O aposentado acaba de receber a carta do INSS informando a concessão do benefício e agentes de crédito de bancos e financeiras já ligam oferecendo um empréstimo consignado.
Além de a prática ser abusiva, o telefonema, ou a mensagem de texto, pode ser de um criminoso, que vai deixar a vítima sem a grana emprestada e com dezenas de parcelas a serem pagas.
O vazamento de dados dos aposentados do INSS já é motivo de ações contra o INSS e o Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social).
No dia 24 de junho, o Instituto Defesa Coletiva entrou com ação civil pública contra os órgãos federais alegando violação à Lei Geral de Proteção de Dados. Em sua petição, o instituto diz que houve omissão na aplicação de normas que impeçam os bancos de praticarem contratações fraudulentas nos consignados.
A ação pede indenização por dano moral coletivo e mudança na estrutura de concessão do consignado.
Em Pernambuco, a 14ª Vara Federal condenou o INSS e um banco por dano moral de R$ 5.000. O aposentado foi vítima do mais novo golpe envolvendo consignado. Neste, o valor é depositado na conta do aposentado, sem ter sido solicitado, e as parcelas mensais são descontadas do benefício.
Ao aplicar esse golpe, os criminosos usam os dados do segurado e ficam com as comissões que são pagas sobre a transação de concessão do empréstimo.
Para o advogado Rômulo Saraiva, que defendeu a vítima, é preciso monitorar o pagamento do benefício com frequência. "Há uma certa tolerância por parte de certos bancos em encarar o problema. Eles têm como mapear essas fraudes", afirma Saraiva.
Procurados pela reportagem, INSS e Dataprev informaram que ainda não foram notificados da ação civil pública do instituto.
Conheça os principais golpes
CONSIGNADO EM NOME DO APOSENTADO
- É o golpe mais conhecido: o criminoso obtém dados como nome completo, CPF e número do benefício e faz empréstimo no nome do segurado
- Em seguida, saca o dinheiro e deixa as parcelas para a vítima pagar, com o desconto sendo feito mensalmente no benefício
DEPÓSITO DE DINHEIRO NÃO SOLICITADO
- Golpe mais recente, mas que tem se tornado muito comum
- O golpista se passa pela vítima, adquire o crédito consignado e deixa o dinheiro na conta do aposentado, que arcará com as parcelas mensais
- Apesar de menos lucrativa, a sutileza desta nova artimanha está em quem se beneficia: corretores, correspondentes bancários e operadores que ganham comissionamento com cada transação
DEPÓSITO DE GRANA NA “CONTA” COM PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DOS VALORES
- Esse tipo de golpe atinge segurados que já têm empréstimo consignado em andamento
- O golpista, geralmente um agente de crédito, oferece a possibilidade de quitação de empréstimos antigos, por meio da portabilidade da dívida
- Ele ainda garante o refinanciamento do empréstimo e promete um valor adicional ao aposentado
- O criminoso realiza a portabilidade para a nova instituição
- Depois, entra em contato com o aposentado e diz que, para concluir a portabilidade, precisa seja transferido um valor para o banco que vai ficar com a dívida refinanciada
- O aposentado faz a transferência, mas a conta de destino é do consultor financeiro envolvido na fraude
- A portabilidade da dívida é efetivada, pois não dependia desta transferência
- O fraudador também desvia o consignado que o aposentado receberia e recebe a comissão por intermediar o empréstimo
LIBERAÇÃO DE CONSIGNADO MEDIANTE DEPÓSITO
- Um falso agente de crédito oferece um consignado, geralmente com taxas atrativas, e pede o depósito de um valor antecipado para concluir a transação
- O aposentado deposita a quantia na conta indicada pelo golpista, mas acaba não recebendo empréstimo algum nem conseguindo o depósito de “adiantamento” de volta
- Assim que recebe o valor do beneficiário, o golpista desaparece
- Esse golpe é muito comum por meio de mensagens de texto no celular
O que fazer se cair num golpe
1º Passo: Faça um boletim de ocorrência na polícia
- A medida irá documentar que há alguém ilicitamente se passando pelo aposentado e obtendo vantagens financeiras
- O boletim será a base para a conclusão das providências administrativas e judiciais que o aposentado ou o pensionistas precisará tomar
- É possível registrar o BO pelo site https://delegaciavirtual.sinesp.gov.br/portal/home. Basta clicar no seu estado e seguir as orientações
- Em São Paulo, acesse https://www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/ssp-de-cidadao/home
- Será preciso informar CPF, um email, número de telefone, endereço de residência e informar os dados referentes ao ocorrido
- O BO eletrônico possui o mesmo valor que o boletim registrado diretamente em uma delegacia
2º Passo: Procure o banco
- O banco onde o segurado recebe o benefício é o responsável por zelar pelas informações sigilosas do beneficiário
- Por isso, é para o banco que o cidadão deverá pedir o cancelamento da operação fraudulenta e o ressarcimento dos valores já descontados
- Caso não tenha, o aposentado deve solicitar ao banco o contrato do empréstimo para checar as irregularidades
3º Passo: Peça o bloqueio ao INSS
- Pelo Meu INSS o aposentado pode solicitar o bloqueio de empréstimos para evitar que novos contratos fraudulentos sejam feitos
- Digite no campo de busca “Bloqueio” e clique na opção “Bloqueio/Desbloqueio de Benefício para Empréstimo”
4º Procure a Justiça
Caso o banco se recuse a cancelar o empréstimo indevido, o aposentado pode buscar o Judiciário
- Se o processo for apenas contra o banco, é possível acionar o Juizado Estadual ou o Judiciário Federal
- Se decidir processar o banco e o INSS, o aposentado deve ir ao Judiciário Federal
Atenção!
O banco não irá pagar dano moral. Se condenado, ele irá desfazer o empréstimo
Para ações menores do que 20 salários mínimos (R$ 22 mil, em 2021) não há necessidade de advogado, mas é recomendável contar com a ajuda do profissional para ter mais chance no processo
Como comprovar que não fez o empréstimo
SE NÃO RECEBEU A GRANA
Apresente o extrato bancário da conta onde o empréstimo deveria ter sido depositado e mostre que não consta o valor
SE RECEBEU A GRANA SEM TER SOLICITADO O EMPRÉSTIMO
Peça ao banco o contrato do empréstimo e verifique:
- Número do CPF
- Nome do segurado
- Nome da mãe
- Número do RG
- Juntada de documentos pessoais
- Autorização assinada pelo segurado
- Assinatura do contrato
Geralmente, um ou mais desses dados estão errados, denunciando a falsificação
Se o banco não fornecer o contrato, apesar de ser obrigado por lei, solicite ao Banco Central - Atendimento: 145 (custo de ligação local)
FIQUE ATENTO!
- Consulte mensalmente o Meu INSS (site ou aplicativo), na opção “Extrato de Pagamento”
- A consulta permite verificar se há valores sendo descontados mensalmente do benefício para o pagamento de empréstimos ou se houve um crédito desconhecido
- No caso do empréstimo consignado há um relatório específico. Ele pode ser acessado clicando em “Extrato de Empréstimo Consignado”
Fontes: INSS, advogado Rômulo Saraiva, Febraban
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