Periferia da capital paulista sofre com a falta d'água durante pandemia
Moradores reclamam que redução na pressão dificulta a higiene
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Moradores da periferia da capital e da Grande SP têm mais um desafio para enfrentar durante a quarentena para conter o avanço do novo coronavírus: a falta d’água. A redução da pressão, que ocorre geralmente durante a noite e madrugada em diversos bairros, tem dificultado a rotina de higiene e limpeza recomendada pelas autoridades de saúde.
A reportagem encontrou moradores com torneiras secas na Brasilândia e Santana, na zona norte; em São Miguel Paulista e Vila Matilde, na zona leste; em Paraisópolis, na zona sul; em Santo André, no ABC.
Na casa da diarista Suderlene Chagas da Cruz, 42, na Brasilândia (zona norte), a água acaba todos os dias por volta das 18h e só retorna no dia seguinte, entre 6h e 7h. “Mas a gente só consegue usar a partir das 11h, pois a água vem branca de cloro”, afirmou.
Como está sem trabalhar e sem dinheiro, Suderlene teme pelo aumento da conta, pois o consumo de água deve aumentar. Além dela, a filha de 15 anos também está em casa. “Difícil já está. Não temos saída porque o que o meu marido recebe só dá para pagar o aluguel”.
Em Paraisópolis, a segunda maior favela da capital com mais de 100 mil habitantes, moradores de ao menos 17 ruas sofrem com falta d’água diariamente. Eles disseram que a redução da pressão é uma espécie de “racionamento de água velado”, pois todos os fins de tarde a pressão diminui nas torneiras de algumas casas até acabar totalmente, à noite, forçando quem chega do trabalho a tomar banho de balde.
Na casa da professora Michelly Maria Alves, 36 anos, em São Miguel, a caixa de 500 litros não foi suficiente para ficar quase duas semanas sem água. Ela contou que na manhã desta sexta-feira (27) técnicos da Sabesp foram à sua casa e a água voltou. Mas à tarde água acabou novamente.
“Estamos consumindo mais água porque eu e meu marido estamos em casa com meu filho pequeno. Mas como vamos higienizar as mãos sem água?”.
Entidade pede fim de redução da pressão
A Ondas (Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento) defendeu o fim da redução da pressão como forma de combater o avanço do novo coronavírus. Assim, as pessoas poderão ter água nas torneiras para limpeza e higienização.
Segundo o secretário-executivo da entidade, Edson Aparecido da Silva, a redução da pressão é uma forma que empresas de distribuição de água encontraram para reduzir as perdas que ocorrem na tubulação, e é feita durante a madrugada quando o consumo é menor. Estudos indicam que 40% da água tratada se perde antes de chegar às torneiras das casas.
Embora a redução da pressão seja feita em vários bairros da capital e da Grande São Paulo, Silva ressaltou que quem mora nos bairros mais distantes são os que mais sofrem com as torneiras secas. Isso porque muitos moram em casas que não têm estrutura para suportar uma caixa d’água, por exemplo.
"Por isso, a nossa recomendação é que a redução da pressão seja suspensa para que as pessoas tenham água”, afirmou Silva.
Sabesp diz que vai vistoriar
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) negou que haja racionamento de água na capital e na Grande São Paulo. “Os casos de falta d’água que são notificados têm sido verificados para que possam ser solucionados”, afirmou em nota.
Sobre as reclamações de falta d’água na Brasilândia, a Sabesp disse que que realizará vistoria nos imóveis. Com relação à Paraisópolis, afirmou que distribuiu 1.200 caixas d’água para os moradores da favela.
Segundo a Sabesp, como consequência da quarentena, houve um aumento de 6% na demanda por água na Grande São Paulo em março deste ano, em relação a março do ano passado.
Para manter o abastecimento, a companhia disse que está readequando os parâmetros técnicos da gestão da demanda.