Crianças realizam o sonho de entrar em campo com os ídolos

Saiba quais requisitos é preciso para desfilar no gramado com os jogadores do seu clube do coração

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São Paulo

Já é tradição assistir a partidas de futebol nas quais pequenos torcedores entram em campo e desfilam pelo gramado acompanhados dos jogadores de seus times do coração. 

A iniciativa simpática começou no Brasil na década de 1970 com Ronan Ramos Oliveira, diretor de relações públicas do Clube Atlético Mineiro. O objetivo era atrair mais famílias aos estádios em dias de jogos --só que com um adendo: as crianças deveriam ser parecidas com os respectivos atletas aos quais dariam as mãos. 

Pequenos corintianos acompanham seus ídolos para um jogo contra o Bahia, na Arena de Itaquera, em duelo pelo Brasileiro
Pequenos corintianos acompanham seus ídolos para um jogo contra o Bahia, na Arena de Itaquera, em duelo pelo Brasileiro - Daniel Augusto Jr. - 21.set.19/Ag. Corinthians

Logo, todos os clubes brasileiros passaram a adaptar a ideia ao seu próprio público. Há mais de 40 anos, os menores apaixonados por esporte desejam caminhar lado a lado com seus ídolos antes de um dia importante no futebol.

O problema é que a quantidade de interessados supera em muito a capacidade de cada equipe. Assim, nem todos conseguem realizar o sonho. E mesmo os que conseguem, têm, normalmente, de entrar em uma lista de espera e torcer para que, quando for chamado, ainda tenha os requisitos para participar do evento. Pois a entrada não é livre para qualquer interessado. Há regras e limites determinados tanto pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) quanto pela FPF (Federação Paulista) [confira na arte abaixo].

Mas, de acordo com os que seguraram a mão de um ídolo, a espera vale a pena, pois a sensação de realização fica na memória para sempre. Uma dessas sortudas é a corintiana Mariana Cardenes. Mas outros, como Lucca e Matheus, ainda esperam a sua vez. 

Após seis anos, corintiana ainda se recorda com emoção

Quando perguntam para Mariana Nogueira Cardenes, de 17 anos, sobre um dos dias mais felizes da vida dela, a resposta vem facilmente. Um em que o Corinthians enfrentou o São Bernardo pelo Paulistão, em abril de 2013. À época com 10 anos, a menina entrou no campo do Pacaembu de mãos dadas com o lateral Fábio Santos e realizou um sonho antigo de pisar no estádio antes de uma partida oficial acompanhada de um atleta.

Mariana entra em campo segurando a mão do lateral Fábio Santos e depois comemorando na arquibancada: o dia que não sai da memória dela
Mariana entra em campo segurando a mão do lateral Fábio Santos e depois comemorando na arquibancada: o dia que não sai da memória dela - Arquivo Pessoal

Mari tem síndrome de Williams, uma doença genética que afeta principalmente o desenvolvimento motor, como a coordenação e o equilíbrio.

Dona de uma coleção invejável de camisas alvinegras, como a do centenário toda autografada, ela mora atualmente nos EUA e relembra aquele domingo mais de seis anos atrás. 

"Achei que eu não fosse conseguir entrar de tão nervosa que eu estava, mas entrei. Quando acabou eu não aguentei, fui lá com minha mãe e chorei demais! Era meu sonho. Meu sonho de ver meu time, os jogadores, eu realizei. Foi uma experiência incrível, um dos melhores dias da minha vida!"

A jovem é mineira, mas se mudou com a família para São Paulo aos 6 anos. Seu irmão passou a treinar natação no Parque São Jorge e foi aí que uma paixão de longa data começou.

Depois de muito ouvi-la falando do sonho, um amigo da família, que era gandula, ajudou a organizar e entrada no Pacaembu.

