Cadê o campinho de várzea que estava aqui?
O poder público cedeu, a especulação imobiliária comeu, o intermediário mordeu.
Cadê os meninos que jogavam bola ali antes do gramado virar um shopping? Foram bolar, fumar um no mato.
Cadê o mato? Botaram fogo igual o agronegócio fez no Pantanal e os madeireiros fizeram na Amazônia.
Cadê o fogo? Foi apagado pelos bois bombeiros com a água comprada mais cara na companhia recém-privatizada.
Cadê a água? O dono do boi bebeu, a empresa contratada para distribuir a água desviou e distribuiu entre os seus.
Cadê a empresa da água? Sumiu igual a energia no Amapá, mudou de ramo e está lucrando com o aumento do preço do trigo por causa da seca provocada pelo repentino sumiço da água.
Cadê o trigo?
A mulher do prefeito vendeu. O trigo. E vendeu também a piscina que fazia parte do complexo da plantação, mas ficou de fora do noticiário, concentrado na demolição do ginásio.
Cadê a perua, digo, a mulher do prefeito?
Foi comprar ovo.
Cadê o ovo?
O líder religioso comeu.
Cadê o religioso?
Está recolhendo doações, no crédito, no débito e em espécie, no antigo complexo esportivo transformado em igreja. Dinheiro que será doado para comprar outro campo, ou teatro, e transformá-lo em outra igreja.
O povo não sabe, da missa, a metade. Quem sabe é quem fica com a sua parte, à parte.
Democratizar espaços públicos para que atenda aos interesses da população custa caro. O barato, de quem pode, é lucrar atendendo aos interesses privados de quem vive falando mal do estado para depreciar o preço do negócio. Ora, o Anhembi é o norte. Outrora, quem sabe Interlagos é o negócio da hora.
Pacaembu? Teu...
Complexo é o Ibirapuera. A estratégia é simples. Esporte é saúde. Saúde financeira de quem vive de gritar contra o estado. Para lucrar repassando aos sócios da iniciativa privada. Menos estado é coisa de liberal ultrapassado. Agora é menos estádios, menos ginásios, menos escolas, menos teatros.
Não é à toa que a abertura de shoppings antecedeu a dos parques na pandemia. É a ciência! Ciência econômica, estúpido!
Gabriel García Márquez: "Dou valor às coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam".
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