Você lerá no Agora, nos próximos dias, um texto sobre o circo que foi a Copa João Havelange, há 20 anos. Os detalhes sórdidos ficam para a reportagem, mas recordemos brevemente aquele torneio, que beirou a tragédia e deixou sequelas no futebol nacional.
Com a CBF em dificuldades jurídicas, ficou a cargo do Clube dos 13 a organização do Campeonato Brasileiro, batizado com o nome de Havelange. Nasceu uma aberração de 116 times, com quatro módulos e um regulamento esdrúxulo.
O São Caetano saiu do módulo amarelo, espécie de segunda divisão, e foi surpreendendo favoritos até chegar à decisão contra o Vasco. Aí, o alambrado de São Januário caiu, mais de 200 pessoas ficaram feridas —milagrosamente, sem mortes ou sequelas físicas graves—, e nossos cartolas mostraram suas faces.
Enquanto pessoas choravam no gramado e helicópteros pousavam no campo para resgatar machucados, Eurico Miranda, dirigente do Vasco, tentava tirar aquela gente inconveniente dali.
“Vem cá, meu filho, vai para lá”, disse a um garotinho desorientado e sentado no terreno de jogo. “Se você pode andar, cai fora. Quem manda aqui sou eu”, berrava, possesso, a todos.
Apesar do esforço de Miranda e de Caixa D’Água, outro notório cartola carioca que tentava limpar o gramado, o jogo daquele 30 de dezembro foi interrompido. Nova partida foi marcada para 18 de janeiro, e o Vasco levantou o troféu.
Bizarro do início ao fim, aquele torneio teve influência palpável nas mudanças que ocorreriam nos anos subsequentes. Na maior delas, em 2003, o Brasileiro passou a ser disputado no sistema de pontos corridos.
Como piorar não era possível após o fracasso retumbante da João Havelange, a previsibilidade que ganhou o calendário trouxe benefícios, mas houve também um preço alto. Até hoje, temos de engolir um campeonato quase sempre chato, cansativo, e perdemos o sempre emocionante momento da decisão nacional.
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