A mãe, Carla Cardenes, relembra a ansiedade da filha nos dias anteriores: "Foi a coisa mais bonita de ver a emoção dela. Ela nem dormiu a noite anterior toda, não falava de nada além disso. Ficou a semana inteira comentando com todo mundo que ia para o jogo!"

Toda vez que a família volta ao Brasil, faz questão de passar na casa corintiana para agradar a Mari.

Enquanto o seu dia não chega, dupla 'treina' na sala de casa

São quatro da tarde de um domingo e Lucca Pietro, de 6 anos, está de meião, camisa, calção e chuteira na sala de sua casa para assistir à partida do seu time, o Palmeiras. Ao lado, seu tio, Matheus, de 7 anos, faz o mesmo. Só que com o uniforme do Corinthians! O jogo vai começar e, embora as torcidas sejam opostas, em comum os dois têm um sonho: entrar em campo com os jogadores.

Lucca (à esq.) e Matheus estão prontos para quando chegar sua vez de entrar em campo
Lucca (à esq.) e Matheus estão prontos para quando chegar sua vez de entrar em campo - Arquivo Pessoal

O palmeirense já chegou perto, entrou no aquecimento com o time, mas não chegou a estar no gramado na hora do hino. A mãe, Marcella Azevedo, de 25 anos, conta que já ouve faz tempo os pedidos do filho: "Para entrar tem que ter uma pontuação, é um pouco burocrático, por isso nunca consegui levá-lo. Mas toda vez que vamos a um jogo ele começa, é alucinado: 'Mãe, por favor, quero entrar!' Mas aí eu dou uma desconversada porque realmente ainda não rolou", lamenta.

A dupla já está acostumada a frequentar estádios com a família, mas nunca conseguiu via sócio-torcedor o tão aguardado encontro com os atletas.

Apesar de a ordem dos jogadores e crianças ser definida apenas no túnel, já no caminho para o gramado, os meninos sonham:

Lucca, com a caminhada ao lado do atacante alviverde Dudu, e Matheus, com Cássio, goleiro ídolo dos corintianos. Os dois já receberam vídeos dos atletas e explodiram em felicidade.

"Meu filho vai para o estádio desde que tinha 8 meses de idade. Meu irmão é alucinado pelo Cássio e já o gravou mandando um 'oi', e o pequeno ficou enlouquecido, dizendo que o jogador é seu amigo!", conta Marcella. "O mais legal é ver que cada um tem uma paixão, torce por times rivais, mas se respeitam e têm essa vontade em comum de ficar bem pertinho dos ídolos", completa a mãe de Lucca.

Arte Agora

Clubes ingleses cobram fortuna pelo serviço

Se no Brasil os clubes não cobram para crianças entrarem em campo, na Inglaterra alguns pedem uma pequena fortuna. Na verdade, Arsenal, Chelsea, Fulham, Huddersfield, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Newcastle United e Southampton nada cobram, mas os demais, sim. 

A maior taxa é a do Everton, que pede 718 libras (R$ 3.245,50) pelo serviço, que tem kit completo de uniforme, ingresso, autógrafos, fotos e almoço. O West Ham vem a seguir com 700 libras (R$ 3.164,16) e Leicester, 600 libras (R$ 2.712,14).

Confira quanto os outros clubes cobram:

Everton – 718 libras (R$ 3.245,50)
West Ham – 700 libras (R$ 3.164,16)
Leicester City – 600 libras (R$ 2.712,14)
Tottenham Hotspur – 405 libras (R$ 1.830,69)
Wolves – 395 libras (R$ 1.785,49)
Crystal Palace – 375 libras (R$ 1.695,09)
Brighton – 350 libras (R$ 1.582,08)
Burnley – 300 libras (R$ 1.356,07)
Cardiff City – 255 libras (R$ 1.152,66)
Watford – 250 libras (R$ 1.130,06)
Bournemouth – 185 libras (sem ingresso) (R$ 836,24)

Fonte: BBC

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