Papel embrulha pedra. Que amassa tesoura. Que corta papel. Valores coletivos, convenções sociais, pesos iguais.
A força do homem depende do outro. O mesmo vale para a mulher. Que vale tanto quanto o homem. Perder ou ganhar, depende do olhar, da composição, da coragem de arriscar, de amar.
No joquempô da vida, Margarida Ojeda era foice, martelo e papel. Canhota de alma operária, a dona de casa ganhou na garra, perdeu na luta, empatou no grito, mas nunca mudou de lado. Na urna, olê, olê, olá, esquerda, esquerda, muito antes da fundação do Partido dos Trabalhadores; na arquibancada, leleô, leleô, leleô, Timão! Amor vivido e cantado até a morte, aos corinthianíssimos 77, em 2019.
Margarida floresceu em 1941. No Brás. A um oceano de distância do nazismo e do fascismo. Distância que a ateia manteve, graças a Deus, durante toda a sua vida. Do centro à periferia, na guerra diária contra a desigualdade e o machismo, expandiu seus valores à Freguesia do Ó. Onde construiu seu norte e finalizou sua morada neste plano, sem perder a ternura, jamais.
Como herança nunca foi exclusividade de capitalistas selvagens, a humanista passou os valores do socialismo e do corinthianismo aos filhos Marcelo e Alexandre. Que repassaram aos netos Marina e Renato.
Fã de Rosa, Margarida vibrou com Luxemburgo. Comandante do melhor Timão que viu, que, em 1998, ganhou o Brasil. Mas o grande time da sua vida foi a histórica Democracia Corinthiana capitaneada por Sócrates.
Torcedora de campo, de rádio e, como toda leitora voraz, torcedora-cidadã de jornal. Mãe, avó e também irmã. Mana, corinthiana, jogou vários recortes de jornal previamente selecionados e deu na canela:
"Carlos, você tem que parar com essa bobagem de se recusar a ler tudo que é da grande imprensa capitalista. Você tem que ler esse Vitão, do Agora. Esse menino tem substância, corinthianismo e acho que ele é de esquerda porque sempre defende o lado do trabalhador".
Hierarquia é hierarquia, companheiro! O irmão relutou muito até ceder ao pedido da irmã mais velha. E, interrompendo anos de boicote à "grande mídia golpista e capitalista", leu Caneladas do Vitão. E virou leitor diário após a morte de Margarida.
É nóis, Nena! Sejamos nós que conquistemos! Reflorescemos!
Rosa Luxemburgo: "Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres".
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