
Alimentos in natura ou minimamente processados:
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In natura são obtidos diretamente de plantas ou animais sem que tenham sofrido alterações após deixarem a natureza.
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Exemplos: frutas, legumes, verduras, ovos, leite
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Minimamente processados são alimentos in natura submetidos a alterações mínimas, como limpeza, moagem, congelamento, fermentação ou embalagem
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Exemplos: arroz, feijão, farinhas, castanhas, café, chá, grãos, carnes e pescados frescos
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Recomendação: Devem ser a base da alimentação do dia a dia
Ingredientes culinários (óleos, gorduras, sal e açúcar):
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Produtos extraídos de alimentos in natura ou da natureza por processos como moagem, refino e trituração
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Exemplos: óleos de soja, milho ou de oliva; gordura de coco; manteiga; banha de porco; açúcar branco, mascavo ou demerara; sal grosso ou refinado
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Recomendação: Devem ser usados com moderação, ou seja, em pequenas quantidades para preparar, cozinhar ou temperar alimentos
Alimentos processados
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São alimentos in natura ou minimamente processados com adição de sal, açúcar, óleo ou gordura
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São versões modificadas dos alimentos originais com o objetivo de aumentar a duração e torná-los mais agradáveis ao paladar
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Exemplos: alimentos em conserva, frutas em calda, queijos, carne seca, extrato de tomate
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Recomendação: Limitar o consumo a pequenas quantidades, seja como ingrediente ou como acompanhamento de uma refeição. Sempre se atentar aos rótulos e buscar processados com menor teor de sal e açúcar
Alimentos ultraprocessados
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Preparações produzidas com diversas etapas e técnicas de processamento e muitos ingredientes (sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias de uso exclusivamente industrial, como espessantes, emulsificantes, corantes, aromatizantes e realçadores de sabor)
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Exemplos: guloseimas, sorvete, balas, bebidas adoçadas, carnes embutidas (salame, presunto, peito de peru), salgadinhos, macarrão instantâneo, produtos congelados, barras de cereais
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Recomendação: Devem ser evitados, já que não há nível seguro de consumo de ultraprocessados
Quadros associados ao consumo excessivo de ultraprocessados:
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Obesidade
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Diabetes
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Hipertensão
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Aterosclerose (depósito de gordura nos vasos sanguíneos)
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Síndrome metabólica
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Disbiose intestinal (desequilíbrio da flora intestinal)
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Osteoporose
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Câncer
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Depressão
Sintomas que podem sinalizar má alimentação:
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Cansaço excessivo
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Diminuição da qualidade do sono
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Ganho de peso
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Aumento da pressão arterial
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Dor de cabeça
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Urina excessiva (relacionada à diabetes)
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Visão embaçada (relacionada à diabetes)
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Emagrecimento acentuado (relacionada à diabetes tipo 2)
Fontes: Carlos Monteiro, coordenador do Nupens/USP; Ricardo Rienzo, endocrinologista do Hospital Santa Catarina; José Francisco Kerr Saraiva, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia; Guia Alimentar para a População Brasileira
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