Descrição de chapéu Editorial

Mais médicos (e mais presentes)

Alta rotatividade de profissionais é acompanha da insuficiência

Uma pesquisa da USP traduziu em números o que moradores da periferia de São Paulo conhecem bem: a alta rotatividade de médicos nas unidades públicas de saúde, quase sempre acompanhada da insuficiência de profissionais.

O médico cubano Michael Saavedra, em seu último dia na UBS do Jardim Eufrásio, em Embu das Artes - Marlene Bergamo/Folhapress

O estudo revela que quase metade (45%) dos médicos que atuam em unidades básicas de saúde da zona leste deixa o emprego já no primeiro ano. A maioria é recém-formada e sem especialização. 

Os motivos são vários: longas distâncias, trânsito, pobreza, violência e más condições de trabalho. Também é difícil conciliar o emprego com os estudos, e muitos são seduzidos por salários melhores, oferecidos pela rede privada.

“Imagine se todo ano uma empresa demitisse e contratasse 50% do seu pessoal?”, compara um professor de medicina, dando a dimensão do desafio.

Além do prejuízo com o dinheiro público, a troca de médicos sobrecarrega a equipe que fica, reduz a eficácia e prejudica o cuidado dos mais necessitados.

Há, porém, saídas para amenizar o problema. Uma delas é a valorização da residência em medicina da família e da equipe que atua na chamada atenção primária, como já acontece em Florianópolis (SC). Seria uma forma de evitar a saída precoce desses profissionais, cobiçados pelos planos de saúde.

O programa Médicos pelo Brasil, criado pelo governo Jair Bolsonaro para substituir o Mais Médicos, quer levar 18 mil profissionais a postos de difícil preenchimento, mas empacou no Congresso.

Também já se pensou em fazer com que os formados em universidades públicas atendessem, por um certo período, populações carentes. Seria uma forma de devolver à sociedade o investimento depositado em suas carreiras.

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