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Caneladas do Vitão: Pitada de saudade

História de torcedor

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São Paulo

Anos 80. Lembrança de criança. São Paulo. Minha terra tem Palmeiras. Craques em bonança. Infância. Idos em que ver jogo de rival era mais que legal, supernormal.

Ah, que saudade do antigo normal. Do velho Pacaembu. Aglomeração. No meio campo alviverde. Melhor para Pita. Dizem que o 10 tricolor era lento.

Na minha memória, há 35 anos e meio ele está em câ-me-ra len-ta, pé colado na bola, fintando com plasticidade, ritmo e objetividade quase inverossímeis. Valsa simples que dialoga com a incredulidade estéril adversária de forma coreografada.

Paulinho, Paulo Roberto, Rocha e Maxwell, hipnotizados por Pita, vencidos. Um a um, cada um com direito a seu close antagonista. A len-ti-dão de Pita é cruel. Dá tempo de o adversário fintado voltar e correr para assistir à continuidade da obra.

Segue a cena. À Carruagens de Fogo. Sabe-se que a bola irá cruzar a linha, mas a beleza, a arte, a emoção estão nos olhares adversários tentando impedir o inevitável. O zebrado Leão é a última barreira. O canhoto Pita segue o ziguezaguear do balé e, com o goleiro estirado no chão, rola macio de direita. Vagner, de frente para a praça Charles Miller, corre em direção à própria meta. É quem chega mais perto para ver a bola ultrapassar a linha. Aplausos inclusive do lado verde da arquibancada.

Golaço não valeu o clássico. Teve muito mais naquele 16 de marços de 1985. 1 a 1. 3 a 1 São Paulo. 3 a 3. 4 a 3 para o São Paulo. O Palmeiras jamais lidera a marcha da contagem. E, já no finalzinho, vê Careca ajeitar a bola na marca da cal e desperdiçar o pênalti que seria o 5 a 3 ao carimbar a trave de Leão.

A esperança é verde! Nos acréscimos, o lateral Ditinho, talvez o menos técnico dos 22 jogadores no gramado, vai à rede de Barbirotto: 4 a 4.

Ninguém nunca mais esqueceria a pintura de Pita. Nem o próprio 10, que sai furioso do gramado com o empate cedido.

Anos 80. De um lado, Müller e Careca seria a dupla de ataque verde-amarela das duas próximas Copas.

Tinha tanto craque, por aqui, que Pita nem sequer foi ao México-86. Como foi como segundo reserva Leão. Mas não foram Jorginho e Mendonça. Que jogavam o fino.

Hoje 4 x 4 é tração. No futebol, a atração é outra. Tática. Evolução?! Palpite para logo mais no Choque-Rei do Allianz? 0 a 0.

*

Cecília Meireles: "Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante pra vida inteira".

Vitor Guedes
Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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