Descrição de chapéu Opinião

Luís Marcelo Castro: A odisseia do Fefecê

Da iminente desistência às quartas de final. A saga do Fernandópolis na “Bezinha” do Campeonato Paulista, o equivalente à quarta divisão estadual, é digna de filme, com drama, ação, trama policial, suspense etc. –e nada de ficção.

Desde o melancólico rebaixamento na Série A-3 em 2016, com duas vitórias em 18 jogos (a última rodada não foi disputada por falta de jogadores) e a exclusão da última divisão em 2017, por falta de estádio, o Fefecê tenta se reerguer.

Equipe do Fernandópolis, o Fefecê, que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Paulista
Equipe do Fernandópolis, o Fefecê, que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Paulista - 22.jun.19/Facebook de @fernandopolisfc

O início da edição atual parecia promissor para a equipe azul. A única derrota nos 12 jogos da primeira fase veio em um WO, após o ônibus do time quebrar a caminho de Tupã e apenas cinco atletas conseguirem chegar ao estádio rival.

Um deles era o atacante Murilo. Campeão de tudo na base do São Paulo, aos 21 anos, ele dá uma lição de superação após quase desistir do futebol. Desde os 18 anos, quando teve o joelho direito operado, ele conviveu com dores e passou mais tempo parado que nos gramados. Em sua cidade, ao lado da família, recuperou a alegria de jogar e se livrou das lesões: é o artilheiro do campeonato, com 15 gols, e atravessa a melhor fase de uma promissora carreira.

Apesar da liderança da chave assegurada, a crise financeira que tanto assombra os clubes das divisões menores ameaçou o futuro da equipe na Segunda Divisão. Com salários atrasados, falta de apoio, renda bloqueada e até greve de treino, o que gerou atrito com o presidente e fez a polícia ser chamada para conter os ânimos, o Fernandópolis ameaçou abandonar o campeonato. Mas desistiu.

Na segunda fase, foram mais seis jogos sem derrotas. E mais um mês sem receber. E mais uma paralisação nos treinamentos, o que levou os dirigentes a rifarem uma moto, na última rodada, para arrecadar dinheiro. Diferentemente do que acontece em 99% dos clubes, a crise não atrapalhou o rendimento em campo e a Águia decidiu seguir em frente.

A bagunça extracampo piorou na terceira fase. A luz do estádio Cláudio Rodante foi cortada por falta de pagamento. O presidente e o vice foram presos pela Polícia Federal de Jales em uma operação que investiga fraudes na concessão do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e venda de vagas em uma faculdade de Fernandópolis. Sem comando e sem grana, o caminho mais provável era a desistência.

Contra todos os prognósticos, porém, a primeira derrota em campo só aconteceu na 21ª partida na Segundona, insuficiente para abalar os ânimos da Águia, que já garantiu vaga, entre os oito melhores, no mata-mata.

Após um torneio tão angustiante, ainda falta o acesso à Série A-3 para que os heróis do Fernandópolis encerrem essa épica jornada com um final feliz.

Assuntos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.