Descrição de chapéu Opinião

Caneladas do Vitão: Fla-Flu

São Paulo

Nada é perfeito. “O erro da ditadura foi torturar e não matar.” Mesmo erro do massacre do Carandiru. “Morreram poucos. A PM tinha que ter matado 1.000.”

Quem sobreviveu reclama de barriga cheia. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora passar fome, não. Você não vê gente pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países por aí.” Quilombola? “O afrodescendente mais leve lá [Eldorado-SP] pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais.”

Mas sempre tem os chatos. “A questão ambiental só importa aos veganos que só comem vegetais.”

charge da coluna caneladas do vitão de 11 de julho
Cláudio Oliveira

Democracia é atraso de vida. “Por meio do voto você não vai mudar nada nesse país, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, se um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil, começando com o FHC, não deixar para fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.”

“E daí?”

“Vamos fuzilar a petralhada!”

Quem quiser viver que reze na cartilha. “Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem.”

Por bem ou por mal. “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro e muda o comportamento. Tá certo?” Homofobia? “Não existe no Brasil. A maioria dos que morrem, 90% dos homossexuais que morrem, morrem em locais de consumo de drogas, de prostituição ou executado pelo parceiro.”

Como o futebol imita o pior da vida, tivemos o Fla-Flu de narração única. Absurdo? O que é normal em um país em que se joga futebol anexo a hospital de campanha, para um público de cadáveres?

O Rio de Janeiro continua lindo, o Rio de Janeiro continua sendo capital do melhor e do pior do Brasil. Depois do futebol com torcida única, inovamos com o Fla-Flu do time único na narração clubística.

Todo mundo junto e misturado, sem máscaras, só na Mureta da Urca. Ou em bar frequentado por “cidadão, não, engenheiro civil”.

Sou jornalista diplomado pós-graduado em Português, Língua e Literatura pela Universidade Metodista de São Paulo. E cidadão do tipo que não mente no currículo lattes. Se eu fosse corinthiano, maloqueiro e sofredor, graças a são Jorge, teria 818 mil críticas à gestão atual e às antecessoras alvinegras, mas também teria muito orgulho da Democracia Corinthiana e do time do povo, institucionalmente, não emprestar a sua popularidade a um desgoverno abjeto, irresponsável e que manda um “e daí?!” para dezenas de milhares de mortos. Essa vergonha eu não carrego, talkey?

Viva a memória!

Vladimir Herzog: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra os outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”.

Vitor Guedes
Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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