Como pagar a conta da crise

A crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus deverá ser uma das maiores da história, no mundo e no Brasil. Com tanta gente sem sair de casa para evitar o contágio, a renda das famílias vai despencar.

Numa situação assim, o governo precisa gastar --e muito. Não há outro jeito de proteger empregos e amparar os mais vulneráveis. Por isso, medidas como o pagamento de R$ 600 mensais por três meses a trabalhadores de baixa renda vão na direção correta.

Mas não dá para esquecer que toda essa grana precisa sair de algum lugar. No caso, ela vai ser obtida com empréstimos, e essa dívida vai ter de ser paga depois. As autoridades responsáveis têm de pensar nisso desde já, ou toda a população vai ser prejudicada no futuro.

Em primeiro lugar, as despesas criadas agora devem ser temporárias, com duração limitada ao período de crise. Superadas a epidemia e a recessão, o Orçamento deve voltar ao normal.

Segundo, a conta do aumento da dívida do governo não pode recair sobre os mais pobres. Nada de prejudicar a educação, a saúde e a segurança pública.

Se for preciso mais arrecadação, um caminho é aumentar o Imposto de Renda dos que ganham mais. A alíquota máxima do Brasil, de 27,5%, é baixa para os padrões internacionais. A maioria dos países cobra 35% ou mais.

Privilégios às custas do contribuinte precisam ser cortados. Já passa da hora, por exemplo, de fazer valer de verdade o teto salarial do serviço público. Vender empresas estatais é outra opção.

O Brasil, que nem se recuperou ainda da última recessão, vai sair mais pobre desta crise. Vai ser preciso tomar as decisões certas tanto agora como depois.

Funcionários da fábrica da Nestlé em Araras (168 km de SP) descansam após almoço, respeitando distância entre si por marcação nos bancos - Eduardo Knapp/Folhapress

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